sábado, 25 de dezembro de 2010



A sabedoria de Hermógenes pelas palavras flamejantes do ator Carlos Vereza:
"Deus me livre ser normal".
No balanço que me entorna pelo gargalo deste tempo me acalmo no equilíbrio do mestre e de seu mantra de paz e humildade diante do imponderável.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quero ser Melinda Veiga..


God Bless the Child - Billie Holiday
Enviado por boberwig. - Clipes, entrevista dos artistas, shows e muito mais.

 Caio Fernando  Abreu escreveu   "Onde Andará Dulce Veiga"?
Todo final de ano eu lembro deste livro e por um motivo muito simples, tenho a fantasia de desaparecer atrás de uma esquina como Dulce e surgir em outro cenário como uma personagem misteriosa, envolta em uma atmosfera intrigante e farta de cores obscuras e insólitas. É claro que a Dulce de Caio desaparece por motivos menos banais, eu diria, pois está fugindo para salvar a pele e seu lastro é a conspiração que descolore o Brasil nos tempos de dominação militar.
Bem mas o assunto é fuga e fantasia, meu texto favorito. Eu sempre penso nesta "fantasia" fluida quando chega este período de virada porque é um momento em que começo uma espécie de falso recesso, quando parece que preciso parar para   mais um pit stop. Tudo mentira! O barco segue no mesmo rumo, mas o calendário juliano indica que se aproxima a mudança do último dígito em minha conta com o além de mim e aí  lembro que ainda não conquistei o topo do sonho que nunca acaba, embora eu saiba que isto é uma grande besteira, mas não importa , porque todos a minha volta estão correndo para adornar o grande momento da virada e criar novas e falsas expectativas acerca do futuro.
E chega o momento da "pequena morte" ,como diriam os gregos,  porque quando vivemos uma "conclusão" caímos no pequeno vazio de morte, quando se dissipa a ilusão do objeto alcançado,  dando lugar ao limbo que precede um novo querer. Mais um pequeno corte indolor no qual fica burilada a linha que se insinua sobre nós. 
Por isso minha heroína Dulce Veiga desaparece avulsa e abandona tudo, forjando uma nova trama muito mais original, denunciada apenas pela voz enigmática que habita aquela canção(meio Billie Holliday)  rasgando o silêncio e entregando o passado.
Quero ser Dulce Veiga um pouquinho e acho que isto não é nenhum crime grave! Ninguém melhor do que Caio Fernando Abreu para falar da verdade e sobre extremos que se justapõe.
Não quero mais ter que escutar aquela tradução miserável  de Merry Christmas que a cantora Simone fez o desfavor de gravar   , não quero ter que decidir qual dos convites para ceia é pior e me imagino desaparecendo através de uma rua escura  e surgindo Melinda Bauer em meio a  fumaça azulada pela luz escassa cantando Chico Buarque" oh, pedaço de mim,oh, metade afastada de mim,leva o teu olhar,que a saudade é o pior tormento,é pior do que o esquecimento,é pior do que se entrevar....."
Talvez servisse desaparecer numa praia deserta mesmo( eu sei elas não existem mais) ou numa cabaninha destas cinematográficas no meio do nada( ah, mas é muito perigoso hoje em dia ficar sem alarme, travas e o escambau). Então acho que o jeito é criar um paraíso dentro da  própria mente mesmo, um ponto de equilíbrio que ponha minha Dulce a salvo de toda esta felicidade sintética à venda no balcão ao lado.
Preciso desmascarar esta impostora que anda borrifando brumas sobre meu olhar, mas, vou continuar pensando: Quero ser Dulce Veiga....
"oh, pedaço de mim,oh, metade exilada de mim, leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco,
que aos poucos descreve um arco, e evita atracar no cais.."

(...)"No meio da névoa um filme é projetado numa tela muito grande. O filme mostra Dulce Veiga( loura , provocante, espirituosa uma idade indefinida entre trinta e sessenta ). Cantando a mesma canção. No filme Dulce está num grande salão de festas cheio de espelhos, ao lado de um piano verde de cauda... .(...) ( trecho do roteiro do filme "onde andará Dulce Veiga")
Beijo metade de mim
Melind@ Veiga

E ao te encontrar / Solto o grito que está
na garganta / Abro a boca / E meu coração
canta

domingo, 19 de dezembro de 2010

Exposição da intimidade.

Depois de assistir um trecho do Saia Justa cujo tema era a exposição da intimidade nas redes sociais e os perfis que são criados para definir objetivamente uma impostora subjetividade, posto que nossa subjetividade é conferida ao que é íntimo e o que é íntimo não é público, fico a me perguntar o tamanho da bronca que estamos comprando com esta inominável gama de artificialismos que construímos, como personagens que editamos para apresentar a um determinado público. Isto determina que a marca desta geração é o selo da aprovação pelo externo.
Há uma estética publicitária do que é bonito e isto da o norte do que a edi-tadura social preconiza.
Eu, particularmente, não sou mais do que um rótulo nas redes sociais. Não uso messenger, embora tenha conta e perfil, assim como no Facebook, orkut e twitter. Não tenho o hábito de linkar nestes sites e costumo responder com alguns meses de atraso. Embora tenha me interessado  e até investido algum tempo, não me sinto atraída. Muito raramente dou uma espiada e mantenho a conta ativa. Já houve tempo em que olhava mais frequentemente, mas perdeu um pouco a graça. Não significa que é para sempre.
Lembro que em épocas remotas da internet eu frequentava o mirc, Icq  e cheguei até a fazer boas amizades em salas de bate-papo, mas isto foi no pleistoceno quando as salas tinham poucas pessoas e se usava nick name.  Veja o contra-senso, usar um nick name para (não) idenficar-se ...
Atualmente as pessoas colocam toda a sua vida exposta para aprovação pública. Interessante isto porque na construção que conheci e não faz tanto tempo guardávamos nosso eu , resguardávamos , salvaguardávamos o que havia de mais singular  e isto nos colocava sob nossa própria aprovação. Agora as pessoas se apresentam sob diferentes recortes e num máximo de exposição para apreciação pública.
Não creio que seja ruim ou bom, é apenas diferente, um novo universo a ser digerido por esta geração a qual pertenço que é um pouco divisor de águas de dois tempos.
Nunca vai haver uma absoluta justaposição entre o que pertence a esfera pública e a nossa ordem privada  e por isso vamos sempre criar perfis, ou escudos de sobrevivência. Lembrei do filme francês "Medos privados em lugares públicos".
Será que somos todos grandes hipócritas?
O psicanalista Jorge Forbes diz que o homem precisa estar destituído do peso das identificações verticais , gostei da forma como colocou que precisamos ouvir nossos silêncios e ser flexíveis aos tempos, embora sempre tendo um eixo para se amarrar.
O fato é que seres virtuais não deformam, não soltam as tiras e não tem cheiro....
beijo Lacaniano

sábado, 11 de dezembro de 2010

O intervalo..

A fala rápida e a respiração ofegante, o olhar assustado e um tanto grave denotam o pensamento disparando. Aliás uma chusma deles bombardeando a mente de forma inclemente. A fome domina o conjunto de sensações e permanece latente e incômoda. Desligou o telefone. Calou-se ainda andando pela casa. Parou .A estranha aparece em frente ao espelho com aquela expressão familiar, arqueando a sobrancelha direita.
Sim ainda era ela que estava no controle, aquela estranha com quem convivia ha tantos anos ou uma face, uma parte dela que se refletia abatida na imagem.
Era surpreendente como tudo mudava tanto e tão rápido a ponto de colocar suspeita sobre seu senso de realidade.
Tentava transitar pela química do corpo e manejar corretamente os sinais. Olhou novamente para o espelho "sorria". Não adiantou, o sorriso saiu enviesado e colocou músculos adormecidos e empalhados no semblante pálido. A fisionomia é o velho pergaminho que se esfacela ao primeiro toque.
Pare agora !" Dispare contra o sol sua metralhadora cheia de mágoas.Ainda estão rolando os dados, o tempo não pára."
"Aprenda a ver no escuro do mundo aonde está o que você quer pra te transformar no que te agrada, no que te faça ver. Quais são as cores e as coisas pra te prender?"

Beijo no Cazuza
da melind@

Mimetizando a normalidade..

Depois de ficar uns dias aleijada porque fiquei sem conexão senti os efeitos de uma síndrome de abstinência destas letras que me expandem. Achei uma identidade ontem com esta sensação quando assisti ao filme "Medos Privados em Lugares Públicos", que é do francês  Alain Resnais.
Terminei o filme incomodada porque fiquei esperando algum momento em que espetariam uma agulha no meu fígado e eu vampirizaria dali as fortes emoções que me alimentam.
Fiquei refletindo sobre os nossos medos íntimos que, ironicamene, escapam pelas rachaduras  inclusive quando escrevemos. A esperança(ou ilusão) de obter a felicidade idealizada ali adiante, pronta e acabada como uma peça de arte ou uma paisagem não combina com nossos segredos intimos e desafiadores.
O filme se baseia nos medos íntimos que se escondem atrás das conveniências sociais, como uma barragem que precisa segurar as águas para que o objeto se concretize, no caso a sobrevivência no espaço público. Os medos não podem ser expressados no espaço público ( trabalho e ambientes sociais por exemplo) e os  personagens funcionam como cascas para carregar as angústias e dores secretas de cada vida pulsante atrás delas. As velhas máscaras. 
Somos hipócritas e mimetizamos a "normalidade" quase todo tempo porque há uma discordância orgânica entre a nossa ordem individual e a ordem social.
O medo da solidão e o desejo de encontrar ou estar com alguém são as duas forças mais presentes no filme. São seis histórias que se cruzam em matizes diferentes mas traduzem esta solidão que nos impomos e o mais incômodo ao assistir ao filme é que os protagonistas nos causam aquela sensação de frieza, como se  tivessem desistido de sua verdadeira natureza.
Eu tenho claro esta dicotomia com a qual convivemos e a dependência deste verniz que mantém a ordem social, mas fico secretamente  aliviada por saber que as verdades ainda estão ali, que nem tudo está perdido e que  por trás da  jogada ensaiada existe calor e humanidade.
Eu sou da época do Long play, mas o meu universo de referência acaba sendo ultra atual, somos mesmo criaturas estranhas. Como bem diz uma Clarice Lispector o que mais revela é o que cala.
beijo calado
da melind@

domingo, 28 de novembro de 2010

Quem você pensa que é II...



