terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A saga de Jung: Eu,o pessoal do IGP, o elevador sem gravidade e o garoto paisagem...

No capítulo seguinte estava eu tentando sair do prédio de vinte andares pelo elevador, declinei da janela para o mar e para o vigésimo andar. Neste capitulo tudo ficou cinza, para não dizer que perdeu a cor. O carpete ainda estava lá e o salão de festas ficou reduzido a um apartamento duplo de hotel que havia sido invadido por todos os funcionários do Instituto Geral de Perícias em dia de confraternização. Eu não saberia explicar como eles chegaram lá. Perdi esta parte! Enfim, quando percebi que a festa estava pegando fogo e que aquele povo estranho estava todo lá e pior, não haviam trazido minha nova RG, que eu já fiz uma semana atrás, resolvi cair fora.
Muito bem, o elevador não tinha números nas teclas. Estranho. Jung?
Havia uma tecla com tour completo(conceito), outra tecla era em branco, uma terceira dizia inteira e finalmente uma tecla em branco maior que levava de volta ao mesmo andar.
Eu não sei porque eu tenho fixação com elevadores que ficam voltando para o mesmo lugar.
O que eu sei é que eu não achei mais o José Mayer. Estavamos eu e um garoto gordinho de franja no elevador. O garoto não falava. Acho que não ia para lugar algum. Estava apenas ali, de paisagem. Apertei na tecla tour completo sem querer. Afinal eu não entendia a linguagem das teclas. Como sou uma desastrada, é natural que isto tenha acontecido.
Bom, o elevador supersônico começou a se deslocar em uma velocidade absurda. A subir e subir ...Entrei em pânico. Eu só queria ir para casa , pegar meu RG e seguir meus planos.
Houve um momento que sumiu a gravidade e começei a flutuar. O garoto paisagem, obviamente, continuou ali com os pés no chão. Que medo!
Eu flutuando achei um compartimento secreto na parte superior do elevador. Era uma repartição em MDF que dava para dentro de uma caixa de papelão.
Finalmente cheguei ao térreo que em nada lembraria o saguão de um hotel. Acho que parei na 25 de Março. Que escândalo! Indecoroso! Uma Incitação.
Carl Jung valei-me!!
Finalmente a moça do INSS veio me salvar:
- Trimmmm!
-Alô!
-Quem fala?
-É 32....!
- Eu queria falar com a Melinda?!
- É ela!
- Aqui é a moça do INSS, eu estava procurando uma cópia da sua RG. Será que tu poderias me trazer um xeróx para anexar ao processo?
- Claro! Pode ser carteira de motorista?
- Se estiver atualizada?
- Ok! Obrigada!
- Obrigada!
Ufaaa!!!

NÃO é o que não pode ser...que não é o que não pode ser...que não É!

Quando eu te escutei, curto e grosso, não imaginei o impacto que provocarias em minha vida. Fiquei pensando como algo tão pequeno e limitante pode gerar tanto estrago. Eu sei que as minhas limitações não são poucas e confesso que tenho um problema pessoal contigo. Nunca consegui lidar com tranquilidade nas questões que te envolvem. Sempre que preciso decidir um impasse no qual estejas presente, fico neutralizada. Paraliso. Me magoas e ponto.
Desde cedo eu te conheço. Sempre fizeste parte de tudo. Acho até que tens importância no final das contas. Mas machucas . Bordão repetido em cada verso salteado.Penso que nosso primeiro encontro foi por minha conta. Eu te proclamei contra mim. Ali inesperadamente. Mas a verdade é que não sou sincera. Não te engulo! Não sossego! Queria te arrancar da minha linguagem corrompida.
Uma afazia, é o que és para mim. Suspensão. Ausência.
Minha aparente resignação não é senão a sinalização da minha ira.
Te repetes, sem criatividade, nem razão. Não te sustentas Não!
Enfim, o Arnaldo Antunes te cantou muito bem:
"Não é o que não pode.
Ser que não é!
Não é o que não pode ser
que não é o que não pode ser
que não é o que não pode ser
que não é!"

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Jose Mayer,Balões hot-dog e a CIA

Enquanto eu retirava um cílio do olho direito do José Mayer e observava que ele tinha cabelos grisalhos precisando ser retocados e que era mais interessante do que o José Mayer, até porque não era o José Mayer, a minha melhor amiga me comunicava que a minha casa estaria, a partir dali, sob vigilância da CIA (Central Intelligence Agency), via satélite, obviamente. Isto por conta das células fotovoltaicas de energia que eu havia instalado em minha casa.
Eu refutava, explicando que não havia como um satélite captar o que acontecia dentro da minha casa nem com todo sensoriamento remoto do escambau e ela rebatia dizendo que haveriam vários pontos de raios catódicos infravermelhos inseridos em meu jardim que enviariam sinais ao satélite.
Observe-se que para um rompante psicopata jamesbondeano, minha casa não tem jardim. Eu também não uso energia solar.
Então Jung, me explique agora, por que usar de subterfúgios tão amadores, postiços e inconsistentes para enviar mensagens subliminares nada subliminares. Eu também não sou fã do José Mayer.
Em outro compartimento paralelo , diga-se um salão amplo, uma ex-colega de trabalho comprava para me presentear, vários balões em forma de hot dogs na cor roxa.
O estranho é que ela experimentava os balões hot dog, todos enfeixados como uma echarpe em torno do pescoço e do corpo, como se fossem adornos. No sonho, experimentar balões hot dog era uma transgressão grave. Abaixo a repressão!
Observe-se que a loja era um salão de festas com carpete igual, tanto no piso como nas paredes ( deve ser isolamento acústico porque tínhamos que conversar com a música alta), mas com imensas janelas que (primorosamente) davam , de um lado para o mar e de outro para o vigésimo andar . Poderia me atirar no mar ou pela janela do vigésimo andar caso houvesse um ataque do tipo Armagedon.
Eu lamentava que não poderia usar os balões por causa da vigilância da CIA. Matahare ficaria roxa de inveja! É possível que a Melinda esteja fazendo esta incursão para encontrar o Jack antes que comece a nova temporada de 24 horas.
Acho que vou começar a traficar a química do meu cérebro por aí. Dá um barato viajar até as profundezas deste meu escandaloso subconsciente psicopata. Só lá é possível encontrar tantas contradições óbvias.
Uma versão moderna do AKira Kurosawa!
E ainda tem gente que acha que a gente dorme pra descansar!
Carl Jung valei-me!!
beijo terrorista
da melind@

domingo, 27 de dezembro de 2009

" O amor é lindo"




Hoje à tarde haviam dois jovens estranhos agarrados no galho de uma "Pata-de-vaca" alienígena que apareceu na área de ventilação do meu quarto.Sim eles estavam ali, as taturanas, confundindo-se com as folhas. Ficaram por horas juntinhos.
Tão peçonhentas e venenosas, estavam ali, indefesas, esquecidas.
Após longas horas de contemplação entre os espinhos dos galhos, se alimentaram, descansaram e deixaram-se sob o Sol.
Eu não pude deixar de registrar aquele momento tão romântico que não sei nem como, chamou minha atenção.
Elas estavam tão bem camufladas pelo verde que dificilmente poderiam ser percebidas. Deve ter sido sua energia vital, a hecatombe do momento que fez com que eu erguesse os olhos e me deparasse com algo incomum.Confesso que a muito custo meu cérebro começou a delinear a vida suspensa naquele galho.
Coincidentemente elas tinham cerdas que se asselhavam a um galho de pinheiro de natal. Muito interessante mesmo.Imensas e despretensiosamente lindas.
beijo selvagem
da melind@

MatrizTeaser



Tereza Salgueiro.

OKuribito

Foto de divulgação, da Web.

Ontem eu assisti a um belíssimo filme sobre respeito.Um daqueles filmes em que vamos nos apaixonando pela personagem segundo a segundo."O agente funerário" cujo título em português é " A Partida"( Departures) , é um desses filmes encantadores que nos arrancam lágrimas fáceis, mas vertidas de uma emoção e encantamento raros. Dirigido por Yojiro Takita, são 130 minutos de leveza e poesia.

Antes de mais nada os personagens são todos de uma profundidade desconcertante e o tema abordado, a morte, reverenciada no protocolo japonês, segue um rito que nos fala acima de tudo sobre respeito. Isto sem cair no lugar comum.

O personagem central é um violoncelista que após perder seu emprego volta para o interior com a esposa e vai trabalhar como agente funerário. Neste momento o filme também trata do preconceito sofrido ainda hoje pelos "burakumin"(uma segmento marginalizado), descendentes de famílias que abraçavam esta profissão( de coveiros).

O Japão é um dos países onde a modernidade facilmente se choca com a tradição. Há um descompasso entre passado e presente em recorrentes momentos.

Achei super interessante o rito do "Nokanshi" (tradição japonesa de lavar, vestir e maquiar os mortos), preparo do corpo para sua passagem desta existência, que é abordado com muita delicadeza e não exagera na licença poética. O procedimento é realizado na frente dos familiares e se equivaleria ao tamponamento, assepcia e vestimenta dos mortos feitos pelos ocidentais. O nokanshi independe de religiosidade.

Daigo, o violoncelista que vira agente funerário, é dotado de imensa sensibilidade e nos fala de pureza e grandeza , enquanto transita rumo ao encontro de si mesmo. Ele se resgata ao encontrar nesta nova atividade a nobreza e generosidade que até então não reconhecia em sua vida.

O ciclo vai se fechando, muitos gestos, olhares e exatos diálogos, precisamente encadeados.

A morte é sempre um prato cheio e ou vazio, depende da ótica. Daigo converte solenemente as dores e despedidas em uma enorme e profunda paz.


beijo apaziguado

da melind@

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Não tome um dreher.

A imagem é da Web

Havia um antigo comercial na TV, do conhaque Dreher. Em um vagão em movimento, um homem encontrava uma "bela" mulher sentada no vagão-restaurante, de costas era o tipo "avião", pra usar uma expressão adequada ao tempo. Gerava toda uma expectativa na fantasia da audiência. De repente a mulher se virava e era a versão piorada da bruxa de Blair . A proposta é essa mesmo. Tome um Dreher e a o dragão será um avião. Embriague-se, engane-se. Finja! Faça de conta! Avaliações a parte, o comercial era muito engraçado.

