
É óbvio que tirávamos muito proveito disto e fazíamos sessões de arcanos maiores . Mas o que me trouxe ao assunto foi uma crônica que li do Contardo Caligaris falando sobre o filme " Eu matei minha mãe".
Lembrei de imediato de uma postura de cartas que colocava no centro do jogo o deus "Pã" do baralho de tarôt mitológico. Esta carta representava justamente a servidão aos instintos da natureza. A ambiguidade de sentir vergonha e prazer .
O diabo, como se caracteriza o deus Pã pela cultura cristã, representava algo que nos encanta e ao mesmo tempo nos assusta . É algo guardado às sete chaves, mantido seguro por nossas ações racionais e postiças. Está lá o nosso diabinho renegado ao inconsciente. Poderia dizer que são nossas verdades e negações.
O filme , que ainda não assisti , traz o universo da relação entre filhos e pais. E o autor lembra das fases que deletamos de nosso consciente e que fazem parte do processo do desenvolvimento de nossa identidade e autonomia como seres humanos.
Acho muito prazeroso poder desnudar este pano e verificar que não somos apenas personagens bizarros de nosso próprio esquete.
Não dá para não usar comportamentos postiços, as armaduras sociais existem , mas conhecer e aceitar nossa humanidade e despreparo para enfrentar o próximo ato já é um alívio da sobrecarga do homem perfeito à imagem e semelhança de algum deus perfeito. Felizmente a perfeição não exite além do imperfeito.
Estamos no grande teatro e precisamos representar nossas cenas. Muitas vezes seremos tão kitsch quanto uma saia balonê que tive na adolescência, mas que eu adorava. O fato é que abandonando os preconceitos que temos conosco e com o outro estaremos em estado de liberdade para construir originalmente nossa história genuína.
beijocas atentas
da melind@