
Quando me expresso me traduzo um pouco.É uma forma de me reinventar, revisitar minhas idéias e reescrever meus pensamentos. Conversando alto e mostrando os sabores que eu provo posso mantê-los vivos e inesquecìveis. Este é um espaço para abusar das palavras e colecionar interrogações!
sábado, 31 de julho de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Na curva dos acontecimentos encontrei Clarice...

Por vezes eu me paro a observar a curva dos acontecimentos. Como seria esta curva?
Há momentos em que você se depara com uma sucessão de fatos encadeados inesperadamente. Algo rabiscado na orelha de um livro.Uma esquina onde distraidamente esqueceu de dobrar , uma gaveta aberta ou um telefonema. Eu diria que encadeados pelo acaso. Pelas linhas que tecem o pano dos acontecimentos. Também poderia ser uma conspiração mundial pra você acreditar que está vivendo um filme de ficção. Que a vida é ficção e que todas as alternativas sempre podem estar corretas.
Estava lá eu vasculhando uns trecos e achei esta prelucidação da Clarice Lispector me falando sobre as coisas que eu tanto tento dizer e não consigo.Como é que ela adivinhou? É claro que eu estiquei a mão e toquei.. Ou melhor, fui desencontrada, como no conto "Amor" da mesma autora, quando ela viu do bonde um cego na calçada( Leia o conto! Oras!). Primeiro senti um ímpeto de engolir em seco, mas deixei a saliva encher minha boca. A Clarice foi meu cego na calçada. Foi o ataque terrorista à torre mãe.Ouvi o que ela tinha a dizer e senti um desarranjo na minha frase. Decidi que nunca mais teria certeza. Que bom! Não desejo mais a resposta certa. Nem quero a resposta , porque ela está em toda parte de mim. Da-me tua mão.. Dou a mão mas não preciso entender, porque entender não é o bastante. Vasculhei as notas das músicas sobre as ondas do ar, penetrei nos espaços entre a carne e assenti que queria estar ali, nos interstícios da matéria primordial. Ali na linha onde passa a curva dos acontecimentos , onde tudo respira e ganha sentido porque não pode ser entendido. Quero estar entre o número um e o número dois. Estar depois do ponto que une dois pontos. O limbo é infinitamente mais promissor do que o portal das palavras.A idéia apenas segue o sentido da curva respirando o mundo e penetrando em seu silêncio pujante. Na curva dos acontecimentos encontrei Clarice, que é sempre uma forma de olhar a própria experiência e contemplá-la. Contemplá-la.Contemplá-la através dos olhos de Clarice.
Inspirada no poema "Da-me tua mão" da Clarice Lispector
quinta-feira, 29 de julho de 2010
AmEaÇa
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Descoberta
Deserto
transpira verdade em versos
poucos pois tem a palavra
vasta pra se esconder
Se traduz no vapor das letras
de um dialeto que
não sabe falar
só faz sentir e soletrar
Basta a sala fechada
a deixá-lo embriagado de
tanto se investigar e
quando a luz insiste em entrar
ilumina o vapor sólido e se põe
a revelar as cores das impurezas que
se mesclam e elaboram
Diz que busca o entendimento
pra não se encontrar
O verbo encantado fica tentado a
tão somente divagar
mergulhado na própria densidade
equivocada que esculpe uma busca
de arrepiar ..
E assim se perde no vento
de verdades que não pode encontrar
O tempo a lhe procurar
como se houvesse um jeito
de esperar um pouco
Nasce um deserto imenso e árido
de sentido,com as cores fustigadas de contradições,
onde não há sombras pra se esconder,
Este é o refúgio manso e intenso do intervalo
entre dois fatos, dois atos,
duas vidas...
domingo, 25 de julho de 2010
Saudades do futuro que acreditei...