Por que lembrei do Dreher? Estamos vivendo um tempo inédito. Talvez inédito não seja a palavra adequada, afinal não dá para reeditar um tempo . No máximo uma releitura, um remasterizar, repaginar, revisitar. Para falar de expressões que estão na moda. Mas, em nosso atual estágio de evolução tecnológica e conhecimento metafísico, ainda não dá para retroceder no tempo ou revivê-lo.

O que eu estou querendo falar mesmo é sobre as bizarrices do nosso tempo. O bizarro de alguém não querer viver no tempo que está. No tempo biológico que está.

Esta semana eu estive um bom tempo sentada naquela terrível sala de espera de uma agência da previdência social, a fim de resolver umas questões burocráticas, por conta de uma incumbência moral que a vida me conferiu. Enfim, é uma tarefa que não cumpro com muito prazer, mas procuro fazer dela um laboratório de experiências. E lá é um local para se ver todo o gênero humano já editado. Os mais estranhos seres e casos se vê e ouve.

Estava lá eu sentada com a F-0174 em uma das mãos e um livro na outra, mas os meus olhos e ouvidos estavam atentos e muito mais interessados naquela fauna humana tão carente.

O nome do filme? Uma operadora da burocracia na vida legal de uma incapaz. Fato que por si só já é uma extravagância de boa vontade.

O tempo se arrastava e enquanto eu lia uma crônica, era o personagem de outra ou pelo menos a narradora dentro da minha mente. Procurei minha caderneta. Nada. Peguei umas notas fiscais e começei a rabiscar atrás. Viajei pelos rincões do preconceito e puxei minha orelha.

A Marta Medeiros falava sobre as avós de nosso tempo, em como se tornaram jovens e modernas . Avós que tiveram que desbravar novos desafios no prolongamento da vida. O avanço das pesquisas científicas e a medicina especializada prolongaram de tal forma a juventude que é preciso acostumar o olhar para adaptar-se.
As mulheres ganharam, em média, de dez a quinze anos de sobrevida e isto refletiu-se na aparência. Diga-se da cosmetologia ao bisturi. Da medicina preventiva aos novos conhecimentos sobre nutrição .
Nas camadas sociais mais abastadas há uma delicadeza que às vezes atenua este trânsito dos anos , mas nas mais humildes é patente o "tô nem aí". Acho que o tempo chega de repente. A brutalidade da privação não admite vacilos e como ninguém quer ser vítima da exclusão despótica dos esquecidos da modernidade, tratam logo de mudar o layout do jeito que dá.
É uma construção de estranhismos que é um estrondo, mas é um bom material para pensar na vida.
A palavra seria exagero. Uma recalcitrante negativa em aceitar o próprio tempo biológico, por mais que esteja evidente.
Por que eu falei isto? Entre os ponteiros do relógio que não se moviam e o livro que eu tentava insistentemente acompanhar, havia dois exemplos da violência contra natureza que não paravam de chamar pela minha atenção. O primeiro, uma senhora que beirava os setenta ou oitenta. Era bastante castigada pelo tempo. Carregava uma vasta cabeleira negra, longa e obviamente tingida. O manto formado pelas melenas era liso e sedoso, logicamente por conta de uma escova progressiva, definitiva ou similar. O corpo já com as formas da meia melhor idade, com o bumbum de pêra, vestia uma calça jeans adolescente e uma bata. Os lábios minguados que escondiam a prótese estavam coloridos por um batom metálico. A biologia gritava, mas não havia nenhuma harmonia . Era uma senhora de setenta e uns travestida de adolescente. Mas a juventude não está definitivamente na imagem . A juventude está por dentro.E ela portava-se garbosa. No popular "se achava". Esta mesma senhora estava com uma neta,o segundo exemplo, que por sua vez , embora portasse seus sete anos, estava travestida de mulher.
Desde o penteado até o batom, eram trejeitos de uma pequena mulher, no corpo de uma criança, com roupinhas "sedutoras".Crianças adoram imitar as mães. Isto não é nenhuma novidade, mas antes era dentro de casa, brincando com as roupas e batons da mamãe e - Que bonitinha! - diriam todos. Em nosso " Dias de dragão" esta condição foi instituída. Meninas de sete anos fazem escova no final de semana e vão à manicure. As mais desfavorecidas fazem o que podem.

E o que eu tenho com isso? Pergunto. Nada mesmo.

Fiquei tentando lembrar das minhas avós. Fiquei tentando entender o que a nossa era está fazendo com as pessoas. Que tipo de sentimento eu gostaria de gerar nas pessoas aos oitenta anos. Como eu gostaria de estar? Confesso que não é simples. Lembrei da rã do Al Gore, cozinhando na panela sem perceber. Deve ser assim. Quando chegar a perceber já está lá.
Vovôs com botox e com mechas no cabelo, músculos vestidos com pele manchada pelo tempo. É uma grande cena. Eu tive um professor que usava indumentária James Dean e seu rosto não se movia quando ele falava.
Há um certo ar de falsificação. Tudo meio postiço. Começando pela própria vida, pelos valores. Tudo um pouco incompatível. Forma e conteúdo não conseguem se reconciliar.Etapas fulminadas.
Onde mesmo estaria a placidez elegante desenhada pelo tempo em nossas vidas. São artifícios demasiado invasivos que violentam a compreensão de seu objeto.
Não quero romantizar a velhice. Claro que não. Perder a juventude não é fácil, mas também não é o fim do mundo. É preciso dirigir-se para um tempo. É preciso desvestir-se do tenro envoltório da juventude e revelar o conteúdo. Eu penso, que envelhecer é revelar, descobrir finalmente. Tirar a maquiagem. Ser o que finalmente somos .
Por alguma razão isto tudo me pareceu, como parece, antinatural.
Acho que estamos vivendo um tempo antinatural. Uma desordem onde o poder é o império da estética. Não se tem licença para abandonar a casca, a frescura , o viço.
Ainda me sinto mais confortável ao ver os olhos ternos , a expressão de paciência e sabedoria. Quero crer que ao transpor o tempo de uma longa vida uma pessoa possa permitir-se ser nua e cruamente o que é, sem sentir-se em débito consigo mesma por deixar que as marcas apareçam. Não digo que não possa haver paixões. Certamente sempre há paixão, mas este tipo de fissura não combina. O texto é de outra peça . Lamento.
Alguma coisa me diz que não vai ser por aí que vamos conquistar a fonte da juventude. Ela é mais sutil.

Sendo assim, ficamos combinados: nada combinado!

Só queria mesmo era saber como me sinto e francamente não sei! beijo duvidoso

da melind@







sábado, 19 de dezembro de 2009

Espetáculo.

É preciso ouvir os Bem-te-vis..

imagem é da web

Eu adoro bem-te-vis. Eles trazem à tona uma sabor inequívoco de prazer na minha vida. Não lembro quando exatamente começou nossa paixão, mas faz muito tempo.

Quando os escuto, de verdade, é como hipnose. Dentro dela tendo a compreender porque os silvos inquisitivos se misturam. Como se traduzem? Como me traduzem? Como tão bem me vêm! Bem-te-vi!

-Bem-te-vi! titiú. Aquele Hiiiiiiiii, redondo e emocionante. É como musicar uma sensação. Às vezes ficam rápidos, como debates . Denunciam a importância daquela coalizão universal de Bem-te-vis. Eu sou a convidada especial.

Eles se comunicam como num programa de perguntas e respostas. Lá e cá. Ali e aqui.

Os tons se misturam , os acordes se ampliam e o diálogo de cantos vibratórios me deixa estática.

Vejo, com meus ouvidos, o silencioso sentido de estar ali.

Estancam, de repente- um grito melodioso se estende, malemolente. Uma marra de bem-te-vis encerra o colóquio.

Hoje, pela manhã, atrasei-me para ouvir os Bem-te-vis.

Sua orquestra me pareceu mais importante do que tudo. Teve um alcance maior do que muitos pensamentos encadeados.

Éramos apenas nós sobre a Terra. Eu e os Bem-te-vis. No silêncio sonoro de nossos caminhos cruzados. Eles cantando para mim. Eu , estancada ouvindo seus lamentos, reclames e exaltações à vida. A nossa!

beijo sonoro e estridente

da melinda

"La belle verte"

Quando tenho um amontoado de coisas para fazer, resolvo arranjando outras que não tenho que fazer, mas na hora me parecem revolucionárias( sempre tive muita dificuldade em seguir o script).
Outros diriam que isto chama-se enrolação, mas como eu sou uma otimista incurável, sempre acredito que pode ser a chave de algum enigma ou porta ainda fechada em minha vida.
Algumas verdades e descobertas podem estar atrás de uma tecla.
Enfim, num desses polêmicos momentos achei um filme francês chamado " La belle verte". A bela verdade. A tradução para o português é " Turista espacial", dirigido por Coline Serreau. São 99 minutos de pura ficção, ou não. O fato é que ele me fez ficar pensando como seria se falássemos a verdade ou , pelo menos, se a vivêssemos.
Voltando aquela frase do John Le Carré: " A hipocrisia é o mais próximo que o homem jamais chegará da virtude", que retirei de uma crônica do Luís Fernando Veríssimo, me pus na pequena catarse.
O filme a que me referi centra-se em uma mulher extraterrestre de mais de cem anos, bem conservada, é verdade, que vem a Terra para uma missão intergalática. Sua civilização vive em um avançado estágio e a Terra é considerada um lugar atrasado e povoado de seres primitivos, um caso perdido.
A nossa ET chega à Paris contemporânea com um modelito do século XVIII e fica chocada com o que vê.
No filme, ao ser desconectados do mundo de ilusões no qual vivem , atrás de obras que os eternizem, as pessoas passariam a viver a nada suave e nem bela verdade, que a muitos vai chocar, ao descobrirem que suas vidas não passam de uma fantasia vazia e sem sentido. A vida não era nada do que pensavam até então. Estavam, enfim, fora do sistema que conheciam tão bem.
Em uma cena genial da divertida comédia francesa, o marido , após deparar-se com sua verdade, fica analisando sua vida e diz à esposa(mais ou menos assim):
- Eu sou um panaca, o que foi que eu fiz ...como pude...( e faz uma avaliação corajosa de suas escolhas).
- É verdade - diz a esposa- você é um panaca!- concorda com total franqueza resignada.
- Por que você ficou comigo?- pergunta o marido incrédulo.
- Prostituição legal- responde a consorte na maior cara dura- você tem um excelente salário e uma ótima posição social (...)
Ambos continuam placidamente absortos em suas elucubrantes revelações, sem melindres, sem pudores, nem surpresas, apenas recolhendo os pedaços.
O fime é uma divertida comédia, mas também uma crítica mordaz ao nosso modo de vida.
Imagina se fossemos sempre assim , se não pudéssemos mais viver nossas mentiras sinceras. Se dentro de nós estivessémos feios e vazios de verdades.
Onde será que começamos a viver esta grande mentira? Teríamos que começar do átomo, para tentar encontrar onde a vida começa a blefar. Onde começamos a criar este mundo fantástico de ficção com prazo de validade, que aprendemos, desde bebês , a reverenciar e perseguir, a ponto de esquecer quem somos....
beijo verdadeiro
da melind@

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nos protocolos do bom hipócrita..