Tirando fora a armadura social sobra a criatura que se reflete no espelho e é surpreendente. Quem você pensa que é?
Sei que meu invólucro tem prazo de validade e percebo que nunca é o mesmo do dia anterior, mas ele ajuda a definir quem eu sou. Eu acredito que dei a ele este formato e também que empresto a ele o meu olhar diariamente. Eu o vejo(meu invólucro) do jeito que estou naquele instante. Eu o enfeito e adorno para enfrentar o campo de batalha.
Gosto de lembrar os guerreiros aborígenes quando se preparavam para seus rituais. Pinturas, peles , ossos e danças. Acho que ainda reproduzimos um pouco deste ritual no dia à dia.
Ao olhar no espelho encontramos com a matéria-prima para o dia de hoje e então bolamos qual será o mote, que cores e panos vamos colocar. A energia que se reflete do espelho vai nos inspirar a construir a armadura para enfretarmo-nos mais uma vez.

Minha cobertura, postura, forma de mover e aportar nas mais diversas situações foram construídas quadro a quadro na imagem que reflito. Uma espécie de metalinguagem. Algo deve ser herdado acredito. Algumas pessoas me dizem que caminho como minha mãe(por exemplo), altiva.
Estabeleço uma comunicação pelo simples fato de possuir uma forma manifesta. Esta é a parte mais fácil acho.
Há ainda ( no quesito quem penso que sou) a questão do ego, que a meu ver é muito perturbadora. Elogios ou críticas tem o mesmo condão. São da mesma linha, servem apenas para criar uma expectativa a alimentar um caminho irreal. Por que se preocupar com a opinião alheia?
Com uma pergunta dessas posso passar muitas existências até descobrir que sou uma infinidade de outros.
Há uma grande ambivalência entre minha pretensa singularidade e as absolutas afinidades que encontro por toda parte. O que me torna parte de um todo.
Olhando a foto do rosto construída com muitos corpos nus que coloquei no blog há uns posts atrás,  me absorvi por um pensamento claro. Sou um amontoado de outros que se acumulam em mim.
No universo aqui dos blogs é impressionante como encontro nestes endereços aqui ao lado uma infinidade de alelos meus.
Como é possível ouvir suas falas no texto de alguém que jamais conheceu . São as afinidades que constroem as pontes que conduzem nossa história. São nossas sinapses culturais que vão se consolidando e revelando nossa gênese espiritual ou transcendencia.
Desta forma fica impossível tentar definir quem penso que sou sem considerar que sou( somos) um ser em permanente construção e que não posso me ver apartada de todos os outros seres com os quais me identifico e cujos pensamentos e idéias me saciam a sede e fome de entendimento. Lembrei muito do humanista Robert Happé quando nos propõe a vida como uma experiência solidária de irmanação com o todo.
Somos uma grande experiência ao mesmo tempo individual e coletiva. Por um lado vejo que o entendimento do todo auxilia a melhoria da conexão interior que precisamos ter , que se faz tão necessária como refúgio para busca de um equilíbrio lúcido contra a panacéia de artifícios mundanos que criamos. Por outro é preciso aprofundar o conhecimento de nós mesmos , seguir rumo a esta viagem transcendente que embrenhamos por nosso interno tão enigmático e confortável ( ao menos para mim).
Não gosto muito da expressão difícil , prefiro pensar em momento certo, assim as peças vão se encaixando do jeito e no momento certo, a medida que nossas compreensões vão mudando.

sábado, 27 de novembro de 2010

Promessas e Juras

Promessas e juras são atos irrefletidos. São resultado da nossa necessidade de criar ciclos de ilusão em nossas vidas e que se alastram pelos vínculos que criamos. Se filtrássemos estas atitudes com alguma ponderação perceberíamos que não pensamos antes de prometer algo. É imensa a energia que gastamos com o rebuliço e mal estar de não cumprir uma proposta que nos fazemos ou pior, que fazemos a outra pessoa.
 Vivemos quebrando nossas promessas conosco. Aquela dieta de segunda-feira, aquela academia, aquele livro que iríamos terminar, aquela proposta interior de controlar a língua, juramos que vamos adotar uma postura mais otimista e até prestar mais atenção nos próprios pensamentos. PRESTAR ATENÇÃO nos próprios pensamentos  é campeã de audiência! São banalidades, sei, mas se repetem "ad eternum" e soam como pequenos fracassos. Claro que vão comprometer nossa moral que já não anda tão elevada.O ego não tolera muito estas sensações.
Não pensamos antes de fazer uma promessa  e normalmente não temos a menor intenção de cumprí-la. Pode parecer cruel, mas no momento que a proferimos já sabemos que não vamos levá-la a cabo. "Prometo que vou te ajudar" , "prometo que vou estar sempre ao teu lado" ,"prometo que vou prestar mais atenção"," prometo que vou tentar"," prometo que vou te ligar"," prometo que vou te amar" , não vou te decepcionar". Ainda não defini o motivo para tanta falácia, este barulho monumental poderia ser um filme silencioso cujos textos enxutos e precisos ganham em essência e se livram da perfumaria.
Acredito que o  simples fato de pactuar o compromisso já serve como um adiantamento sucesso ( o projeto bem sucedido), já nos apazigua a alma e aí tudo resolvido(por hora). Parece mesmo mais uma obra do imediatismo que se faz presente.
Repetimos as mesmas atitudes e esperamos resultados diferentes. Não é assim? 
A única defesa em nosso favor é que não agimos mal intecionados, pelo contrário, queremos ver todos felizes , ainda que os estejamos iludindo.
Prometer é gerar expectativa, é com-álguém-prometer-se, é oferecer um quinhão de nós mesmos em garantia! Só avaliamos de fato as consequências geradas pela  palavra empenhada quando estamos do outro lado e somos os credores esperançosos.
Aprendemos este joguinho quando crianças. É uma tradição entre as gerações.
Não calculamos o quanto geramos de frustração e decepção nas pessoas.
Lembro sempre de um amigo que contou constrangido que sempre dizia a um colega que passaria mais tarde para tomar chimarrão ( o que jamais fizera) e tempos mais tarde soube que o colega preparou-se e ficou  esperando por muitas vezes.  Lamentável não é?
Aquele telefonema que nunca acontece. Hoje eu ouvi uma psicóloga dizendo que a nova definição de amor está em ter tempo disponível para alguém. O tempo que disponibilizamos ao outro afere o quão importante este é para nós.
Ao final abrimos mão do que realmente importa em favor de uma rotina de Hércules que estabelecemos para nossas vidas. "Sempre muitíssimo ocupados"  parece uma desculpa bastante convincente para justificar a quebra de juras . Hoje ouvi também algo que considero muito importante  que é ter autonomia, saber até onde posso e quero ir. Não preciso dominar todas as tecnologias e competências de meu tempo. Tenho meu próprio tempo( parafraseando a música do Legião Urbana).
Adotei nestes últimos tempos a tática de anotar na agenda minhas falsas promessas. Estou inventariando meus furos. Um rol interminável de pactos selados ao vento e de palavras fugidias.
Promessas são falsas seguranças e ilusões e diagnosticam muito do que somos. Acho que  constituem a parte de nós que participa deste grande mundo ficcional no qual estamos inseridos . Prometer é coisa do Ego . São pequenos enganos misericordiosos que adotamos de bom grado. Enfim, prometo que vou continuar rasgando os contratos de longo prazo e prestar mais atenção no caminho.
Acho que não trouxe este papo por nenhum motivo especial, apenas por ter sentido um certo gosto de dúvida na boca enquanto vasculhava meu baú.
beijo casual
da melind@

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Era uma vez ...

Era uma vez e uma vez apenas era. Uma vez porque  apenas a um tempo entre dois tempos  pertencia.
Era uma vez um tempo que se estendia  entre dois tempos de relógio. O tempo daquela vez fora acordado pelo vento que soprava como música de primavera.
Era uma vez naquele tempo uma noite entre dois dias. Uma daquelas noites intensas que aparecem uma única vez inesquecível. Uma noite abraçada ao escuro quase completo e azul.
Era uma vez um escuro profundo e único que só não era completo por causa do resto de sol refletido na lua  que deixava o escuro azul.
Era uma e só uma vez uma noite  azul escura entre dois tempos despertada pelo vento que cantava sobre os objetos. Um vento jamais ouvido que provocava as coisas do instinto e silenciava os barulhos do mundo.
Era uma vez uma dor que não doía, só estava lá deitada sobre a noite azul escura entre dois tempos.
A dor que não sentia continha uma verdade inteira  daquela vez. Era uma vez e só uma naquele encontro do vento com a noite, o tempo e a dor. Ali se revelaram um para o outro, se fundiram definitivos um escuro azul, um vento musical , uma dor que não doía e um tempo que já não existia.
Era uma vez e só uma.

beijo
da melind@

domingo, 7 de novembro de 2010

Estar perto não é físico...