De insistir nessa saudade que eu sinto/
De tudo o que eu ainda não vivi. "
Renato Russo
A geração que viveu na primeira metade do último século tem uma marca muito clara sobre a história que estamos colhendo agora. É possível sentir quase que fisicamente a vigorosa força construtitva que imprimiram ao mundo.
Aqui, em Bigrivertown, uma cidade antiga com função histórica muito bem definida, há um lamento saudosista dos tempos glamourosos que se foram . Algumas pessoas se tornaram museus históricos em carne e osso. Já restam poucas para falar da famosa Gruta Baiana, visitada por turistas internacionais ou ainda da Confeitaria Sol de Ouro, cujos doces tinham fama internacional. As grandes noites do Teatro Carlos Gomes, que cheguei conhecer já um pouco destruído. Também dos áureos tempos do Teatro Glória ou do Café Dalila(meu contemporâneo).Um tempo onde comprava-se em armazéns , como o Sete de Setembro , do seu Elisiário, marido da Dona Júlia, que comprava suas frutas e legumes de um Verdureiro que vendia de casa em casa com uma imensa carroça, abarrotada de delícias frescas e gostosas. Tempos de retirar livros da antiga Biblioteca Pública. E andar de Bonde?
Me chamou atenção este encontro justamente porque a cidade está vivendo um momento de reaquecimento. Infelizmente não do ponto de vista cultural. Não sob o ponto de vista da cordialidade e urbanidade. Resta apenas um cinema na cidade e outro no balneário, mantido valentemente por seu proprietário, durante os bons e difíceis tempos vividos pela sétima arte(no velho estilo). O Teatro Municipal(único) vive altos e baixos, é de tamanho pequeno e não comporta grandes espetáculos. O número de habitantes multiplicou-se , o trânsito tornou-se caótico e as motos entulham a face urbana e empoirada dos prédios misturados. Cidade Velha. Cidade Nova. Fachadas antigas alternadas com prédios modernos. Lâminas de asfalto contrastando com ruas calçadas com paralelepípedos( palavra que adorava usar para brincar de forca quando era bem criança).
Alguns patrimônios resgatados subutilizados.
A forte presença portuguesa que aqui fincou suas raízes e da qual sou remanescente começa a perder-se em ruínas e grafites mal ajambrados.
A influência dos imigrantes europeus que vieram trabalhar nas fábricas que despontavam aqui no antigo distrito industrial é evidente no capricho estético das imagens do passado.
O belo canalete das Hortências transformado em esgoto e lixão.
A história das coisas anda pelas ruas , sob o sol, derrama-se pelos cabelos brancos com a solidez das mãos trêmulas da professora de nome forte. Narrou com finura sua curiosidade ao conhecer Dilermando de Assis, protagonista da trama que ceifou a vida de Euclides da Cunha e que aqui esteve "degredado" por um tempo. Personagem das perseguições sofridas pelos imigrantes alemães no período Vargas, presenciou com a mesma envergadura os momentos em que viu achincalhada sua família, por conta da origem alemã, enquanto o mundo voltava-se contra o totalitarismo e se deparava com o holocausto. Tempos dominados ainda pelo ranço oligárquico da República, sob o governo do populista Getúlio. Assitiu impassível os revezes que a vida lhe mostrou. Vigorosa como toda verdade, ela não se repete, mostrar-se sem pudor.
Revelou sua história sem parcimônia, mas com a prudência e a sensatez dos sábios.
Ela conversa na calçada, é carregada pelo vento e entornada nos ouvidos vazios da grande maioria dos habitantes a procura de suas rotinas frenéticas. Perde-se um tesouro.
O passado anda de braços dados com ela, em seu rosto e pelo seu corpo encurvado e sóbrio. Um passado revelado pela sabedoria que colheu de suas vivências.
A contemplação das eternas contradições em nossa cultura.
A verdade é frugal, sem tempo para teatros. É simples, como tudo deveria ser. Apenas é.
Holofotes no crime.