Fim de ano é sempre igual. Um rol de amigos secretos chatos que somos "obrigados" a participar. Uma penca de jantares e confraternizações que somos compelidos a ir. Gastos infinitamente desnecessários que não há o que remedie.
Como se não estivesse completo o quadro, ainda tem o tal do espírito famigerado de natal e a crise de generosidade pontual que acomete as pessoas. De resto fica aquela sensação melancólica de estar às vésperas de um grande evento( com sabor de fim de festa) e ao mesmo tempo de estar perdendo alguma coisa que escapa por entre os dedos.
Tudo um amontoado de ilusões, fantasias e crenças delicadamente inseridas dentro de nós ao longo de uma vida. Póin.
Eu não pactuo interiormente com o natal, mas me rendo a ele por força das inúmeras convenções que ele estabeleceu na vida de todos, inclusive na minha.
Aqueles abraços e sorrisos dispensados a quem só se vê uma vez no ano. O reencontro com o que sobra do que já se chamou família e todos aqueles protocolos do bom hipócrita.
Hoje eu me peguei comprando uma roupinha para um daqueles "apadrinhados" de natal que somos convidados a presentear. Só falta comprar um brinquedo.
Fui ao correio resgatar uma correspondência que ficou perdida e lá estava novamente o tal de natal. Havia uma fila e tanto, não só onde eu estava. O rapaz que estava atendendo todas aquelas pessoas, gostava muito de conversar e explicar. O fato é que episódio se prolongou mais do que deveria. Até porque eu não estava ali esperando nenhuma surpresa agradável ou coisa semelhante e sim um presente de grego que eu tenho que abraçar.
Enquanto esperava chegou uma senhora bastante humilde e dirigiu-se ao rapaz:
- O senhor pode me informar onde é que eu entrego a carta para o Papai Noel?( dos correios) - perguntou determinada a senhora ( que eu deduzi que trazia uma cartinha da neta em um envelopinho branco enfeitado).
- Lamento, minha senhora. Já encerrou. Não dá mais . Este ano já recebemos quase três vezes os pedidos do ano passado. Não sabemos se vamos conseguir entregar todos. Sinto muito. - respondeu o funcionário , já neurastênico e um tanto resmungão.
A senhora ainda titubeou para usar algum argumento e logo desistiu:
- Então tá bom, fazer o quê?- e saiu meio desanimada, como se o corpo tivesse ficado muito pesado .
Fiquei ali olhando a cena e como já estava um tanto aborrecida, fiquei um tiquinho mais. Deixou-me desalentada.
Tive vontade de chamar a senhora e dizer a ela que esta história de natal e Papai Noel é uma grande bobagem e que ninguém precisa de cartinhas para ser feliz. É tudo comércio, como dizia minha velha e sábia mãe.
O fato é que naqueles minutos senti vontade de pedir a carta que ela trazia nas mãos , para saber o que tanto ela poderia querer. Será que era para alguma criança? Será que era para ela ou alguém próximo.
Pensei no que leva alguém a acreditar num "sonho" destes. E, se isto não alimenta ainda mais a ilusão das pessoas em relação a vida. A falsa idéia do "milagre" do clima natalino.
A "magia" do natal já está ficando tão manjada que até as campanhas mais bem intencionadas parecem comerciais. Nada que se pareça com um conto de natal hollywoodiano.
As pessoas colocam tanta expectativa em uma tacada midiática milionária, que nem percebem o tamanho da apelação.
Se os barbados ficam pilhados com a loucura do "let's go shopping", imagina as crianças( as maiores vítimas deste engodo). São bombardeios de propagandas, jingles e promessas. Na-na-ni-na-não.
Lágrimas de crocodilo, sorrisos de plástico, alguns quilos a mais no final das festas e alguma dor de cabeça de sobra. Se não quiser ficar com fama de anti-social. E que venha 2010!
beijo aborrido
da Melinda

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Retalhos ensadecidos...

Sou uma criançulta( termo utilizado por Benjamin Barber e citado por Contardo Calligaris)! Uma adulta infantilizada. Um ser manipulado pelo monstro capitalista, mimado por um imediatismo que não permita que eu me revele impotente para cuidar de mim mesma. Snif.
Calligaris apresenta a tese de Benjamin Barber, que afirma ser a infantilização do consumidor não um acidente cultural momentâneo, mas a peça chave do espírito do capitalismo contemporâneo. O mercado estaria tranformando os adultos em crianças.
Não eu não estou falando da criança que existe dentro de cada um de nós. Eu estou falando da criatura mimada, presunçosa e caprichosa que não sabe ouvir um não, ou um, daqui a pouco, ou no ano que vem. Aquela criança que não resiste a consumir uma novidade entre os produtos de limpeza no supermercado, ainda que não entenda muito deles ou aprecie este universo. Qualquer bobagem serve para um momento de ilusão a curto prazo. Aquela criança que fica indignada e se transforma em abóbora extraterrestre porque não conseguiu comprar aquela peça que vai deixar seu guarda-roupa igual ao daquela bisca arrasa-quarteirão que sequer é de verdade.
Por um lado fico feliz em saber que não estou sozinha. Somos uma legião de alguns bilhões. Por outro fico preocupada por saber que os sintomas que apresento são generalizados. Minha individualidade está chocada. Onde está o ser único, ímpar, com sua história original e suas alegrias e feridas exclusivas. O que é que eu faço com minhas credenciais de cidadã escolada, com estrada, que acha que manja de tudo e é capaz de controlar seus ímpetos e entender suas inconstâncias e incoerências.
O que eu faço com a minha humanidade delinquente e transgressora?
Não vejo nenhuma resposta "delivery"!
Mais uma vez fico eu me incluindo em um padrão.
Em uma entrevista, Maria Rita Kehl afirmou a mesma coisa com outras palavras. " Nós ( sim nós) vivemos respondendo a estímulos, ao que esperam de nós. Isto provoca a perda de tudo aquilo que é singular, pois você começa a querer corresponder a padrões( Sim eles os padrões).A imposição dessa imagem passa a ser o imperativo da vida". Ou seja , você deixa de existir e se torna apenas uma sombra que segue um corpo massificado. Snif.
Mas a culpa é sempre do mordomo. O prefeito do palácio que, segundo parece são os pais da geração coca-cola. Sim eles que almejaram dar aos seus rebentos uma vida mais plena e menos dura do que receberam. Alguma coisa quanto a prolongar a adolescência "ad infinitum".
A propósito volto a uma conclusão pessoal bastante respaldada na vivência. Meço o equilíbrio e o grau de adaptação social de um indivíduo pelas dificuldades que enfrentou ao longo da vida.
O certo é que quanto maiores as dificuldades ou obstáculos que experienciou, mais "bem sucedido" será nosso herói. Fato.
O fato é que só se aprende a ser, sendo, fazer , fazendo, lidar com os erros, errando, controlar as frustrações, sendo frustrado e assim por diante. Portanto, tem mesmo é que deixar a criança chorar. Inclusive esta que agora fala. Deixo ela trancada no quarto e controlo seus ímpetos com a tranquilidade e sapiência do tempo.
Sim ele, o tempo, não o cronológico, mas aquele que serve de referência pelas vezes que passamos por ele enquanto nos observa.
Ah sim, a criançulta faz o melhor possível. Esta acho que é a minha missão atual , fazer o melhor que posso.
Termino com uma frase que li esta semana e me pôs a pensar, de John Le Carré: " A hipocrisia é o mais próximo que o homem jamais chegará da virtude".
Beijo infantilizado