Claustrofóbico

Mr. Tambourine Man é o autor de um Blog e protagoniza o filme " Os famosos e os duendes da morte" do diretor Esmir Filho . O blog parece ser a parte mais real de sua vida. Tristeza, solidão e inadequação são as sensações que o jovem de dezesseis anos expressa.

Achei uma experiência muito interessante assistir ao filme com trilha de Bob Dylan ( Mr. Tambourine...) e que acontece em uma pequena cidade gaúcha de colonização alemã. Só pela atmosfera típica do interior, quase campanha já vale muito. Os chalés de madeira e o trem apitando.
Eu tive um namorado de Santana do Livramento que morava em um chalé de madeira destes meio sítio no centro da cidade. Aquele cheiro de fogão a lenha e aqueles estalos na madeira. O mato que cercava a casa.

Bom, mas voltando ao filme, algumas cenas são bárbaras como a que os amigos se encontram de madrugada para fumar sentados nos trilhos do trem . É uma viagem e tanto . O silêncio e o riso falam com sutileza.

Outra cena hilária é a do encontro com os avós( a distância abissal do avô alemão) e depois quando os avós vão para a festa junina ( ponto alto da noite na cidade) vestidos com trajes de noivos. É surreal. Nota dez também para a cantora de músicas típicas alemãs.

Mas a mais significativa é quando o garoto abraça a mãe no meio da festa e ambos dançam e choram em uma despedida sem separação.

A cidade e os personagens nos são apresentados através das memórias do garoto, que vive com sua mãe, viúva recente. Ambos atravessam momentos muito difíceis e várias vezes ele retoma a idéia de partir.

O filme centra em uma ponte (vale do Itaqui?) onde os habitantes se suicidam com certa frequência. É uma cidade que exala o peso da vida de seus moradores, isolados por um anacronismo incurável.

Através do blog o jovem revela sua dor imensa e nos faz entender o ponto em que a vida se torna insuportável.

As cenas recorrentes envolvem imagens filmadas para o blog de uma jovem suicida e um suposto namorado, que vai surgir para costurar a trama.

O filme é de grande delicadeza e vai se contando com naturalidade. São diálogos curtos e instigantes. ( Um sofrimento para uma tagarela como eu...fiquei falando mentalmente como uma doida)

Folk- Rock e fotografia  nos convidam a penetrar na mente confusa e solitária do adolescente e desvendar seus vazios . Pareceu-me que o diretor sugeriu uma sexualidade indefinida e qualquer identidade com comunidades Emo. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Eu gostei.


Veio ao encontro do que eu havia falado em outro post sobre o comportamento de jovens e adolescentes , sempre acompanhados de suas câmeras , celulares e notebooks. Sempre conectados e quase nunca disponíveis para uma conversa de mais de dez palavras. Vídeos narcisos e movimentos andróginos estão bem caracterizados na película do diretor de "Tapa na Pantera".


beijo claustrofóbico

da melind@

O caminho sob o sol..

Depois de muito remanchar decidi retornar com alguma atividade física nos finais de semana. Já tem um ano , creio, que tenho me restringido a fazer alguma atividade durante a semana e durante o final de semana sedentarismo do mais puro. O resultado é que minha coluna está dando em grito. Decidi fazer uma caminhada hoje. Voltas e voltas depois saí , já marcava 11:35 quando rompi o marasmo para fazer quarenta minutos de caminhada acelerada. Trilha sonora no ouvido, boné e muito filtro solar. Lancei-me.
Fui a pé até o lugar mais próximo para fazer caminhadas, o canalete das hortências(mortas) aqui em Bigrivertown.
Deparei-me com um deserto lancinante. O sol fustigante não estava nos meus planos iniciais, mas quando percebi o inevitável tomei o cenário como um desafio. Resolvi atravessar o deserto sob o Sol e ver como meu corpo se comportaria diante de tanta provocação. Isto é muito bom.
É muito bom sentir o sangue circulando e o corpo vivo e agitado pela atividade.
Quando se anda no deserto tudo se expressa. A folha seca tem sabor de efeito especial. A brisa rara vem dar um carinho e vez por outra transita uma alma que deixa escapar um sorriso amistoso.
Ao transitar num deserto quente de domingo enquanto as pessoas circulam para a volta das mesas e se dirigem aos restaurantes, principalmente churrascarias , ando para além do fluxo. Saio da fila e ando na contramão.
Neste interregno de tempo estava eu no limbo, no tempo parado da minha música e do meu corpo que luta contra a inércia. "Fly me to the moon" canta Sinatra . E eu apartada do mundo em meu deserto particular.
Dois cachorros sedentos cruzam meu caminho em busca de uma sombra e água. Um velhinho traga sofregamente o cigarro. Parece impaciente sentado na porta de entrada do Edifício Teatro ( eu nunca havia visto que ali existia um edifício teatro- deve ser porque fica em frente ao próprio). Será que está a espera de alguém , será que tem alguém para esperar em um domingo deserto e tórrido.
E Jamie Cullum canta "What a difference a day made, twenty four little hours ..." e sigo minha trilha sob o Sol . Um funcionário da companhia riograndense de saneamento acompanha de dentro de uma camionete a aventura da água que se acumula entre os paralelepípedos .
Men at work arrisca "Beautiful World" e eu assino embaixo.
Eu gosto de nadar neste mar de novidades . Senti minhas bochechas vermelhas e o sol meu companheiro. Passei em frente a uma Igreja evangélica onde se arrebanhavam alguns fiéis , provavelmente para as atividades de domingo. Ao chegar ao final da trilha nada mais se movia além de mim.
O estranho é que tudo me pareceu novo e diferente apesar de já ter realizado este caminho inúmeras vezes antes. (Prefiro um mundo real a uma esteira de academia).
Éramos apenas nós naquela trilha de hortências ressecadas. A medida que a hora avançava o calor vertia dos meus poros . Cumpri minha meta e rompi com o estado de "ponto morto". O gasto energético foi significativo, mas valeu o preço.
Cheguei ao trecho de Pavarotti que estava acompanhado de Bono Vox. Its there a time.
Is there a time to run for cover

A time for kiss and tell

Is there a time for different colours

Different names you find it hard to spell ...



Está na hora, já é tempo de movimento...
beijo desértico da Melind@

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Minhas mentiras sinceras..

Quando leio alguns toques de alma como os que escreve um Fabrício Carpinejar me sinto um iceberg embotado, incapaz de expressar sentimentos. Aliás me vejo como um amontoado flutuante de sofismas, escudos e armaduras.
Eu venho tentando quebrar o muro que me separa das minhas espontaneidades ou de meu estado de natureza, mas acabo por encontrar um mar de veleidades e fico com aquela sensação de prótese.
Acho que as experiências deveriam nos mostrar o quanto é mais honesto ser suscetível e legítimo. Deveriam servir de parâmetro para que, ao invés de usar subterfúgios e ser arrogantes, fôssemos humildes e sinceros com nossos propósitos e com o outro.
Demonstrar sentimentos humanos é o que deve-se ter por princípio, mas acabamos tornando a pretensa soberba uma virtude. Aquela frase máxima do "comigo ninguém apronta" ou "eu não dou mole". A verdade ululante é que todo mundo já foi preterido, já foi enganado e magoado.
A diferença está em como encaramos isto.
Parei para atender o telefone e quando retornei ao post pude identificar as perniciosas voltas que dei para não dizer aquilo que me levou a escrevê-lo.
O fato é que eu ainda acho que o amor é algo puro, belíssimo, íntimo e um sinal de maturidade. Não perder a capacidade de sentir é uma virtude.
Flutuar como um babaca alado, babando na própria gola é uma atitude muito corajosa. Derramar-se em atitude não é falta de comedimento ou circunspecção. O importante é viver de forma autêntica e não temer o olhar que brota da presunção.
Penso que construímos uma estética em torno do que é escolado, politicamente correto e ou elegante no que diz respeito ao amor.
Minha afilhada tem vinte e dois anos e chama o pretendente de projeto. Expressa o interesse como se fosse uma estratégia de marketing e as possibilidades como uma pesquisa de mercado. Isto é o que estampa às custas de muita sublimação.
Fica claro que tanta frustração manifestada pelas pessoas tem uma razão óbvia. O medo de não ser um sucesso.
Admitir que fazer dar certo é o mais difícil e que as possibilidades de fracassar são sempre , no mínimo, de cinquenta por cento e que sem elas a vida seria um tédio, uma linha reta, uma quimera...seria um bom começo. Se não tem o ruim, não tem o bom.
Na coreografia das relações pessoas passam a ter perfis e apresentar requisitos. Isto não tem nada a ver com viver. Ainda acredito que viver é estar presente nas experiências e correr o risco de haurir o mais intensamente ainda que sob a sombra do tempo que diz que tudo muda e acaba em um certo momento.
Concluindo, poderia afirmar que é muito difícil viver de verdade , digo, estar na própria pele quando as situações surgem e enfrentá-las sem pudor ou medo do julgamento alheio, do suposto"fracasso" que contrariamente a tudo isso é apenas um atributo do ego e o ego, sabemos, é vaidade . Vaidade é sinal de pouca elevação intelectual.
É! Não somos de plástico e dificilmente vamos encontrar algum personagem em um filme que seja igual a nós.
Ufa! Ainda consigo identificar a beleza única contida na espontânea e falível experiência humana de amar.
beijo alado
da melind@

domingo, 31 de outubro de 2010

Apenas vicejar


Descubra sua opulência,
ostente-se exuberante,
brote,
Lance e estire suas pernas
sobre o mundo,
Expanda-se, exale-se,
torne-se e entorne-se
gaste-se,
dispenda-se e multiplique,
enleve-se à máxima potência,
extraia sua raiz suntuosamente..
Canibalize-se, vislumbre
os comabalidos,
Contemple os trôpegos,
Sente-se no sofá,
Não acabe no que cabe,
desabe, deixe resíduos
reproduza-se ,
duvide, revide
invada suas
tropas com o território
inimigo,

Leia-se , sinalize
encontre e perca,
cause, extasie,
eleja-se e
cuide-se....

