segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Retalhos ensadecidos...

Sou uma criançulta( termo utilizado por Benjamin Barber e citado por Contardo Calligaris)! Uma adulta infantilizada. Um ser manipulado pelo monstro capitalista, mimado por um imediatismo que não permita que eu me revele impotente para cuidar de mim mesma. Snif.
Calligaris apresenta a tese de Benjamin Barber, que afirma ser a infantilização do consumidor não um acidente cultural momentâneo, mas a peça chave do espírito do capitalismo contemporâneo. O mercado estaria tranformando os adultos em crianças.
Não eu não estou falando da criança que existe dentro de cada um de nós. Eu estou falando da criatura mimada, presunçosa e caprichosa que não sabe ouvir um não, ou um, daqui a pouco, ou no ano que vem. Aquela criança que não resiste a consumir uma novidade entre os produtos de limpeza no supermercado, ainda que não entenda muito deles ou aprecie este universo. Qualquer bobagem serve para um momento de ilusão a curto prazo. Aquela criança que fica indignada e se transforma em abóbora extraterrestre porque não conseguiu comprar aquela peça que vai deixar seu guarda-roupa igual ao daquela bisca arrasa-quarteirão que sequer é de verdade.
Por um lado fico feliz em saber que não estou sozinha. Somos uma legião de alguns bilhões. Por outro fico preocupada por saber que os sintomas que apresento são generalizados. Minha individualidade está chocada. Onde está o ser único, ímpar, com sua história original e suas alegrias e feridas exclusivas. O que é que eu faço com minhas credenciais de cidadã escolada, com estrada, que acha que manja de tudo e é capaz de controlar seus ímpetos e entender suas inconstâncias e incoerências.
O que eu faço com a minha humanidade delinquente e transgressora?
Não vejo nenhuma resposta "delivery"!
Mais uma vez fico eu me incluindo em um padrão.
Em uma entrevista, Maria Rita Kehl afirmou a mesma coisa com outras palavras. " Nós ( sim nós) vivemos respondendo a estímulos, ao que esperam de nós. Isto provoca a perda de tudo aquilo que é singular, pois você começa a querer corresponder a padrões( Sim eles os padrões).A imposição dessa imagem passa a ser o imperativo da vida". Ou seja , você deixa de existir e se torna apenas uma sombra que segue um corpo massificado. Snif.
Mas a culpa é sempre do mordomo. O prefeito do palácio que, segundo parece são os pais da geração coca-cola. Sim eles que almejaram dar aos seus rebentos uma vida mais plena e menos dura do que receberam. Alguma coisa quanto a prolongar a adolescência "ad infinitum".
A propósito volto a uma conclusão pessoal bastante respaldada na vivência. Meço o equilíbrio e o grau de adaptação social de um indivíduo pelas dificuldades que enfrentou ao longo da vida.
O certo é que quanto maiores as dificuldades ou obstáculos que experienciou, mais "bem sucedido" será nosso herói. Fato.
O fato é que só se aprende a ser, sendo, fazer , fazendo, lidar com os erros, errando, controlar as frustrações, sendo frustrado e assim por diante. Portanto, tem mesmo é que deixar a criança chorar. Inclusive esta que agora fala. Deixo ela trancada no quarto e controlo seus ímpetos com a tranquilidade e sapiência do tempo.
Sim ele, o tempo, não o cronológico, mas aquele que serve de referência pelas vezes que passamos por ele enquanto nos observa.
Ah sim, a criançulta faz o melhor possível. Esta acho que é a minha missão atual , fazer o melhor que posso.
Termino com uma frase que li esta semana e me pôs a pensar, de John Le Carré: " A hipocrisia é o mais próximo que o homem jamais chegará da virtude".
Beijo infantilizado

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...