sábado, 28 de novembro de 2009

Pensamento para sempre


Era uma vez, um pensamento. Ele nasceu em uma manhã qualquer da primavera ventosa de Bigrivertown. Era muito cedo e ele chegou junto com o Sol.
O broto tinha olhos vivos, daqueles que, antes mesmo de enxergar, já estavam penetrando em possibilidades. Era um pensamento destinado a não ser esquecido. Estava em sua gene.
O jovem pensamento logo percebeu que sua mãe, a mente, era muito ocupada, porque cuidava de seus muitos irmãos, e de outros inúmeros pensamentos hóspedes, pensamentos adotados e ainda os intrusos, que estavam clandestinos pelos cantos, conspirando alguma estratégia para ocupar a mente. Os subliminares eram os mais perigosos. Estavam bem disfarçados em belos rótulos. Os mais singulares e objetivos acabavam se perdendo.
O lugar parecia uma avenida com trânsito congestionado. As buzinas tocavam, a irritação pairava latente a anunciar o colapso.
Sim, sua mãe tinha muitos afazeres, eram muitas formas e linguagens. Como ela conseguia dominar todas aquelas percepções?
Ele, como um pensamento curioso e sagaz, logo começou a especular. Queria saber de suas influências e probabilidades. Era um pensamento de ordem. Seria imperioso que se expandisse. Olhava para si mesmo e temia crescer e tornar-se como tantos outros, inútil atravancando o espaço, entupindo o fluxo da vida . Não queria ser energia extraviada. Não suportaria cair no oco do mundo.
Logo que nasceu, todos se voltaram para ele, alguns cheios de mimos e outros apenas fazendo barulho. Os mais espertos queriam pegar carona em sua idéia ou simplesmente se renovar. Pensamentos malévolos também aparaceram e lhe cochicharam sobre os amargos desabores de sua proposta.
O pensamentinho já havia percebido que sua vida não seria tão simples. Mal chegara e já sentia-se sufocado e vampirizado pelo padrão local.
Conectou-se a pensamentos jovens, como ele, mas cheios de lógica e consciência. Eram pensamentos construtores. Articulavam-se progressivamente. Exerciam grande poder dentro da mente. Sabia que este era o caminho.
Outros pensamentos estavam muito arraigados e eram avessos à qualquer mudança. Queriam apenas mais do mesmo. Sentiam-se ameaçados pela chegada de um pensamentinho inovador.
Contrafeito, reconheceu que certos pensamentos eram pura sabedoria, fruto de muito exercício mental e controle rigoroso,mas nem sempre eram chamados a agir quando necessário. Os comandos não eram eficientes o bastante.
Havia espaços da mente que eram reservados aqueles hierarquicamente mais fortes e influentes. Eles comandavam na maior parte do tempo. Também encontrou os mecânicos e repetitivos como um eco. Eram como um refrão eternizado. Nestes lugares não conseguia se introduzir.
O tempo não existia naquele lugar, só uma referência , um observador pelo qual ele passara incessantes vezes, sob inúmeras óticas. Só pensamento existia.
Por momentos esmorecia, um pouco esquecido de si mesmo em um canto. Sentia-se sem energia.
Precisava de estímulos e novas forças para tornar-se. Era um pensamento obstinado, isto sim, e seu propósito de mundança era uma questão vital.
Em alguns momentos a mente ficava poluída com usurpadores hostis e sem nexo, que ficavam se digladiando, como em uma arena. Muito ruído e nenhum resultado. Sentia-se sugado.Nem a sabedoria conseguia controlá-los. Deixavam tudo um caos e quando silenciavam estavam todos exauridos e esgotados. Nem reconheciam mais o que haviam pensado inicialmente.
Viveu também experiências mágicas e imaginárias quando certos fragmentos coloridos e musicais o iludiam. Ao perceber o caminho de miragens, o pensamento lúcido se punha de volta em seu próprio domínio.
Por vezes a mente se ocupava dele, parecia que lhe nutria especial carinho e queria vê-lo vivo e contagiante. Muitos tentavam desacreditá-lo, por inveja ou ciúme, e faziam críticas para que a mente ficasse confusa. Ele mesmo duvidava de sua razão.
Embora cheia de experiência, em certos momentos a velha casa mental virava uma grande balbúrdia. O pensamento que perambulava por quase tudo, às vezes voltava transfigurado e cheio de aderências. Precisava se limpar e purificar para não ficar deturpado.
O pensamento que nasceu menino cresceu. Presenciou pela primeira vez a retórica que se originava de fora. Eram idéias de uma outra mente. Como poderia? As mentes estavam de certa forma conectadas. Os pensamentos circulavam pelas mentes! Era fantástico! Debates dialéticos egóicos e emocionantes.
As palavras rompiam o isolamento daquelas ilhas mentais. O oceano de informações que acorriam a ele não podia ser armazenado. Era preciso libertar seu fluxo.
Naquele momento um pensamento barreira tentava impedir que pensamentos estranhos penetrassem livremente. Eram vigiados bem de perto e questionados.
Percebeu que poderia sair e desbravar outros espaços. Sentiu um arrepio. Imaginou como seria conectar-se a outros universos. Sabia que era necessário força e direção. Impulso.
Entretanto não havia dúvidas, chegara o momento de agir. A mente articulou-o, como um arco impusiona a flecha. O pensamento corajoso lançou-se como uma descarga energética. Um sopro que liberava toda a energia que se intensificara nele.
Ao perceber-se estava nos locais mais estranhos. Sentia a desconfiança, a curiosidade e o espanto dos outros pensamentos. Muitos mostravam-se com raiva, eram resistentes. Agora ele era um pensamento " estrangeiro", mas não estava só. Uniu-se a outros argumentos . Era astuto, parecia familiar porque era formado pela verdade.
Persuasivo, sabia como multiplicar-se. Ganhou confiança. Queria estar em todas as mentes.
Logo se estabeleceu nas mentes por toda parte onde alcançou. Foi acolhido e alimentado.
O pensamento tornou-se poderoso. Agora já havia se consagrado. Estava mudando conceitos. Era ouvido. Não poderia mais ser esquecido. Ele sabia que o maior pânico de qualquer pensamento é justamente tornar-se uma memória esquecida em algum compartimento isolado da mente.
O pensamento encontrou a intolerância e a indolência, mas ambos foram enviados ao ostracismo.
O pensamento viajou por muitas mentes e constatou que nem todas elas tinham controle do seu conteúdo, muito menos consciência. Passou trabalho em alguns mundos mentais. As mentes dormiam enquanto os pensamentos enlouquecidos reinavam absolutos. Havia muita devastação e tristeza em certos pensamentos.
O tempo mostrou que um pensamento articulado pode chegar ao ápice e então o pensamento já era fato. Mudara o mundo a sua volta. Era tema de diálogos mentais. Estava nas vozes sonoras pelo espaço. Ele tinha movimento.
O pensamento meditativo que nascera frágil e inseguro tornou-se realidade, com a ajuda de muitos outros . Havia se concretizado. Agora seria imortal. Mesmo que sua casa mental desaparecesse como pó, ele permaneceria no mundo , tal qual os grandes pensamentos. Ele agora era um pensamento para sempre!

domingo, 22 de novembro de 2009

Matrix live..

Estou aqui olhando esta tela cheia de janelas e pensando o que é que elas dizem. As tecnologias da informação nos colocam frente à inúmeras opções . Podemos realizar tudo virtualmente.
Movem-se as idéias e os dedos no teclado. Pode-se visualizar, editar , configurar, formatar, postar, marcar, pesquisar, desenhar,trabalhar. Envia-se cartão de aniversário , fotos. Isto sem falar dos sites de relacionamento. Tem-se ao alcance dos dedos as revistas de preferência, jornais, filmes, músicas, conta bancária, cartão de crédito.Pode-se comprar e pagar.
Os olhos ficam hipnotizados, como se ficássemos ausentes. Já reparou alguém de frente para uma tela. Parece que não tem ninguém em casa. E na verdade eu não sei se tem. Pelo menos alguém que interesse. Como se fosse uma parte implantada dentro de nós, o PC passa a dar as cartas. É o crupiê que vai nos atraindo para novas jogadas e mostrando outras possibilidades. Vai blefando e nos viciando com a possibilidade de obter a vantagem no jogo. A relatividade do tempo mostra-se . Horas se foram em uma url e outras tantas. Vamos seguindo as pistas e esquecemos de deixar vestígios para encontrar o caminho de volta. Quando terminamos , nem sequer sabemos onde mesmo estávamos indo.
Abduzidos, isto sim, como se nossas mentes estivessem conectadas, linkadas, e só ao desplugarmos acordamos para o tempo que correu lá fora, no mundo "real" ou para o episódio que não rolou enquanto a catatonia virtual esteve no comando.
Matrix live.......

Do começo ao fim...




Promete..... Bigrivertown ainda vai esperar...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Merchan da Melinda: seja bem vinda!!


Imagem da internet
Eu adoro a Melinda. Melinda é a menininha que eu criei. Ela pode ser aquela criança de cinco anos que brinca com o pensamento, mas também pode ter noventa ou mil anos. Pode ser a princesa e a bruxa malvada. Pode correr na calçada.
A Melinda é a minha interface. É meu limbo particular. Se aproxima de mim e se afasta. Se experimenta e inventa sob cada novo olhar.Um idioma que não se traduz. É meu copo de pus.
A Melinda é Jekyll e Hyde, o médico e o monstro. A cura e a doença. É o sintoma da minha lucidez.
É emoção, é paixão , é o indizível tesão! A Melinda é um vulcão que guardei às sete chaves e a cada erupção uma enxurrada de lava , que dentro só tem palavra, frase e conexão.
É o personagem que eu posso habitar sem medo , sem freio. Poema , prosa ou o que veio. É qualquer devaneio. Frase truncada e crônica errada.
A Melinda é minha mãe, meu pai e minha tia. É poesia. É renovação e redenção de mim mesma. Melinda é linda. Mãe da Linda O'Mahley, que também é minha e é Melinda. É a vitória sob o pudor. Melinda é amor.
É um copo que me bebe sem fim. A Melinda é uma parte de mim. Mas também é o todo.
É como a parte movediça do lodo. Quanto mais eu me movo, mais ela me engole e eu amo.
A Melinda é como me chamo quando me apaixono. É meu abandono. A perda da pele.
A Melinda é o elo quebrado da corrente. É a chave da prisão. É semente! Fecunda a imensidão. É o tempo correndo menino dentro de mim.
A Melinda é assim. A bengala que apóia a mulher de cabelos prateados. O conto que adormece a menina para dentro de si, com olhos espantados.
A Melinda é aqui, é emoção, fantasia e ficção. Ela é a libertação. Minha recriação!
II
A Melinda diz coisas que ninguém liga, mas é ela que me abriga. A Melinda é minha amiga.
É alicerce , é viga. É reconstrução.
Melinda é exortação, é conselho, é imagem sem espelho.
Melinda é minha garota de Ipanema, mas é graça que não passa. É bilhete pro cinema. Meu inacabado roteiro, meu mundo inteiro. Filme que passa ligeiro, mas sem pressa de acabar.
Instantâneo sem revelar.
É trilha sonora silenciosa, que vem me transformar.
É o espaldar da cama que quando chama me derrama. Me esparrama sem vagar.
Melinda vem pra ficar. Quer me reconciliar e dentro vasculhar, me trazer e me levar.
É ela que vai me sonhar e assim me despertar. É minha sede de viver. Meu modo de aprender.
Melinda nunca vai morrer, depois de tanto acontecer. Já dá pra perceber que ela quer mesmo é crescer.
Melinda é meu mister. O mote do meu discurso, meu amigo urso, meu rio sem curso.
Melinda é toda mulher, como esta vida requer. Imperfeita , inadequada, em carne viva , esfolada. Melinda é cicatrizada.
É manteiga no pão caseiro. É gente com jeito . É meu eu perfeito porque ela só tem defeito.
É massa sem fôrma. É erosão que deforma, molda e esculpe, lapida e sedimenta.
A Melinda é ciumenta .
Preciso dizer que não é modesta e nem sempre é honesta.É tentativa e erro.É cheiro que infesta. Melinda me constesta.
É enfim, de bem com a vida e como ela não tem medida não tem beijo de despedida!

sábado, 14 de novembro de 2009

Adaptação...