Amén

sábado, 30 de outubro de 2010

Quem você pensa que é?

Eu tenho um soldadinho de plástico que fica sobre uma prateleira. Ele é membro de um exército de forças que se ocupam de vigiar meus pensamentos. O soldado tem uma história que um dia eu conto, mas faz parte de uma escolha que fiz . Eu adoro alegorias porque são libertadoras, como se fosse um jeito torto de entender ou de se perder num entendimento. Fujo dos aforismos.
O meu soldado simboliza um centro de triagem de idéias e quando ele aparece geralmente é o indício de que preciso fechar a porta e esvaziar um pouco a mente. Limpar a coreografia. Mas aí estava esta perguntinha aí em cima brilhando em néon e me pedindo pra falar sobre as minhas fronteiras a quem interessar possa. Não é a primeira impressão a que fica!

(...)E no começo era a pergunta...


Se eu me propusesse a descobrir quem penso que sou, confesso que não seria uma tarefa simples. Menos ainda uma tarefa possível, pois na verdade o tudo que sou não me revela. O que me denuncia é justamente a parcela de mim que não concebo.
Todas as falas e cores que introduzo não são mais que um jogo de luzes no palco. São truques que escondo na manga e que me sugam energias insondáveis. Todos os meus talentos são emprestados, por um tempo bom, talvez um período de teste enquanto viajo por meus países distantes, e muitos nem uso ou simplesmente desconheço. Outros não aprimoro, nem acredito. São tantos os talentos que granjeei que não me permito usá-los. Os poucos que descubro me assombram.


E assim eu vou não descobrindo quem sou, não fazendo por vezes a mínima idéia do que esperar de mim.
Se eu tivesse que definir quem penso que sou ficaria parada a contemplar meu deserto, talvez por uma vida e ainda assim não restaria nada a dizer. Isto porque sei que não somos definíveis pelo que vertemos, mas apenas pelo débil instante em que tomamos consciência do todo de nós.

Por segundos me encontro no outro logo ali. Desperto sensações que me simulam. Parecem muitos meios de um único inteiro. Aí neste exato ponto identifico alguns sintomas de quem estou.

Sou um colar de lapsos concretos de verdades cheias de inconcretude. Sei que a substância que busco é justamente o que me entorna de volta ao vazio de mim.

Definir quem penso que sou é uma armadilha , uma charada que se apresentou na porta do meu primeiro olhar para o mundo.

Provavelmente a fórmula não seja o caminho, não obstante inexista caminho.

Mas escrever é este desvio para fora da estrada, este delicioso desencontro de nós. Isto é certo.

Nas linhas errantes e incertas vão aparecendo vestígios de verdades acerca do meu sujeito mais que "im" perfeito e vão se desenhando sombras, abrindo lacunas e preenchendo vazios.

A linguagem que veio para formatar o pensamento acabou por libertá-lo e dar a ele as tintas para criar seus neologismos particulares em múltiplas construções.

Se eu me propusesse a descobrir quem penso que sou precisaria simplesmente continuar esta mescla de mim com o outro, com o todo e com minhas infinitas faces do avesso.



...neste espaço que atravessa

o sempre , tem o tempo

tem a gravidade, o vento

e a eternidade...



E o soldadinhho estava deitado esta manhã....


Who do you think you are?Arte

Beijos da milícia

da Melind@

domingo, 24 de outubro de 2010

Interagindo de verdade....?




Ontem num restaurante me senti um peixe fora d'água. Estou aqui a pensar porque há dias em que não conseguimos nos enquadrar na moldura. É um não entender pra ninguém botar defeito. Eu até gosto destes meus mexericos internos. Me colocam dentro dos detalhes .Por essência os detalhes nunca me interessam. Passam no filme sem vestígios. Mas ontem fiquei perturbada.
O chopp era sem sabor, a carne não é mais parte dos sabores que eu gosto. O assunto era polido e afável. O tempo se arrastou . A graça foi forçada pelo meu desejo de ver o tempo correr embora. E um eu por dentro pensando.
Um eu por dentro observava com o dedo em riste e dizia:
- O que é que você está fazendo sentada aí?
Nada era inteiro no sabor. Era como uma sinfonia sem maestro.Eu olhava os detalhes. Os risos sem cor, os modos calculados e a pauta pesquisada à exaustão por dentro das idéias. Não havia muito a dizer. Eu sempre tenho tanto a dizer. Não achei minha avidez.
Na imagem quadro a quadro estava tudo fluindo, mas o todo estava parecendo um filme sem roteiro. Eu não achava o meu texto.
Começei a despertar aqueles pensamentos ácido-analíticos que acham tudo uma grande borosema. Felizmente havia música.
Encontrei uma dessas conhecidas que sugerem uma aparência deslambida e insossa e logo pensei que era a pessoa mais próxima do ideal. Estava menos armada. Trouxe consigo apenas seu conteúdo, sem rebusco.
Saí do meu compromisso social com a idéia de que havia excessivo rebusco e pouco sentido.
Uma espécie de metalinguagem sensorial.
Enfim, dei por falta do selo de autenticidade da minha criatura. Estava postiça no cenário e nada do que eu sentia parecia perceptível a olho nu.
Toda a camuflagem que coloquei me deixou despida, descalça ou desguarnecida de minhas multidões de mim. Meu arremedo de fobia social.
Quando bateu meia noite voltei meus olhos excessivamente delineados para o relógio. Dei-me conta que estava sem. Bati em retirada no fluxo dos demais. Entrei na carruagem e fugi para minha caverna de volta.
Retirei o sorriso de plástico e me encontrei ali, só, à espera de algum sentido.
Somos bichos estranhos!

beijo fóbico
da melind@

Nem preciso dizer que me apaixonei por este vídeo. Emocionante.Fala sobre afinidades para além das formas.

sábado, 23 de outubro de 2010

Gavetas abertas: pequenos indícios da verdade de Jung..

Foi em uma destas noites com sol que o Flávio Venturini costumava cantar que ela deu por si, ou por uma destas multidões dela mesma que encontrara pela vida. Talvez o assunto que a levara ao ponto em questão fosse sim o amor.

O lugar poderia ser uma das ruas que cruzam a principal na praia de Cabeçudas em Balneário Camboriú, a rua subia de forma cada vez mais íngreme, como se quisesse fazer tudo escorregar para o mesmo ralo da praia. Não era possível ver o início nem o fim da rua que subia, mas ali estava o sobrado cheio de luz muito branca. Era uma construção quadrada sem muitos detalhes. Só havia metal e aquele branco translúcido, aliás um branco lúcido e revelador.

Em seu interior revelavam-se as memórias. A sensação era de descoberta. Passou a eternidade de um dia naquele instante em que se discutiam os sonhos. Cloncluíra estar dentro de um , no fundo de uma gaveta onde encontrara uma verdade insólita.

Havia um momento de partida da consciência. Havia uma distância da consciência que se podia atingir. A partir dali, daquele tempo e daquela distância, o cronômetro interno iniciava a contagem regressiva. Como se o ralo começasse sugar de volta.

Se não retornasse daquele ponto perderia-se daquele ponto para sempre. Não poderia mais retornar àquela existência, ainda que fosse só um sonho.
Estranhamente estava ali o pai, que encontrara pela última vez em um leito de hospital minutos antes da última parada cardíaca . Estava muito a vontade e contribuía com a conversa silenciosa que acontecia entre os pensamentos. Tentou dissuadí-lo a mudar. Quis entender porque ele desistiu de ser aquele que ela idealizou ou que acreditou que fosse. Quis saber porque se abandonou ao tempo. Por que havia envelhecido?

Passou um dia de sol frequentando pedaços de memórias que se perderam uma após outra.

Dividiu-se entre o som dos sonhos e os sons da vida que se desenhava em outra manhã de Sábado.

Chamou a mãe para acompanhá-la e começou a descer a rua. Sentiu que estava chorando e continuou descendo a rua sem ver seu final. Havia um momento de partida. Havia uma distância da consciência que poderia atingir. Olhou para trás e não havia mais ninguém. Deixou suas memórias naquele endereço branco e brilhante da rua perpendicular. Fechou a gaveta com sua descoberta e despertou.

Ao fechar a gaveta ainda estava repleta das sensações doloridas que trouxera do epicentro de suas multidões.

Um caneta, precisava de uma caneta. As cores foram escoando para aquele ralo de tempo. As verdades foram ficando embaçadas até restar a leitura fria das lembranças, exceto pelas lágrimas e pelo frêmito de tocá-las, tão reais ..