Estas últimas semanas foram marcadas por crimes brutais , carregados pela violência e frieza, mas que não são novos e muito menos diferentes dos que vem sendo cometidos há séculos. Entretanto estava na boca de cada indivíduo a história do goleiro envolvido no homicídio da namorada. Na fila do banco, no salão de beleza , na ante-sala do consultório médico e até ( tristemente) em conversas entre crianças e adolescentes. Goleiro-futebol, Futebol-torcida, Torcida-criançada.
Da mesma forma estava outro crime em Guarulhos da advogada Mércia assassinada supostamente pelo ex-namorado. E assim repete-se a cada vez que um fato lamentável passa a ser turbinado pela mídia e vira comoção nacional .
Enquanto isso , a pouco mais de dois meses das eleições o que menos se destaca é o prato principal . Os candidatos e seus projetos de governo.
No nordeste o voto-bolsa-família, no Rio o coronelismo dos líderes do tráfico nas favelas e tudo continua como d'antes do quartel de Abrantes.
Os séculos que nos trouxeram até aqui contam as duras conquistas galgadas pelas mulheres, todas a custa de muita luta e dor. Entretanto quando tomamos conhecimento de fatos como os veiculados nestas últimas semanas envolvendo ídolos do futebol (questionáveis ídolos), concluimos simplesmente que um pouquinho abaixo da superfície do tecido social ainda somos(mulheres) vistas como cidadãs menores. Muito pior do que isto, nos acreditamos cidadãs menores.
O que leva alguém a permanecer ao lado de um companheiro apesar da humilhação, do medo e dos maus tratos? O que será que explica este tipo de sujeição?
Esta semana que passou eu estava em uma sala de espera enquanto rodava um desses programas sensacionalistas focados no dia à dia violento de alguns bairros da periferia de São Paulo. Prato cheio.
A equipe do programa acompanhava a viatura da polícia militar enquanto atendia uma ocorrência.
Ao chegar ao local a viatura encontrou uma mulher, vítima de agressão por parte de seu companheiro. De quebra o agressor bateu também em um vizinho e provocou alguns danos materiais .
Enfim, quando a vítima deu com a polícia e as câmeras desandou a correr pela rua como se estivesse soltando pipa. Corria de um lado a outro e gritava com o companheiro agressor que havia sido apanhado e imobilizado pelos soldados da brigada.
A mulher achincalhava o agressor à distância enquanto corria e pulava.
- Charles(aqui te batizo). Agora eu quero ver tu me dar porrada.- Cantava marra.
O agressor permanecia escondido atrás da gola como se nem fosse com ele . Olhar distante e constrangido.
Alguns vizinhos(prováveis testemunhas da violência cotidiana) vieram dar opinião enquanto o repórter repetia propositadamente as características do fato.
O soldado pacientemente tentava explicar à mulher que era preciso ir a delegacia fazer um boletim de ocorrência.
-A senhora está me entendendo?- repetia o militar.
E a Shirlei( aqui te batizo) continuava a correr e esbravejar sobre o Charles indefeso como um cordeirinho na outra calçada.
O soldado insistiu na ocorrência e a Shirlei simplesmente respondeu:
- Eu tô te entendendo meu querido. -ofegante- Não precisa ir na delegacia, eu só não quero mais apanhar dele!
Na verdade a Shirlei não queria perder seu companheiro, nem puní-lo, apenas cessar de apanhar. Queria muito pouco, apenas encolher-se com o que lhe cabia do mundo.
A polícia só estava ali apimentando o cenário entre ela e seu Romeu-algoz.
Esta pequena tragédia urbana selada pela fragilidade humana não é privilégio da miséria. Ela é parte da realidade de milhões de mulheres, das mais humildes às celebridades mais impensáveis.Relações perigosas das vítimas com seus carrascos.
Todas mulheres, todas abrangidas pelas mesmas instituições sócio-políticas e , ainda assim , caladas pelo fantasma do medo e da baixa autoestima. E sabe lá o que mais.
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