Hoje no final da manhã eu lamentei não ter uma máquina fotográfica à mão para registrar duas imagens inspiradoras. Quando passeava com o Stuart passei pelo famoso container verde de lixo que fica entre os canteiros arborizados da minha bela rua e lá estava um homem de barba branca um tanto suja, pele queimada e castigada, com um terno muito velho , de um verde escuro acinzentado pela imundice, chapéu de camurça amarrotado combinando. Debruçado comodamente sobre a lixeira aberta, lia o jornal que havia encontrado entre outros ítens que seriam usados em seu escambo diário. Indiferente ao odor fétido que exalava do recipiente e às moscas que andavam por ali, permaneceu inerte e centrado na leitura, em seu mundo próprio, ignorando os que passavam cegos pela sua desimportância. Invisibilidde social.
Fiquei pensando qual seria a história daquele personagem tão curioso. Poderia ser uma história comum, uma grande perda amorosa, um emprego perdido , uma traição ou poderia ser alguém que teve a vida destruída pelo álcool. Que fato poderia ter levado um homem a abandonar seus propósitos, seus hábitos essenciais de higiene , sua dignidade? O que leva alguém a deitar-se com o lixo e o excremento, sem qualquer pudor?
Lembrei de um trabalho feito na USP por um sociólogo e também de um email que rebebi, ambos com referências correlatas ao que acabo de descrever.
O trabalho da USP usava como experimento colocar pessoas de destaque vestidas como garis ou faxineiros. Estas eram ignoradas por alunos e funcionários , que passavam indiferentes.
A experiência do Email ocorreu em NY, onde colocaram da estação do Metrô, um músico famoso, cujo show custava mil dólares o ingresso, tocando uma peça famosa em um violino raríssimo. As pessoas ignoravam o músico, que ali permaneceu tocando por horas.
As pessoas levam suas vidas , apáticas, insensíveis ao que passa a sua volta. Talvez como eu, contemplem à distância e pensem, como as coisas chegaram a este ponto? Por que não estou achando triste?
Onde estavamos que não vimos estes detalhes?
Privação e mendicância sempre existiram, mas o endurecimento das pessoas é que me assusta. As misérias foram incorporadas à nossa trajetória e agora solidificaram.
Ainda esta manhã , na sequência e no mesmo container, estava um carrinho de supermercado (provavelmente "tomado emprestado") cheio de lixo reciclável e entre papelões e caixas estava também um menino de uns três anos de idade. Em meio à rua , entre os carros que passavam, o garoto divertia-se enquanto a mãe remexia nos sacos a procura de sua matéria-prima.
O carrinho de compras virou carrinho de bebê e os jornais velhos, brinquedos, assim como o jornal de ontem servia informações ao nosso "Carlitos"(me lembrou Carlitos do Chaplin) da periferia que aristocraticamente debruçava-se sobre as informações da semana. Quem sabe se política, futebol, ocorrências policiais e até economia. Confesso até que fiquei curiosa, como se as pessoas que vivem a margem desse mundinho de Alice não tivessem seus interesses em um contexto. Daria uma boa ficção!
A vida adapta-se à miséria, à indiferença, ao muito , ao pouco, ao quase nada. A vida simplesmente continua seus passos em todas as suas direções. Ainda bem!!
Beijo adaptado

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O som do silêncio..


Não sei como começar a escrever este post. Na verdade nem sei como se expressa o que quero dizer. Talvez o que preciso dizer não se diga, pelo menos de forma mais convencional. Mais fácil simplesmente silenciar. Começar com o silêncio pode ser uma opção muito inspiradora. Escutando o som dos pensamentos dentro da minha mente agitada.
Ouvir o som mudo que vem de dentro para fora é como, de repente, deparar-se com toda sua história. Observar cada impulso energético que move os comandos do seu corpo, as legiões de células agrupadas como um exército, de prontidão para realizar todas as tarefas silenciosamente manifestadas pelos sistemas hierarquizados e conjugados do seu corpo. Cooperação sistêmica. Equilíbrio. Sincronicidade. Sinergia.
O sangue corre taciturno, irrigando e oxigenando. Tudo harmonizado sem qualquer forma audível. O pulso silente e cadenciado indica a agitação metabólica, num magnífico coro de vozes mudas. Em uma cascata de força viva, converte-se o sol , o ar e os nutrientes em vida.
O silêncio é um universo de revelações. Ao ouvir, a mente cala-se e transforma tudo em informação. Transmuta sons em sentimentos e sensações.
Sentidos que operam registros de imagens com resoluções precisas , arquivos organizados e otimizados . Faxinas diárias limpam fatos e resíduos de suas memórias catalogadas e integradas.
Toda esta atividade latente acontece para que possamos sentir e viver. Sentir e viver.
Toda essa tropa de seres microscópicos, de operários anônimos e disciplinados, granjeiam nossa tão decantada felicidade. A vida borbulha em profusão sob a nossa pele e em torno dela. Pura luz.
Dizia o Lulu Santos " Eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia... de silêncio e de luz....nós somos medo e desejo....somos feitos de silêncio e som... Há certas coisas que eu não sei dizer"...
Eu também não sei dizer, só sei observar e afinal calar perante toda pujança que somos nós!

sábado, 7 de novembro de 2009

Mapeamento e integração...

Estou com saudades de mim. Acho que ando muito lá fora e preciso me recolher um pouco mais aqui dentro, me encontrar. Hoje pela manhã eu fui a um encontro para tratar sobre uma questão que anda pulverizada por todo canto do planeta. Sustentabilidade. Inclusive a minha.
O modelo ruiu, finalmente ficou claro o que já andavam sussurando pelos ouvidos aqui e ali.
Nosso modo de vida está fazendo água. Estamos afundando.
O tema inicial proposto pelo palestrante seria o uso de drogas entre jovens e adolescentes, mas houve uma grande ampliação do conceito de droga e chegou-se a dura verdade. Estamos anestesiando nossos sentidos , aprisionando nossa alma, sufocando nosso espírito com modelos comprados prontos e esquecendo de experimentar a vida, experimentar a nós mesmos. Estamos nos drogando enquanto saciamos nosso cérebro com mais do mesmo. Uns comem, outros compram, outros bebem, outros fumam , tomam antidepressivos, ansiolíticos, inibidores de apetite, alguns adotam dietas radicais , escrevem manuais sobre como conquistar fortunas num piscar de olhos, há os que partem para clínicas estéticas, e os que tornam-se maratonistas do sexo casual ou ainda os que usam drogas de maior visibilidade, mais rápidas e definitivas como o crack, a heroína, a cocaína, ecstasy e uma infinidade de outras fugas . Fugimos de nós mesmos desesperadamente. E quanto mais custamos a voltar , mais difícil se torna. Há inúmeras fórmulas mágicas em milhares de manuais de auto-ajuda e afins . Há muita gente dizendo o que é preciso fazer para ser feliz. Como se "ser feliz" fosse algo instantâneo que, uma vez conquistado, se tornasse parte de um patrimônio. Por este paradigma a felicidade está sempre lá na frente, lá fora e mais adiante. Perseguindo o próprio rabo II.
Uma amiga mencionou Merleau-Ponty e eu lembrei da " Gestalt"( forma) e do "intermundo" que ele apontava.
Segundo Merleau-Ponty, o que há de profundo na idéia de "Gestalt" não é a idéia de significação, mas a de estrutura, de junção de uma idéia e uma existência indiscernível, que confere aos materiais um sentido, a "inteligibilidade em estado nascente".
Isto mesmo, inteligibilidade em estado nascente, experienciar a vida. Qual o "sentido", o sentir, o sentimento e a direção que desejamos adotar.
O que vai dentro de nós? Quem somos nós? Nós?
Já é possível entrever que a abordagem individualista e fragmentada do mundo não cabe mais aqui.
Promotores , juízes , pedagogos, professores, médicos, psiquiatras, psicólogos, e todos aqueles que trabalham com jovens, que acredito são as maiores vítimas da desorientação ( motivo do encontro ), sabem que a drogadição é a ponta do iceberg, que este iceberg vem sedimentado no grande vazio deixado pelo que um dia chamamos de sociedade( corpo social/ conjunto de pessoas unidas pelo sentimento de grupo). A família não tem muito tempo para olhar para dentro dela mesma. Cada um precisa correr atrás de seu próprio tesouro da arca perdida. Claro que como ninguém sabe que tesouro é esse, vai procurá-lo em lugares manjados e barulhentos! Quando sobra algum tempinho, a televisão faz o resto do serviço.
Falou-se na pedagogia do oprimido, nas inúmeras formas de violência, nas experiências e seus reflexos perpetuados "ad infinitum" e até em nossa condição de "sapo do Al Gore".Mas ficou evidente que precisamos revisitar nossos conceitos. Nos falta uma missão comum. Qual a nossa missão comum? Qual é a tua, a minha e a nossa?
Só trilhando o caminho e cada passo pode-se chegar lá. Não podemos incorporar o que ainda não temos capacidade para perceber. Só a vivência nos dá possibilidade de transformar informação em conhecimento. O fio condutor é a sensibilidade.Não há caminho rápido.
É preciso aprofundar o conceito de intersubjetividade. Quando falei no início em sustentabilidade, referi-me a nossa capacidade de percepção do sentir do outro, que é emitido pela teia social como um todo. Auto-reconhecimento.É preciso que haja uma sinergia entre todas as ordens sistêmicas que constituem nossa grande rede sócio-econômico-ambiental. O planeta.
Falamos em espelhos neuronais e em como o estudo da neurociência pode nos ajudar a sair da condição de ratinho de Skinner para sermos neurônios espelhos.
Os neurônios espelhos podem explicar porque um indivíduo, ao ver algo acontecendo com outro, pode sentir como se o mesmo estivesse acontecendo consigo, numa espécie de espelhamento neuroquímico, mas também um espelhamento de emoções, de ações, tudo em seu aparelho neuronal. Aí podemos aprender a exercitar a grande palavra chave desta manhã. A compaixão!!
Dentre tantas questões nevrálgicas apontadas, conclui-se que precisamos abandonar aquele pensamento cartesiano, ou seja, precisamos construir uma nova compreensão da vida. O pensamento cartesiano levou o homem a vivenciar a si mesmo e seus pensamentos como algo separado do resto do universo, criando para si uma distorção ideológica, uma espécie de prisão que mantém o homem isolado, solitário, reduzindo o mundo à dimensão de seus desejos, padrões fragmentados , egoístas e inflexíveis.
Agora torna-se necessário fazer o caminho de volta. A proposta é então entender o mundo a partir de uma percepção sistêmica e integrada. Uma tomada de consciência e uma mudança de comportamento.
Fechamos o encontro com as palavras mapeamento, integração e gestão. Redes de cooperação . Sinergia entre órgãos e sistemas. Sobrevivência.Qualidade. Transdisciplinaridade. Estes pensamentos visitaram nossas mentes e encontraram seus pares.
Tais palavras dariam outro post. Não acho que sejam modismo, mas sim novos valores, a partir dos quais poderemos melhorar a qualidade das relações que estabelecemos com o mundo e conosco.
Transitar por tudo isto me fez sentir vontade de estar comigo, de me perguntar, me responder, me achar, me perder e observar os sentimentos e o querer . São palavras que movem energias. Palavras de reencontro. Estou mapeando, integrando ....
beijo sinérgico
da Melinda