Beijo atemporal

da melind@

sábado, 16 de outubro de 2010

Arte: talento é talento




Trabalho de Andreas Smetana recriando o rosto da atleta australiana Cathy Freeman a partir de corpos nus. Luz...efeitos e os corpos viram um mosaico e tomam forma.
Aqui vai a foto inteira. Gostei mais do olho(resolução )!! Mas o trabalho é formidável. O processo todo de criação está no endereço:


As impostoras...

O rosto da atleta australiana Cathy Freeman foi recriado pelo fotógrafo Andreas Smetana para um programa da SBS-TV intitulado "Who do you think you are ". Sensacional não?



Venho aqui pra dentro da palavra
me esconder quietinha.
Venho pra encontrar
comigo, com meus eus e suas
lacunas.

Me ponho em pequenas
orações entre concreto e
nuvens pra lembrar
meus vazios ..

minhas porções de texto
ilegível, respostas sem perguntas..

Meus vácuos como
verbos defectivos, não se
conjugam em certos tempos
e pessoas..

Me expresso
pra ser quem não sou um pouco..
pra me exibir, me provocar..

Monto e desmonto as peças e
como nada mais se encaixa
quando se altera substância,
fico a levitar sobre mim,



Anseando por mais do puro
e intocado bocado de mim..


Sigo encontrando muitas
in-tocadas e ao tentar traduzí-las,
sei que somos
de fato intraduzíveis
impostoras.



beijo embusteiro


da melind@

obs.: A foto lembra o estilo de Spencer Tunick sobre fotografar os pelados...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Minhas crianças..

O Totó de Giuseppe Tornatore é a minha inesquecível criança....meu sonho, minha lágrima e meu eterno rebuliço. É sublevação, alvoroço, festa e inquietação. Eu hoje assisti novamente o meu atualíssimo Cinema Paradiso. Este sorriso é minha homenagem a todas as crianças de todos os tempos que fomos e sempre seremos...




beijo efervescente

da melindinh@

Especulando sobre reminiscências

Platão acreditava que uma reminiscência é uma lembrança do que a alma contemplou em uma vida anterior, quando, ao lado dos deuses, tinha a visão direta das idéias.
Só a filosofia socrática poderia imaginar que é possível ter uma visão direta das idéias. Diretas a partir de onde?
Não precisa responder porque sei que seria uma resposta vascularizada "ad infinitum" como prega a boa filosofia.
Para Platão não era exatamente como lembrar de uma receita de pão, mas mais ou menos como o sabor daquele picadinho que só a sua mãe sabia fazer. A reminiscência traz consigo um tanto de sensação porque é geralmente associada a uma emoção que ela foi armazenada. Isto não é simplesmente apoteótico?
As lembranças ou memórias se modificam quando mexidas. Isto não sou eu que estou falando. É a neurociência. É um dos fatos mais interessantes que anexei às minhas reflexões ultimamente. Já havia falado sobre isto em Revirando as prateleiras......
Desta forma posso afirmar que muitas das minhas memórias são um embuste. São formas que maquiei com as pinturas do tempo e das emoções que fui misturando a elas. Claro já não tinha uma visão direta da idéia. Esta vai se perdendo até que a lembrança se torna outra.
Nas minhas tentativas em fazer terapia eu sempre me tornava um folhetim em vários capítulos duas vezes por semana. Eu é que deveria cobrar cachê. Colocava emoção e colorido nas memórias e reconstruía os acessórios.
Nunca movi os fatos. Sempre procurei ser fiel ao evento, mas colocava alguns detalhes quase imperceptíveis para poder aceitá-los. Nunca suportei histórias mornas. Não tolero muito a brandura ou a palidez. Mas o interessante é entender que se está lembrando de algo que se tornou parte daquela memória. Isto deve se chamar cura. Seria como transitar por algo e torná-lo aceitável. Será?
Não sei se isto é um talento, uma virtude ou um grave problema de caráter. Não chego a tanto.
Na verdade eu nunca consigo permanecer até cansar. Geralmente pulo fora das terapias quando a coisa esquenta um pouco.
Talvez eu não queira libertar todas as bruxas de uma vez.
Algumas de nossas lembranças são simplesmente eliminadas do âmbito acessível e vão habitar o nosso subconsciente, onde se tornam desconfortos ou sensações reflexas que não compreendemos. Isto eu chamo de sacanagem!
Em meus inúmeros encontros com Jung como A saga de Jung :episódio de hoje" Os sonhos morrem primeiro" e Contatos imediatos cosmopolitas ...Jung Spock que acabo narrando aqui, eu descubro muitas e muitas coisas sobre ser e parecer que tornam fascinante conhecer pessoas.
O fato é que minha visão direta das idéias é cada vez mais indireta e eivada de nuanças novas . É sobre isto que costuro neste post. Valha-me Sócrates...

Beijo filosófico
da melind@

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Meditando ou fantasmAGORANDO

Você...


- Ei, quem é você? Não vê que eu estou aqui meditando.. Que falta de respeito! Eu hein!!!(...)
Não vai falar nada?

- ...


- Quer parar de ficar sorrindo e abanando este vestido comprido...Nem se usa mais estes modelos... E por que está em preto e branco?


- hi hi hi...


- Agora tá rindo de que? Olha eu tenho pouco tempo pra relaxar e não estou precisando de imagens fantasmagóricas dançando na minha frente. Vai indo porque a fila anda. Já tenho meus fantasmas preferenciais. Ommm !!


-...hi hi hi

- Só sabe falar isso? Não sabe conversar?


- ...


- Ok, eu já estou te conhecendo. Você não é aquela irmã do meu avô Manoel que ficava com um sorriso congelado naquela foto pré-cambriana que meu pai guardava ? Claro que sim!! Eu logo vi que já tinha te visto por aí.. Temos a mesma sobrancelha. Reparou?

-...

- Mas o que vai ser? Como estão as coisas aí pelo outro mundo em Portugal? Tudo bem, até que eu tinha uma tia avó, talvez duas . Tem um sorriso muito simpático. Tá bom!! Então adeus... foi um prazer.
(Exala)


(Inspirando, retendo , exalando, 1, 2, 3...)

- ...

- O que ? Ainda está aí? Mas será possível? Se não fosse uma morta de uma foto amarelada ! ?
Veja bem, você é um fragmento de uma memória que o meu cérebro esta completando com uns acessórios para interromper meu exercício.

- ....


- Ah, agora está dançando .. e sem música!! Por acaso era alguma espécie de perturbada alegre? Não tem noção não?
...Você morava onde mesmo? Ah! Aveiro? Aun! Parece um tanto pacato hein!! Cresceu bastante é? Deve ser por isso que veio atormentar minhas memórias aqui além do horizonte. Esquisito ser uma memória....Lamento não ter guardado nenhuma daquelas cartas que meu pai recebia!! Eu não sei o seu nome.

-...

- Olha, esse lance familiar é muito sério e eu tenho o maior respeito por estas tradições , mas será que não dá pra assombrar outra hora. Pode ser num sonho. A gente pode aproveitar e bater um papo e você até pode me contar algum segredo cabeludo ancestral!! Posso te chamar de você? Afinal está na minha lembrança particular!
Pode me contar novidades sobre Maria da Anunciação ( viu como lembro) e eu sei de outras Marias . E o seu Armênio? E os parentes do Seu Formigal?

- ...

- Já se foram todos !! Sei! Não está com calor com este vestidão? E esse coque? Não se usa mais este tipo de cabelo sabia? Em pensar que a gente nem se conheceu. Pra te falar a verdade eu não conheci o meu avô. Quando eu nasci ele já tinha morrido . Aliás vocês todos morreram cedo não? (Bate na madeira). Que venha daí!
- ... ?

- Brincadeirinha!! Ok, foi uma piada sem graça.
-...

- Sabe que eu não sei que fim levou aquela foto? Deve estar perdida nas minhas caixas. Tá certo, eu estou pensando em restaurar sim...Mas então não vai me dizer qual é a razão de estar aqui hoje? Não vai falar nada ? A bisavó não te deu educação ? O que será que ela ia pensar deste nosso "monólogo"?
O seu silêncio vale mais do que mil palavras....Sei!

- ...


- Não é uma assombração é? Olha aqui eu já desisti de relaxar . Me deixou tensa com esta dança tosca e esse sorriso congelado. Vai fazer jogo duro ? Então tá bom!!

- ...
- Quer ouvir música? Acho que vai gostar desta....Pode ficar aí dançando!! Eu não me importo!!
Ah e obrigada pela preferência!!
Quando sair não faz barulho!! E... volte sempre!!
-...?!

- Ah sim vou achar aquela foto e...


beijo fantasmagórico


da melind@

Ps.: Este post é em estima àquela parte de meus ancestrais que nunca conheci e que reverencio por alguns instantes. Por estranha coincidência eles vieram habitar minhas memórias por estes dias. Dou-lhes um pouco de vida aqui, nesta brincadeira..
São fragmentos de histórias e imagens dos quais pouco registrei. Infelizmente! Ah, as fotos !

domingo, 10 de outubro de 2010

Onde está o amor....

Onde deixei o amor,
aquele amor sem nome
que guardo na boca
que acalma meu peito


Ele que habitou meus sonhos
e recheou minhas
conversas suculentas,


Parece que vestiu outra
roupa, ficou formal,
pragmático, deixou de
ser ele mesmo..


Se tornou uma sombra,
um vazio refletido na
lâmina da razão
que desconheço..


Virou amor que escolhe
palavras e inventaria
custos.