domingo, 1 de novembro de 2009

Dia dos mortos

Fiquei com os olhos cheios de imagens e os bolsos cheios de novidades, como quando não temos mãos para agarrar todos os pacotes. Véspera do dia dos mortos e os vivos estavam em polvorosa. Não que eu costume homenagear os mortos ou guardar qualquer forma especial de reverência a este dia, mas sendo um feriado tão marcado, fica difícil não observar.
Aqui em Big Rivertown os termômetros ultrapassaram os trinta e cinco graus e todos os lugares estavam lotados de cores, formas e pessoas. Uma democracia que variava dos horrores do mau gosto à harmonia da perfeição.
As pessoas se lançaram em busca do sol e calor de domingo e principalmente do calor da gente nas ruas.
Nos portões do cemitério e junto às capelas, o comércio e as conversas superavam qualquer lembrança dos finados que ali jaziam eternos, concreto e pó. O Sol e as flores coloridas enfeitavam canteiros e calçadas. Vendedores ambulantes ofereciam água, refri, santinhos e arranjos.Os "faxineiros volantes" aproveitavam o dia para ganhar um dinheirinho extra das distintas senhoras que visitavam a morada eterna , o jazigo literalmente perpétuo daqueles que um dia já transitaram pelas ruas coloridas do feriado e até visitaram seus " entes queridos" como manda a tradição. Guardas de trânsito conduziam o tráfego com a seriedade habitual. Tudo preparado para o dia dos mortos. Solenemente.
Na estrada, o trânsito congestionado como nos dias cálidos de verão e na praia as carnes trêmulas e rijas desfilavam ainda o descolorido do inverno , naturalmente, sem qualquer timidez.
As casas se abrindo, os gramados aparados , as novidades despontando sob os olhares curiosos e os mortos esquecidos. A meteorologia conspirou com o final de semana e eis aí um saboroso feriadão.
Acho que o feriado de finados deveria chamar-se "dia dos vivos", afinal é para os que andam sobre a terra que o dia se faz mais intenso e emocionante. Assim, talvez até aqueles que ficam catatônicos semi-mortos pela vida ou simplesmente absorvidos pela mesmice maquinal da vida moderna, se joguem a viver ou quem sabe pensar sobre ela, a vida, ou sobre a morte, ou sobre ambas e seu significado . O jogo é tão rápido e nunca se sabe se vai haver prorrogação. Sendo assim, que venha o dia dos vivos.
beijo vivíssimo da melinda...

sábado, 31 de outubro de 2009

O sentido é a dimensão do Ser.

" O homem é um nada no universo, mas um universo para o nada" Teilhard Chardin
Quando chegamos a este mundo começamos uma busca. Perseguimos a superação, ainda que não saibamos disto. Está em nossa natureza. Saímos das cavernas, construímos uma sociedade e desenvolvemos um complexo sistema político-econômico. De simples sistemas silábicos à complexas formas de expressão que destilamos do sentir. Saímos do nada. Aprendemos a descobrir nossas belezas e talentos e, vamos encontrando as ferramentas para seguir em frente. Somos perfeitos, reativos, destinados a vencer. Sobrevivemos a epidemias, guerras, catástrofes e a nós mesmos. Transformamos nossa trajetória em conhecimento, que parece sempre menor do que aquele que está por vir.
Vencemos os primeiros passos, balbuciamos as primeiras palavras. Lançamos o primeiro olhar para o desconhecido e fomos definitivamente seduzidos. São mistérios que parecem indecifráveis.
Antes mesmo de encontrar qualquer sentido para SER, começamos a projetar sonhos. Estes nos tornam o que somos. Nossos pensamentos lançados ao espaço infinitamente preenchido por esta energia.
Acreditamos. Nos lançamos na grande aventura que é descobrir a essência de todas as coisas da existência. Descobrimos o outro. Nos nutrimos no amor e no afeto.
Somos sempre como recém chegados a esta aventura do viver e realizamos este eterno ensaio que é a vida, sem data para encenar o último ato.
Acreditamos que estamos aqui para chegar ao despertar da consciência.
Mas temos muito tempo, temos a eternidade!
E a medida? É a dimensão de nós mesmos!
Beijo sem sentido
da melind@

sábado, 24 de outubro de 2009

Lá no arquétipo dos habitantes de Macondo age como efeito dominó...




QUEM DOBROU SEU PÁRA-QUEDAS HOJE?
Charles Plumb era piloto de um bombardeiro na guerra do Vietnã. Depois de muitas missões de combate, seu avião foi derrubado por um míssil. Plumb saltou de pára-quedas, foi capturado e passou seis anos numa prisão norte-vietnamita. Ao retornar aos Estados Unidos, passou a dar palestras relatando sua odisséia e o que aprendera na prisão. Certo dia, num restaurante, foi saudado por um homem:
- Olá, você é Charles Plumb, era piloto no Vietnã e foi derrubado, não é mesmo?
- Sim, como sabe?, perguntou Plumb.
- Era eu quem dobrava o seu pára-quedas. Parece que funcionou bem, não é verdade?"
Plumb quase se afogou de surpresa e com muita gratidão respondeu:
- Claro que funcionou, caso contrário eu não estaria aqui hoje. Muito obrigado!
Ao ficar sozinho naquela noite, Plumb não conseguia dormir, lembrando-se de quantas vezes havia passado por aquele homem no porta-aviões e nunca lhe disse nem um "bom dia". Era um piloto arrogante e aquele sujeito, um simples marinheiro.
Pensou também nas horas que o marinheiro passou humildemente no barco enrolando os fios de seda de vários pára-quedas, tendo em suas mãos a vida de alguém que não conhecia. Agora, Plumb inicia suas palestras perguntando à sua platéia:
- "Quem dobrou seu pára-quedas hoje?"
( desconheço o autor)



"Os pára-quedas modernos tem um perfil semelhante as asas de um avião. Quando aberto, seus gomos se enchem de ar e possibilitam que este perfil desenvolva um movimento horizontal que faz com que o pára-quedista possa escolher - com certa tolerância - o local do pouso, através dos batoques."


Cada pára-quedas em sua vida tem um perfil semelhante as asas de um avião. Quando aberto, seus braços se enchem de solidariedade e possibilitam que você reine absoluto e direcione seus movimentos segundo sua própria escolha, com margem para erro e finalmente decida o local de pouso com sabedoria.

Para não cair de pára-quedas neste post eu explico....
Sei que este texto não é novo e tampouco conheço sua procedência , mas isto não tem a menor importância. Eu quis colocá-lo aqui porque quando li ( e já havia lido antes) ao receber de uma amiga, tive um sentimento muito elevado em relação às muitas vidas que vivo e ainda vou viver. Tem muita gente nos bastidores enquanto faço meu número e esta pequena história só vem ratificar tudo que tenho colhido nos últimos episódios sempre emocionantes . A idéia subjacente deste gesto é justamente dar vida a ele. Senti necessidade de externá-lo e contei esta história em várias oportunidades esta semana (de várias maneiras) e o resultado certamente não surpreenderia seu autor(original). As pessoas ficam espantadas quando tem a oportunidade de extravasar sua humanidade, vendo-se traduzidas em uma alegoria popular. O Charles Plumb que está lá dentro de prontidão esboça um sorriso, arqueia a sobrancelha e se sente agradecido por ter este momento de consciência. Lá no arquétipo dos habitantes de Macondo age como efeito dominó...

Beijo pára-quedas da Melinda


Sábado nublado..

"...toda pessoa, mitômana ou não, adota alguma espécie de disfarce com que se apresentar aos outros.." Isabela Boscov (sobre o personagem de Damon no filme do diretor soderbergh "O Desinformate")
"Quanto mais analiso uma idéia -algo que tendo a fazer obsessivamente-, mais a asfixio"
Steven Soderbergh( diretor de cinema)
"Estamos na era da reinvenção..." alguém tem dúvida?
"Ironia é como onda de rádio, se não encontrar um receptor adequado, se perde." Veríssimo
"É o silêncio cheio de palavras não ditas que salva o que se julgava perdido" Saramago
"Há uma coisa dentro de nós que não tem nome. Essa coisa é o que somos." Saramago
"Há coisas que são tão o que são que não carecem de explicação" Saramago
"Para prevenir surpresas, tenho deixado sempre abertas todas as janelas e todas as portas"Caio Fernando Abreu
"Faz com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida." Clarice Lispector
"Sou dos que crêem no que é inacreditável. Aprendi a viver com o que não se entende." Clarice Lispector
" Porque no Impossível é que está a realidade."****** Clarice Lispector
Sábado chuvoso e nublado em BigRiverCity.Muito café.Sono.Torta de coco com leite condensado totalmente enjoado. E a janela aberta. E mostra o vento o que há por dentro.
Das frases captadas por minha parabolouca hoje, escolhi as que convergem para o capítulo de hoje.
beijo decodificado
da melinda

Esquisitices: alguém ainda duvida da teoria do caos?

Duas leituras diferentes e que convergem para o mesmo ponto de vista. O mundo é comandado por um universo de possibilidades impensáveis que acabam ordenando nossas vidas.
1.Uma desastrosa erupção vulcânica nas Filipinas, no Monte Pinatubo, promove a destruição e morte de dezenas de pessoas em 1991. A erupção lançou na atmosfera milhões de toneladas de dióxido de enxofre(SO2), o gás subiu pela atmosfera, atingindo a estratosfera e espalhou-se pelo planeta. Esta camada provocada pelo gás, diminuiu a incidência da radiação solar e a temperatura média do planeta caiu 0,5ºC.
"SuperFreakonomics" é o livro cujos autores Steven Levitt e Stephen Dubner, respectivamente economista e jornalista, apontam tais imprevisões como sendo a zebra da loteca. Digamos que existe uma ordem do imprevisível que desafia toda ordem e metodologia. Uma catástrofe que joga luz sobre a questão mais debatida do último milênio, o aquecimento global e seus negros prognósticos quanto ao futuro do planeta.
De outra feita, uma ilustre desconhecida inglesa, atendente de central de táxis e comerciante virtual eventual de produtos cosméticos, joga no Youtube um vídeo caseiro, megasuperamador, onde revela seus segredos e dicas de maquiagem e torna-se uma celebridade da web, com 60 milhões de acessos. Ganha uma marca de produtos cosméticos e ainda publica um livro com seus conselhos autênticos de como ganhar ares de Rihana, Angelina Jolie, Avril Lavigne , entre outras.
Existe maior comprovação de que esta total imprevisibilidade é regra.
Lauren Luke tornou-se uma celebridade. Daqui a pouco será consultora de divas e até escreverá sobre auto-ajuda.
Eu, como uma defensora radical da teoria do caos, não poderia deixar aqui de registrar minha alegre incredulidade com fatos tão curiosos( no mínimo), simpáticos e empolgantes.
É , a vida na ervilhinha é surpreendente.
beijo deslumbrado da melinda

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Savhasana, encapsulada em uma linhaça dourada voadora e Marte

Claridade

“...a cada dia que passa um pouquinho de morte.” Pattabhi Jois

Entre a atividade e a total inatividade....Entrar no vazio inerente ao momento... com os senhores " A Savàsana"

Ontem após uma aula de alinhamento que foi redentora para minhas vértebras, buscamos harmonizar nossos chakras com mentalizações de cores e mantras. Começamos com o Lan, na base, passamos ao Van , depois ao Anahata com Ran , seguido pelo Yan , o Run e o sensacional e absoluto Om. Trabalhamos o vermelho, laranja , rosa, roxo e azul. Tudo muito bem até aí.

Lá estava eu em posição de lótus levitando em torno do meu próprio eixo ,de mim mesma e me preparando para a derradeira savhasana, ou seja, para experimentar um pouco da postura do cadáver, como diz Pattabhi jois, um pouquinho de morte (para que não nos afoguemos nela).
Quando passei a relaxar, com os braços estendidos e as palmas das mãos voltadas para cima, os pés caídos para o lado, já ´percebi o abandono do corpo e a consciência centrada num ponto da mente. Fomos então convidados a adotar a posição fetal e eu fiquei no paraíso, pensei que dormiria no ato. Fomos convidados a mentalizar que estavamos dentro de um grão de alpiste. É , alpiste. Imediatamente começei a liberar minha personalidade psicopata e resolvi meditar dentro de um grão de linhaça dourada, bem brilhante. Como se não bastasse a linhaça começou a navegar no deserto. Só que não poderia ser um deserto comum. Eu estava lá flutuando sobre as crateras desérticas do planeta vermelho. Uma mistura de " Exterminador do Futuro" com culinária natural e cápsulas-dormitório japonesas.
A minha linhaça sobrevoava a vastidão desértica das crateras no território de Marte, o planeta vermelho, cor do Chakra de raiz.
Era um deserto muito claro, apesar do solo avermelhado e cheio de montanhas, algumas chapadas confesso, mas minha linhaça era praticamente uma espaçonave, moderna e apocalíptica, que deslizava sobre o assoalho de ar que pairava sobre o cenário devastador.(que ar?)
Eu tinha que escolher um planeta inteiro só para mim e uma linhaça gigantesca onde eu jazia em posição fetal e em transe profundo. Um sonho enquanto estava entregando minha consciência ao total devaneio do relaxamento completo.
Existe um paraíso simultâneo em algum ponto dentro da mente-energia, nada que possa ser tocado ou encontrado por mais ninguém além de nós. Que máximo o mundo dos sonhos. Eu não quero me desconectar mais dele. Vamos nos manter em linha direta. Qualquer chateação e eu volto para Marte.
- ET, ET, minha casa.....( dedo erguido)
Beijo desértico da Melinda

domingo, 18 de outubro de 2009

Melinda é a minha construção

Melinda é minha construção, onde elaboro de forma indissociável, não tudo, mas muito daquilo que permeia minha vida.
Cada palavra que leio, em qualquer fonte, seja um livro, um blog, um jornal ou uma revista, enfim, é colhida e armazenada, ainda que inadvertidamente. Parecem estar esquecidas e inúteis, guardadas em algum espaço bagunçado do meu recipiente emocional, mas não, de repente se conjugam e destilam uma nova energia.
A leitura nos instiga a ter curiosidade sobre o outro, sobre os fatos, a debruçar-se sobre a história de alguém e a partir daí, tecer relações com nossa própria história , com nossa existência.
Todas as subjetividades que são captadas por nossa parabólica acabam sendo processadas e promovem infindáveis respostas, que conhecemos como maturidade.
Este final de semana, por exemplo, observei um fato da vida comum. Uma amiga teve a casa invadida por um ladrão, que furtou um aparelho de DVD aproveitando o momento em que o sistema de alarme estava desativado e a janela aberta. Entrou, desconectou o aparelho, caminhou tranquilamente de volta e saiu, sendo finalmente flagrado pela visão da secretária. Minha amiga estava a poucos metros, conversando sobre amenidades com a secretária, enquanto o estranho invasor, de aparência comum , violava a tranquilidade de seu lar. Não houve nenhuma forma de ameaça ou violência, nenhuma forma de contato, exceto um rápido contato visual.
Minha amiga tinha duas opções. A primeira seria ficar P., excomungar o meliante, registrar a ocorrência e aproveitar a dica para aumentar a segurança, computando ao fim e ao cabo, entre mortos e feridos , o lucro de ter sido lesada apenas monetariamente pela perda de um DVD. Seguir compromissos e rotina normal, dando o mínimo de crédito e dispendendo o mínimo de energia para o já desagradável acontecimento.
A segunda opção, escolhida pela minha amiga, foi deixar-se abater solenemente pelo fato. Entre a ocorrência e a reprodução infinita do fato, verbalizado, analisado e revisado "ad infinitum", promovendo decaimento, ampliando exponencialmente um episódio que , em última análise, não poderia ser desfeito, nem modificado. Cancelou compromissos, até mesmo os potencialmente festivos e agradáveis para sucumbir sem resistência ao teste-drive da sobrevivência.
Eu usei esse exemplo para ilustrar o que todos sabemos, que tudo pode ser muito simples e óbvio para alguns e devastador , dependendo da concepção que se tem dos acontecimentos que, podem ser inofensivos para alguns e ressoar de forma trágica para outros.
A experiência da vida, que aparece em fatos pequenos e isolados , não deve ter uma abordagem compassiva, é emblemático para construir as nossas referências e pautar nosso mundo interno e futuras escolhas.
Acabamos sendo receptáculos de fragmentos de vida dos que nos cercam.
Matéria-prima para o blog da Melinda é o que não falta. Alguém já disse que viver é uma arte, sendo assim, pode ser expressada e manifestada da forma que escolhemos. O importante é estar consciente!!
beijo grato pelos fragmentos de vida
Melinda

sábado, 17 de outubro de 2009

O Sentido do Ser..