Não sei o que fiz
com ele,




Um dia o reconheci
numa revista desenhado
sob medida,
estava tão bonito,
mas era só uma
imagem espelhada
sem as substâncias
que eu amava,



Não sinto mais o cheiro
daquele amor largado
que tomava posse ,
arrastado pelas falas
que invadiam a madrugada,
de bem com a vida...


Perdi aquele
amor na paz,
sem perguntas ,
o de estar junto
e ser do bem,


Outro dia vi um beijo
jogado pelo ar
e era doce, manso, terno ,
pensei que o amor estava
junto,
corri para encontrá-lo,
mas talvez eu tenha imaginado
ou lido em qualquer história
de ficção...



Desapareceu em meio aos
argumentos lúcidos do
tempo,
desgastou-se,
perdeu a confiança,


Quem sabe o amor
deixou de acreditar
em mim,



Cansou de andar enfeitado
de simulações ou mascarado
de hipocrisia,


Não sabia mais ficar
reprimido pela
minha arrogância,


Cansou de andar por aí
se esgueirando por meus
caprichos..


Numa tarde eu o ouvi
em uma música,
ele parecia ser de novo
aquele amor humano e
visceral que conheci um dia,


Reconheci ali sua força e
integridade,
ele falava em saudade
e lealdade,
se dizia cúmplice do
meu desejo e
prometia nunca partir..


Despertei da canção no
susto ao ouvir minha voz
cantar e começar a
duvidar daquele amor- paixão..


Chamei aquilo de ilusão
e voltei a procurar
nos livros ,
nas palavras
e nas telas por aquele amor-perdão..


Quero de volta sim ,
nessa nova estação,
ele que me fascina e causa
sensação...
sem ele não suporto
e não vejo solução...


Vou falar nele, lembrar
até a exaustão,
vou torná-lo vivo , presente,
cantar num verso e
estampar no quadro de
lembretes...



Quem sabe ponho um anúncio,
uma nota ou declaração ,
assim trago comigo este estado
dele em mim e me entrego
poesia assim..




Beijo intenso
Check Mate

da melind@




Qual é a sua liturgia..

"A cabeça dos seres humanos nem sempre está completamente de acordo com o mundo em que vivem, há pessoas que têm dificuldade em ajustar-se à realidade dos factos, no fundo não passam de espíritos débeis e confusos que usam as palavras, às vezes habilmente, para justificar a sua cobardia."
José Saramago

Eu tenho algumas liturgias. Acho que estes rituais que mantemos nos pertencem enquanto os percebemos como algo bom. Nos recôndidos da minha existência lá estão eles. Não gosto de ir ao cinema acompanhada. Detesto ouvir música enquanto converso. Sempre começo a andar com o pé direito. Quando vou dormir começo de costas, viro para a direita e após para esquerda.Não gosto de fazer chamadas por telefone ( ou similar), mas apenas de receber...Sempre começo a maquiagem pelo olho esquerdo e sempre começo a escrever um post a partir de uma palavra.
Quando li este trecho do Saramago me pus olhar por trás das palavras que escolho e por entre as dificuldades que elas omitem.
Sim, pode ser verdade, as palavras sintetizam idéias que nos padecem a mente. A mente como sabemos possui inúmeras faculdades e algumas são especialistas em construir cortinas de fumaça densas e capazes de encobrir nossas verdadeiras fraquezas.
Olhei meus rituais e atos solenes com as palavras que amo tanto e mais uma vez concluí que "Eu às vezes acho muito que nada faz sentido..."
Acho que a minha cabeça não está de acordo com o mundo em que vivo, sou um espírito débil e confuso em busca de minhas inquietudes. Tenho grande habilidade em justificar minha covardia.
Este é o grande mestre Saramago...que descobriu entre as palavras um jeito de nos contar para nós mesmos...

beijocas insólitas aportuguesadas
da melind@

E não entendendo mais um pouco: olhemos o recipiente vazio.




Me vejo como um recipiente que posso esvaziar e preencher a cada dia.





Ontem eu fiquei "involuntariamente" em uma "palestra" enquanto esperava uma amiga e o tema era planejar o futuro. A estratégia do palestrante visava apontar para uma espécie de futuro espiritual ou transcendência.


Planejar o futuro.Uma das coisas mais difíceis que avalio, posto que primeiro é necessário definir a que futuro estou me dirigindo. Daqui a dez minutos? Dez anos? Dez vidas?(brincadeirinha) Um futuro que sequer existe! Existe apenas a eternidade.



Como sempre tenho muitas perguntas e quase nenhuma resposta fiquei deixando as perguntas tomarem conta do meu recipiente mental. Elas são boas companheiras.




Lembrei daquele bordão " O amanhã a deus pertence" ...Será?


Tentei observar o curso das palavras como quem observa o sol brilhando, sem julgamentos egóicos.

Seria possível falar de futuro espiritual apartado de futuro material , considerando as variáveis sociedade, cultura e momento histórico?!Tudo muito complexo não ?


Eu já entrei em uma frequência que me leva sempre a achar que estou no lucro.

O fato é que não temos muito isto que chamamos de futuro. Acho que tudo acaba se restringindo a escolhas. Algumas coisas podemos escolher e mudar e outras vem no pacote e não dá para alterar.

Seguimos rumo às descobertas e experiências , o que acabei entendendo (embora não exercendo inteiramente) que é a única coisa que existe. Sim o presente. Claro que parece clichê e é, mas a verdade é tão simples que parece clichê.


Busca-se certezas, solidez e segurança. Mas, não existe garantia alguma nunca! Meu mantra da impermanêcia.

Eu já desejei preencher meu recipiente com tantas substâncias. Já quis ser a menina mais bonita da turma no colégio, houve momento em que queria ser a mais inteligente. Já desejei ter tornozelos finos e torneados e não ter pèlos nas pernas. Já quis ser uma escultura perfeita. Sem chances.
Quis ser uma idealista(nunca consegui me aferrar a idéias) e também desejei ser uma grande líder política . Sonhei em mover multidões com meus sonhos e claro, me imaginava subindo a escada da fama com um nariz menor.


Queria ser uma pessoa generosa e estar acima da mesquinhez e sobretudo queria ser feliz. Descobri que sou, apesar de nunca ter ido viver em uma comunidade hippie como sonhava há tempos atrás . Ah eu queria ter passado sete anos no Tibet e também me imaginava descobrindo o elo perdido como Indiana Jones.



Sonhei ser uma bailarina em um grande musical. Quis ser cantora de rock e ainda reger uma grande orquestra. Queria ser professora aos dez anos e morria de vontade de ser filha dos pais da minha melhor amiga na adolescência (eles eram tão perfeitos).



Ainda houve aquele momento de ser uma grande escritora e também atriz dramática(apesar de ter uma certa repulsa ao melodrama). Queria ainda a leveza da Meryl Streep, a elegância da Constanza Pascolato e a graça de Danuza Leão para lidar com as intempéries da vida.


Bom, eu poderia dar voltas ao mundo costurando letras e contando todos os personagens que habitei.Alguns cheios de boas intenções e outros puro ego. Simulei milhões de existências para minha vida "concreta", mas a realidade estava sempre lá e eu sempre era alguém além dos meus sonhos. Eu era e sou sempre alguém além do fluxo que corre na minha história. Sou o recipiente.


A partir do momento em que toma-se consciência desta condição falar em planejar torna-se algo menos grave, mais pontual e passível de ser alterado continuamente.


As opções(felizmente não precisam ser definitivas) são acessórios e o que constrói o recipiente e lhe dá solidez é o conhecer-se( e aceitar-se).


Deste ponto de vista planejar um futuro que não seja um conjunto de objetivos materialmente práticos matematicamente equacionados é pura ficção.


Falar em destino? Acredito mesmo que escolhemos o destino que queremos e construímos o personagem que vai entrar em cena na próxima chamada, mas ninguém pode nos ensinar como fazer. Esta descoberta é genuninamente solitária, diária e permanente. É como aquela imagem da fruta que (se niguém arranca) vai cair do pé quando estiver madura( preparada) ou passada.

Então vamos ao clichê, momento Deepak Chopra: " Se você quiser saber como vai estar amanhã, veja o que vai dentro de você hoje"....(+-).Adoro frases de efeito.

Portanto, o lance é planejar o presente...
Momento blogoterápico...



São só alguns pensamentinhos altos do chão que a melinda ficou matutando...

beijos

predestinados
da melind@

.. E bem ali
além dos meus sonhos
eu estava,
por romance,
por deleite,
pra me saciar..
de mim
me fartar..

sábado, 9 de outubro de 2010

E não entendendo mais uma vez: nossas verdades escondidas


Quando eu estava na facudade eu tinha um colega que jogava cartas de tarôt. Sempre foi encantador de cartas e não é à toa que seguiu a profissão de "tarólogo" e faz muito sucesso. Diria que é uma espécie de terapeuta que utiliza as cartas para lecionar sobre esta matéria tão desafiadora que é a vida.


É óbvio que tirávamos muito proveito disto e fazíamos sessões de arcanos maiores . Mas o que me trouxe ao assunto foi uma crônica que li do Contardo Caligaris falando sobre o filme " Eu matei minha mãe".



Lembrei de imediato de uma postura de cartas que colocava no centro do jogo o deus "Pã" do baralho de tarôt mitológico. Esta carta representava justamente a servidão aos instintos da natureza. A ambiguidade de sentir vergonha e prazer .





Digamos que embora possamos temer nosso instinto, estamos conectados visceralmente a ele.

O diabo, como se caracteriza o deus Pã pela cultura cristã, representava algo que nos encanta e ao mesmo tempo nos assusta . É algo guardado às sete chaves, mantido seguro por nossas ações racionais e postiças. Está lá o nosso diabinho renegado ao inconsciente. Poderia dizer que são nossas verdades e negações.


O filme , que ainda não assisti , traz o universo da relação entre filhos e pais. E o autor lembra das fases que deletamos de nosso consciente e que fazem parte do processo do desenvolvimento de nossa identidade e autonomia como seres humanos.




Mas o que achei mais importante é enfatizar que aquela família ideal que acreditamos existir na casa do vizinho não existe e que todas as histórias, apesar de serem catalogadas pela psiquiatria, são únicas. Nossas relações com nossos pais na infância e adolescência e a de nossos pais conosco (destacando os dois enfoques) são decisivas na consagração do nosso indivíduo. De perto cada família é única e guarda seus silêncios e temores.


Acho muito prazeroso poder desnudar este pano e verificar que não somos apenas personagens bizarros de nosso próprio esquete.




Talvez por negarmos nossa fragilidade frente a todas as imposturas sociais que aprendemos ao longo da vida em família tenhamos tanta dificuldade em ser plenos.

Não dá para não usar comportamentos postiços, as armaduras sociais existem , mas conhecer e aceitar nossa humanidade e despreparo para enfrentar o próximo ato já é um alívio da sobrecarga do homem perfeito à imagem e semelhança de algum deus perfeito. Felizmente a perfeição não exite além do imperfeito.


Estamos no grande teatro e precisamos representar nossas cenas. Muitas vezes seremos tão kitsch quanto uma saia balonê que tive na adolescência, mas que eu adorava. O fato é que abandonando os preconceitos que temos conosco e com o outro estaremos em estado de liberdade para construir originalmente nossa história genuína.





beijocas atentas


da melind@

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Poema sem rima..

A vida é o poema
que aprendo a recitar,
crio novos versos,
ensaio prosear,
acho rimas falsas
pra recomeçar.



Invento bordões
que vivo a proclamar ,
repito em toda estrofe
preciso acreditar,
mas há o poema
novo a ensinar que
vida não tem rima e
não adianta ritmar.

beijo kitsch

domingo, 3 de outubro de 2010

VÃO


Hesitação sempre
pergunta pelo sim
ou pelo não,
um vacilo de cair em
vão e ali ficar as tontas,
em oscilação,
numa estada sem razão..


Hesito nesta trilha
de imagens que me são
tão raras de sentido
ou direção,
fim de estrada ou
cessação calada.

No vão destas palavras
tolas vejo e permaneço então,
num pouco de silêncio,
num pouco de ilusão,
só coisas como coisas são
ora tomam, ora dão,
ora se deixam, ora se vão..

Vem um oco,uma porção
entre os sinais
vi(tais), que os (per)versos
emitem e espargem
pelo chão,entre as tábuas,
o vão ...de i-men-si-dão.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A história do final..


Então era o fim. Não parecia ter visto o chão se abrir ou a Terra tremer. Onde estava a hecatombe que o mundo deveria simular enquanto suas vísceras eram arrancadas e o seu peito estrangulava sem ar. Os olhares úmidos, as palavras imperativas e os toques aconchegantes. Tudo parecia para sempre. Tudo sempre parece para sempre. Todas aquelas emoções congeladas para viagem. Nada!



O Sol continuava reinando lá do alto cheio de si e o vento da primavera castigava com força e tentava contê-la. Queria que esperasse mais um pouco. Ainda não era hora de dizer adeus. Será que existe um momento para romper um elo da sua história? Para tirar uma palavra, uma conjunção aditiva e colocar um ponto final? É preciso lugar no texto para colocar o "fim"? Tem que haver introdução? Não dá para simplesmente colocar reticências...



A questão é que um elo, uma argolinha apenas, está segurando centenas de outras argolinhas e estas assim por diante. Quando retiramos uma vírgula podemos estar mudando o desfecho. E assim é quando rompemos com uma situação. Ela vai embora juntamente com todas as coisas boas e ruins de sua substância.

Poderíamos terminar as histórias com reticências. Elas forjariam a esperança ou ainda a expectativa de ter naqueles três pontinhos o benefício da dúvida. Uma indicação clara de que a história continua, de um outro jeito , em uma outra forma. A trama está lá.


As nossas histórias tinham que ter um final aberto. E claro, sempre uma nuvem de final feliz.


***

Esta é a história das coisas da nossa vida impermanente. Vivemos histórias que nos transformam definitivamente e quando de repente elas anunciam sua partida ficamos esperando um pouco de cumplicidade na fábula. Ficamos pensando que ainda é muito precoce falar em despedida e que o mundo ainda pode dar mais umas voltas. Mas o mundo é didático, ele avisa que não se deve fazer tempestade em um copo d'água. Que devemos engolir o choro, enfiar o sorriso apertado e seguir a trilha. Todo resto segue e nada vai mudar isto.



"Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta"! Assim as histórias entram e saem, deixam suas portas escancaradas e nem percebemos que elas sempre vão fazer parte do nosso enredo. Sentimos tanto ao perdê-las que nem notamos que as perdemos dentro de nós. Nem percebemos que estarão sempre lá. Mesmo que sejam agora apenas uma nova expressão no canto da testa ou um jeito novo de entortar os lábios.



As mãos que soltamos e os abraços que deixamos estão bem ali. As risadas que iluminamos e o sono que não dormimos são todos parte de nossos textos. São o inverso do avesso. Estão tingindo os panos em nosso baú ou foram vertidos em alguma lágrima de emoção ao final da tarde...


***

Nossas histórias de amor são bobas. Todas colocadas em perspectiva no tempo ficam sem graça, desbotadas, com o um olhar embaçado. Nossas histórias nos expandem e esparramam pelos outros para que possamos escrever outras novas e mais intensas. Talvez melhores, porque nossos pequenos causos de vida nos melhoram e lapidam porque nos extravasam em abundâncias.


Nossas histórias nos contam felizes, nos desenham em rabiscos e riscos . Elas segredam aos ouvidos que nos bebem. Revelam nosso jeito de cristal e cochicham...cochicham ....cochicham...
beijo extravasado
da melind@

domingo, 26 de setembro de 2010

Miscelânea de idéias...para ficar pipocando por aí...



Liberdade de imprensa I


O filósofo Roberto Romano recentemente no episódio "Lula não suporta críticas" comentando as agressões do governo à imprensa, citou a figura usada pelo alemão Erich Auerbach no livro Mimesis:" a realidade é um imenso palco com inúmeras cenas se desenrolando. O que faz o propagandista? Escolhe uma que lhe interesse , joga o holofote sobre ela e deixa as demais na sombra. O que o espectador está vendo é real". Mas alerta Auerbach: " Da realidade faz parte toda a verdade"
Este é um grande assunto para ser glosado.
Pode ser trasladado para várias cenas do espetáculo. Pode versar sobre a vida. Pode ser vertido para política( como era o objetivo da entrevista de Romano ).

Em um texto de Osho sobre a doutrina filosófica budista, havia uma observação sobre a concepção de ilusão que achei muito própria anexar aqui. A palavra ilusão utilizada no ocidente não seria a mesma se vertida para a ilusão aludida nos textos tibetanos. Ali se refere a falsa percepção da realidade, ou a percepção parcial desta realidade.