Preciso escrever um texto sobre "o sentido do ser". Parece um tema simples em um primeiro olhar, entretanto, dá para escrever um livro e não dizer nada. Resolvi especular aqui no blog, explorar alguns "senderos" para construir um clima de grande descoberta.
Como eu começo? Onde é o começo?
Onde tudo começa a buscar um sentido e ou necessita encontrar algum? Será que foi quando começamos a ter alguma consciência de nós mesmos? Sabemos o que é isso?
Já deu para perceber que não vai ser fácil. È roubada!
Vamos ser literais. Um pouco de gramática , semântica e etimologia.
Começo pelo "Ser" verbo? Ou pelo "Ser" substantivo? Ser infinitivo. Ser abstrato. Ser concreto.
O fato é que o ser tem um conteúdo inseparável que é o movimento. Já deu para perceber o movimento acima. Ser é movimento.
Não estamos falando de "Ser" no passado, sido ,nem de "Ser" no futuro, mas do "Ser" agora ou a partir de agora ( porque o agora já passou). O sentido do ser neste segundo( onde se alinhavam todos os tempos).
O "Ser" se transmuta a cada novo pensamento, onde ganha outra roupagem , outra perspectiva ou uma nova interrogação. Desta forma , o "Ser" não tem um sentido, mas muitos sentidos.
Qual o sentido ou direção destas três letras? Que movimento exerce esta pequena palavra , tão intensa e rica em suas prerrogativas quando ingressa em nossa mente?
Em que direções se move a energia que anima a matéria da qual somos feitos, um tanto de átomos, etérea, diáfana, e que , ainda assim não possui nexo se estiver só, sob o efeito do singular, isolada sob a luz no palco. Não parece haver razão do ser pelo ser.
Algo fica mais confortável quando são "seres", repletos de possibilidades, ainda que apenas latentes. Possibilidades em algum e qualquer horizonte.
O Sentido, que também pode expressar sentimento, gera outro conteúdo, outra dimensão. O " Ser" sente.
Da mesma forma que este curto post( considerando as infinitas possibilidades do tema), fica claro que descobrir o "sentido do ser" é uma busca que pode ser equacionada em múltiplas combinações.
Podemos combinar nossa busca ao tempo, em que momento estamos vivendo, em que estação de nossa vida estamos sintonizados. Chegamos a unir nossos tempos? Já conseguimos entender nossa própria eternidade( ainda que enquanto dure).
Também podemos combinar nossa busca com o espaço, o espaço dentro e o espaço fora de nós. Qual deles prepondera? Que mundo descobri como fundamental? Achei equilíbrio nesse encontro de dois mundos. A ficção e a realidade. Qual dos mundos eu considero ficção, o dentro ou o fora?
Ainda podemos associar nossa busca a forma, a como pretendemos encontrar ou priorizar o sentido de ser. Sós? Já conseguimos nos entender como unos, como um todo? Somos todos um?
Será que as nossas investigações são repletas de conteúdo solidário, altruísta, amorável e acima de tudo repletas de compaixão?
Não vamos encontrar nessas variáveis nenhuma certeza, mas assim como uma planta não vive se não estiver encravada na terra, não temos sentido se não nos entendermos como coletivo, como espécie, como unidade dotada desta força inexplicável que é a vida .
A sensação é de insatisfação. O ser é insatisfeito e nunca vai achar um sentido pronto e acabado. Cada um assiste ao colorido sob a sua própria ótica. Cada gosto e cada história pessoal vai dar em um novo ato, que vai compor nosso ensaio! Podemos ensaiar eternamente e nunca estarmos prontos para o último ato. Enfim, o sentido do ser é tudo isto , portanto, movimento, busca, sintonia, superação, transcendência, transmutação, renovação, gratidão, perdão, cura, despertar, sonhar, conquistar, amar, encontrar, desapegar, partir, permanecer, desbravar, soerguer, derrubar, mergulhar, respirar, ver, tocar,eternizar, sentir, ser....
Um beijo sem sentido.....
da melinda

terça-feira, 13 de outubro de 2009

"As mentes inteligentes falam de idéias, as medianas de eventos e as primárias de pessoas". Aziz Nacib Ab'Sáber, Geógrafo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Crepúsculo:entre o nascer e o por do sol eu cheguei e os astros estavam lá olhado...

Eu nasci sob o signo de Áries, com ascendente em Capricórnio, mas passei a minha vida quase toda achando que era ascendente em Sagitário. Foi por causa de um equívoco com a hora do nascimento e com o ano bissexto. Outro equívoco foi acreditar em histórias da carochinha e em destino astral. Cheguei a fazer um mapa astral uma vez. Muito tempo isto. Veio encadernado e cheio de desenhos lindos. Foi o que mais gostei, da estética do trabalho. Tive vontade de reproduzir aquele negócio em tamanho painel e colocar numa parede. Era lindo. Uma obra de arte. Aliás, se ali estivesse traçada minha vida, ela seria algo muito acima de minhas expectativas. A visão era uma viagem às profundezas de minha imaginação.
Símbolos prolíficos, dezenas deles, fecundavam o terreno que eu mais pisava. Delírios magestosos.
Profunda e silenciosa, a rota do meu suposto destino era um escândalo. Quanto ao texto, as conjunções e oposições não tiveram qualquer significado que fizesse sombra àquelas imagens mimetizando a dimensão do metafísico que eu não queria traduzir para a literalidade de jeito algum . Eu queria apenas pressentir o que viria pela frente e deixar que aquele amontoado de linhas entrelaçadas correspondessem a dimensão dos meus projetos. Eram como uma teia que fora iniciada para que eu continuasse tecendo. Eram como o nó sem fim, que vai entrelaçando"ad eternum" todas as frequências sintonizadas e captadas pelo meu campo de força e ação. Um prenúncio da quantidade de vezes que o meu foco perante a vida iria se multiplicar.
Eu estou me livrando de coisas inúteis e afinal cheguei ao mapa. Com o perdão do zodíaco, preciso mandá-lo para alguma reciclagem.
No meu ponto de vista ele já cumpriu seu papel.
A foto instantânea do firmamento na hora do meu nascimento ( coisa solene) como se define o livro com meu nome na capa, cheia de sextis, trígonos e quadraturas me rendeu pensamentos psicodélicos.
Com destaque às efemérides, que deixam revelar como os astros se curvaram perante o ocaso real deste astro que escreve no Moksha.
Brincadeiras à parte, o fato me fez lembrar da grandiosidade e dos detalhes matemáticos que envolvem o tempo-espaço da nossa passagem neste planeta.
Como disse Goethe:
" Assim como a posição em que o Sol se encontrava para saudar os planetas no dia em que nasceste, assim te desenvolveste, desde então e pela vida afora, obedecendo a lei pela qual entraste no mundo. É assim que tens que ser, não poderás fugir de ti mesmo, como já diziam as Sibilas e também os profetas; nem o tempo e nenhum outro poder há de desfazer uma forma moldada que, vivendo, se desenvolve"
Um beijo profético da Melinda

Saúde Mental

Saúde mental
Por Rubem Alves
Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. Eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh se matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maikovski suicidou-se. Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido complemente esquecidos.
Mas será que tinha saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa...
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pela ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas se chama hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra se denomina software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparecolho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos, que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeito no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave-de-fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das pertubações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano, tem uma pecularidade que o diferencia dos outros: o seu "hardware", o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e acessórios, o hardware, tenha a capacidade de ouvir a música que ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias. Opte por um soft modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahams e Mahler são especialmente contra-indicados. Já o roque pode ser tomado à vontade. Quando às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo esta receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.
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Rubem Alves é escritor, educador e contador de histórias. Escreveu, entre outros, "Livro sem Fim" (Edições ASA), publicado em Portugal, e "Se Eu Pudesse Viver Minha Vida Novamente..."
Adorei a crônica e copiei para o Moksha!!
beijo conscientizado da Melinda

Cepas humanas mutantes

Esta maravilha do século XV, que está em exposição no museu, britânico pertenceu aos tesouros do Império Asteca e pode ter sido usada para abrir o bucho de alguma oferenda humana!A foto está na revista Veja.Set/2009

Por vezes eu sou obrigada a concordar com um certo blogueiro que acredita que a humanidade não deu certo . Se observarmos um pouco mais de perto o comportamento das pessoas, em várias partes desta ervilhinha rotatória de quinhentos e dez milhões de quilômetros quadrados ficaremos perplexos.

Parece que foi ontem que saímos das cavernas. Nesta fase ainda valia a lei do mais forte e o instinto de sobrevivência. Não sei porque razão deixamos de ser chamados primitivos.

Vamos aos fatos:

México, 1507, o Imperador -Deus Montezuma perpetrando sacrifícios humanos da mais alta crueldade. Todo mês do calendário asteca começava com a carnificina protagonizada pelos "sacerdotes" locais. Uma mistura de profetas com feiticeiros modernos. Peitos abertos, corações pulsantes arrancados, peles esfoladas. Entre os favoritos do harém estavam , é claro, mulheres e crianças. E o povo de Tenochititlán? Na torcida.

Tanzânia, 2009. Quanto vale a língua de um bebê albino? Mais de três mil dólares. Se for o bebê inteiro vivo vale uma pequena fortuna. Beber seu sangue quente pode significar muita prosperidade. Pessoas albinas são caçadas e comercializadas como matéria-prima para feitiçaria.

Sim, a África é assim. Repito.Um albino é considerado uma iguaria no mundo da feitiçaria. Quem consome os subprodutos na carnificina? Do pescador à autoridade local!

Quênia, 2009, a mutilação genital de meninas é uma tradição familiar. Com direito a toda liturgia açougueira e "festa". Tem conteúdo moral?

Sul da África, assassinar e torturar crianças com possessão demoníaca( O que seria a possessão demoníaca? Fome? Hormônios? Pobres hiperativos) fica a cabo da própria família . Uma prática corriqueira.

Brasil,tráfico de crianças, turismo sexual, prostituição infantil. Quem consome o produto ?
Tailândia e um certo ministro francês comprando garotos para orgias sexuais. Um certo diretor de cinema famoso. Ninguém próximo da miséria ou da ignorância que poderia aproximar o entendimento sobre toda esta promiscuidade.
O Velho Mundo não está longe da barbárie. De nada adiantam três mil anos de história pra impedir que práticas hediondas e primitivas continuem sendo perpetradas contra crianças em todos os cantos da ervilhinha.
Brasil,2005, menina índia adotada por uma missionária após ser salva de morrer a própria sorte, de fome e sede. Certa tribo da Amazônia condena a morte as crianças com deficiência física. E a Funai?

Se parecem cenas de um filme de ficção-horror, onde zumbis oriundos de cepas humanas teriam gerado um submundo mutante maligno, é preciso lembrar que estes zumbis não estão na telinha , mas embaixo de nossos tapetes.

Nossos discursos não cabem mais no figurino do "bom-mocinho" e seus congêneres que ocupam os púlpitos , palanques ou caminham em procissões.

Nada mudou! Se havia alguma dúvida que , se existe um inferno, seu endereço é o terceiro planeta depois do Sol....

Hipócritas e seu séquito! Às vezes é preciso colocar em perspectiva "presente" e "passado", "bandido" e "mocinho" e fazer um balanço do quanto avançamos ou retrocedemos.

É Juremir! Só mais um dia nublado em Palomas!

beijo estarrecido da Melinda

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...