Vale aqui a idéia de que toda a moeda tem dois lados. Algo bom sob um aspecto pode ser mau sob outro. Todo o ponto de vista deve ser conhecido sob vários aspectos e nem sempre serão todos os aspectos. A realidade que conseguimos conhecer é sempre relativa às nossas subjetividades, ao momento que está sendo vivido e aos fatos que o estão envolvendo naquela dada circunstância.
Ontem conversando com uma amiga que trabalha na universidade federal , ela me dizia que durante o governo PT a universidade deu um salto de qualidade de cinqüenta anos( Isto é visível, basta ir ao campus da universidade federal em Bigrivertown). Foi aparelhada e modernizada. Professores foram valorizados e a ciência foi incentivada. O Prouni , por exemplo, pavimentou o caminho para muitos jovens que jamais teriam acesso à universidade. Isto só para citar um dos inúmeros pontos favoráveis do atual governo. Mas é claro que existem outros tantos aspectos que ficaram longe dos holofotes e que talvez não deponham favoravelmente ao atual governo e sua candidata.
Liberdade Imprensa II
Em contrapartida desta moeda de dois lados, no aparte de Marco Aurélio Weissheimer" Mídia e ditadura : uma caixa difícil de abrir"(Jornal Extra-Classe/Setembro 2010) ele traz a tona uma questão nevrálgica e poucas vezes abordada por nossa mídia. Trata-se de lavagem de roupa suja ou da drenagem da parte infectada em nossa história jornalística.
Os Kirchner, apesar deles mesmos estão rastreando no passado aqueles jornais que estiveram trabalhando a serviço da ditadura e muitos acusados por crime de lesa-humanidade.
Os proprietários dos jornais acusados acusam o governo de querer controlar a imprensa(isto lembra alguma coisa?) e impor um regime de censura.
O fato é que estas empresas apoiaram a ditadura e tiraram vantagem com ela. O autor usa a expressão "cúmplices" diretos ou indiretos de crimes cometidos pelo regime ditatorial. Assunto pesado e controverso.
Marco Aurélio indica que " as empresas de comunicação têm o hábito de se apresentarem como porta-vozes do interesse público. Em que medida uma empresa privada , cujo objetivo central é o lucro, pode ser porta-voz do interesse público? Essas empresas participam ativamente da vida política , econômica e cultural do país,assumindo posições , fazendo escolhas, pretendendo dizer à população como ela deve ver o mundo" denuncia Marco Aurélio.
Ele lembra que no Brasil esta relação com a imprensa foi marcada pelo apoio a violações constitucionais, à deposição de governantes eleitos pelo voto e pela cumplicidade com crimes cometidos pela ditadura militar .
Marco questiona que até hoje estas empresas não julgaram necessário justificar seu posicionameto político ou revê-lo, sob a justificativa de terem sobrevivido a um regime de exceção.
Agem, afirma Marco Aurélio, como se suas escolhas e os benefícios obtidos com elas fossem também expressão do "interesse público".
Sim vivemos um período de ditadura militar, um imenso período de reabertura política e a duras penas conquistamos agora a "plena" liberdade chancelada pela democracia. (Plena no sentido formal e não material a meu ver. Enquanto vivemos sob uma desigualdade abissal dentro de uma sociedade, não podemos falar em igualdade material e liberdade).
As empresas jornalísticas estiveram presentes , protagonizando estas histórias. Muitas foram perseguidas, caçadas e outras "subsistiram" ou "sobreviveram". Em troca de suas escolhas pagaram o preço.
Lá, como agora, estamos diante destes mesmos interesses. Os interesses econômicos que norteiam e sempre nortearam as grandes corporações da mídia. Seus braços são muito largos, longos e extensos e alcançam lugares inimagináveis em nossas opiniões e palavras.
É preciso refletir muito sobre esta questão e fazer uma análise teleológica.
Como diria o filósofo espanhol José Ortega y Gasset " O homem é o homem e suas circunstâncias", desta forma é preciso ir fundo.
Aparte Imprensa III -utilidade
Agora a pouco eu lia uma cartilha do projeto "todos pela educação": guia do voto consciente e esta começava perguntando:
- Você está preparado para votar? ( pergunto: quem está?)
A cartilha traz informações sobre os índices da educação no país. Um diagnóstico de até onde chegamos e do quanto( e é muito) é preciso alcançar.
Perguntas como :
- Seu candidato é comprometido com a melhoria da educação brasileira?
-Seu candidato já esteve envolvido em escândalos de corrupção?
- Você conhece pelo menos dois projetos educacionais que o seu atual governador desenvolveu?
-Você sabe qual o Ideb da sua cidade? ( Entre outras... há dicas e sugestões para diminuir o equívoco sobre as circunstâncias, porque evitá-lo é impossivel)
A cartilha ainda convida a fazer uma investigação sobre seu candidato e oferece vários sites úteis para cruzar dados:

http://www.camara.gov.br/

http://www.senado.gov.br/

http://www.excelencias.org.br/

http://www.deunojornal.org.br/

http://www.asclaras.org.br/

http://www.tse.gov.br/

http://www.twitter.com/

www.educarparacrescer.com.br/eleicoes


beijo interessado

da Melind@

Inveja dos uruguaios...Mama Mia..


José Alberto Mujica Cordano(Pepe), nascido em 1934, é um agricultor e político uruguaio, atual presidente da República Oriental do Uruguai eleito pela coalizão de centro-esquerda.Também poderia ter dito ex-guerrilheiro tupamaro.

Não fosse apenas pelo simples fato de que o atual presidente uruguaio adora cães(não tem conta de quantos vira-latas possui na Chácara onde vive)já teria minha simpatia, mas ele dá uma lição de política e estadismo de fazer inveja(muita inveja ) a nós brasileiros.

Os uruguaios tiveram a felicidade de eleger um presidente, que assumiu em 2010, e que , como nossa candidata Dilma, também participou de lutas e movimentos políticos no período nefasto da ditadura militar. Entretanto Mujica jamais precisou passar por um personal para reconstruir sua imagem. Ele usou na campanha sua honestidade,transparência(troglodita), simplicidade e empatia, próprios daqueles que não precisam maquiar projetos políticos e não temem escândalos e imprensa.Todos tem um passado.

Senti sincera inveja dos uruguaios que foram às ruas festejar pela vitória de um candidato cuja campanha não fora forjada por militância paga, fato que me entristece e envergonha profundamente. Quem sai às ruas deste Brasil em um Domingo vai encontrar os deprimentes mercenários alugados, bem barato,segurando bandeirinhas , poluindo ruas e entregando santinhos de pessoas que sequer imaginam as razões.

Lógico que restam alguns solitários convictos, mas são exceção.

Confesso minha inveja, ao perceber que nosso vizinho, apesar não estar ingressando no grupo das maiores economias do mundo e não chegar nem próximo dos números (que enchem os olhos)e pontuam o crescimento econômico brasileiro, podem sentir a satisfação de ter eleito um presidente do quilate do estadista e socialista Mujica.

Um homem de idéias oxigenadas e modernas, mas que não perdeu suas tradições e princípios. Não é preciso usar ternos Armani ou ficar amigo de George Bush para tornar-se um bom presidente. Também não é necessário ter uma esposa recauchutada ou repaginada. Pasmem.
Só para constar , José Mujica vive em uma Chácara, com sua esposa, que é senadora e também tem uma história de luta em guerrilha.
O presidente não utiliza carros oficiais, não usa gravata e nem se sujeita a barganha barata.Embora pareça um homem simples possui envergadura rara e horizonte largo. Não usa frases vazias e é suficientemente cauteloso.
Avesso às bravatas e pragmático, com seu realismo diagnóstico, transmite confiança e credibilidade.

Não sou autoridade política para ter relevância bastante em minha avaliação, mas acho que basta verificar os ingredientes para imaginar o resultado da mistura. Brincando de articulista é possível transladar o micro para o macro da pólítica.

O Uruguai é um país cuja economia se sustenta com a agropecuária e que parece ter estacionado no tempo, mas nas áreas da saúde e educação nos deixa comendo poeira(IDH é 0,865) .É para ter inveja dos uruguaios. Não por sua Punta del Este ou a glamourosa Montevidéu, mas porque ainda são capazes de fazer política com a ética que se garante pelo fio de bigode.

Claro que todo país conhece os sinais de corrupção, mas se as instituições não se contaminam e a imprensa livre é assegurada as digitais são preservadas e estamos em um sistema saudável.
Não é preciso ser um cosmopolita para fazer um governo inteligente. O presidente uruguaio é um homem do campo que conquistou com cautela a sabedoria que manifesta.Passou uma duzia de anos preso durante a ditadura militar. Em 2004 foi o Senador mais votado. É prudente ao avaliar seus vizinhos latino-americanos, de Chaves à Lula, mas deixa escapar nas entrelinhas o descalabro. É fã de Lula, por sua trajetória de ascensão e conquista e deixa claro a simpatia à candidatura de Dilma . Ninguém é perfeito.

Algumas de suas idéias mais admiráveis estão nas amarelas de Veja(29 Set. 2010) :

" ..gostaria que as pessoas aprendessem a ser chefes de si mesmas.."

"Sou socialista porque sou inimigo da exploração do homem pelo homem, mas isso não inclui defender um estado grande e um funcionalismo inchado... "(e eu acrescentaria uma máquina estatal aparelhada para manter-se no poder) ;

"...Não tenho empregados...Eu arrumo meu quarto e lavo meus pratos. Minha esposa corta o meu cabelo.Vivo de acordo com o que penso..."
Ao ser perquirido sobre a relação com a imprensa "...Quanto mais educada e qualificada for a população, maior diversidade haverá de opiniões, o que é muito bom.Quando um governo se mostra mais tolerante à diversidade, acaba ajudando a formar uma imprensa respeitosa. Quando radicaliza nas suas idéias, no entanto aí vai tudo pro diabo..."

"...A melhor lei de imprensa é a que não existe..."

"...As divergências ideológicas deveriam se restringir a melhor maneira de distribuir riquezas..."

do site Leitura Global:
Mujica..."Digo-te que meus sonhos me levam hoje a crer que, para construir algum dia uma sociedade melhor, necessitamos de um país rico materialmente e tremendamente incluído e culto. Não que por ter essas duas coisas se irá criar uma sociedade socialista, mas sem essa questão prévia de massificação de conhecimento e cultura e de riqueza compartida, não há condição. Não caminha isso de se igualar por baixo, temos que nos igualar por cima. Mas esse é o meu sonho, e eu tenho 74 anos..."(leitura global- entrevista por Clarissa Pont)

Se deu para perceber um quê de desalento na minha fala, acertou! "Há alguma coisa podre no reino da Dinamarca..."digo no nosso querido Brasil. "Se correr o bicho pega , mas se ficar o bicho come..." É esta a frase que sintetiza a minha avaliação do próximo pleito eleitoral. Não tem saída. Votar no retrocesso do "Pântano" é um suicídio, mas abraçar o perigoso continuísmo é um risco . Plano B é a mais pura ilusão. O negócio é ficar curtindo uma inveja do vizinho, enquanto isso for possível. Da-lhe dor de cotovelo.
Ok , eu posso estar exagerando um pouco. Uma pitada de melodrama ? Certo! Estamos em outro capítulo...

BBC Brasil, Fev. 2010.
Revista Veja, 29 Set. 2010.(amarelas)
http://leituraglobal.com/494/ - Revista Teoria e Debate n.84.
A foto é da revista Teoria e Debate

Beijo invejoso

da Melinda

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...