terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A saga de Jung: Eu,o pessoal do IGP, o elevador sem gravidade e o garoto paisagem...

No capítulo seguinte estava eu tentando sair do prédio de vinte andares pelo elevador, declinei da janela para o mar e para o vigésimo andar. Neste capitulo tudo ficou cinza, para não dizer que perdeu a cor. O carpete ainda estava lá e o salão de festas ficou reduzido a um apartamento duplo de hotel que havia sido invadido por todos os funcionários do Instituto Geral de Perícias em dia de confraternização. Eu não saberia explicar como eles chegaram lá. Perdi esta parte! Enfim, quando percebi que a festa estava pegando fogo e que aquele povo estranho estava todo lá e pior, não haviam trazido minha nova RG, que eu já fiz uma semana atrás, resolvi cair fora.
Muito bem, o elevador não tinha números nas teclas. Estranho. Jung?
Havia uma tecla com tour completo(conceito), outra tecla era em branco, uma terceira dizia inteira e finalmente uma tecla em branco maior que levava de volta ao mesmo andar.
Eu não sei porque eu tenho fixação com elevadores que ficam voltando para o mesmo lugar.
O que eu sei é que eu não achei mais o José Mayer. Estavamos eu e um garoto gordinho de franja no elevador. O garoto não falava. Acho que não ia para lugar algum. Estava apenas ali, de paisagem. Apertei na tecla tour completo sem querer. Afinal eu não entendia a linguagem das teclas. Como sou uma desastrada, é natural que isto tenha acontecido.
Bom, o elevador supersônico começou a se deslocar em uma velocidade absurda. A subir e subir ...Entrei em pânico. Eu só queria ir para casa , pegar meu RG e seguir meus planos.
Houve um momento que sumiu a gravidade e começei a flutuar. O garoto paisagem, obviamente, continuou ali com os pés no chão. Que medo!
Eu flutuando achei um compartimento secreto na parte superior do elevador. Era uma repartição em MDF que dava para dentro de uma caixa de papelão.
Finalmente cheguei ao térreo que em nada lembraria o saguão de um hotel. Acho que parei na 25 de Março. Que escândalo! Indecoroso! Uma Incitação.
Carl Jung valei-me!!
Finalmente a moça do INSS veio me salvar:
- Trimmmm!
-Alô!
-Quem fala?
-É 32....!
- Eu queria falar com a Melinda?!
- É ela!
- Aqui é a moça do INSS, eu estava procurando uma cópia da sua RG. Será que tu poderias me trazer um xeróx para anexar ao processo?
- Claro! Pode ser carteira de motorista?
- Se estiver atualizada?
- Ok! Obrigada!
- Obrigada!
Ufaaa!!!

NÃO é o que não pode ser...que não é o que não pode ser...que não É!

Quando eu te escutei, curto e grosso, não imaginei o impacto que provocarias em minha vida. Fiquei pensando como algo tão pequeno e limitante pode gerar tanto estrago. Eu sei que as minhas limitações não são poucas e confesso que tenho um problema pessoal contigo. Nunca consegui lidar com tranquilidade nas questões que te envolvem. Sempre que preciso decidir um impasse no qual estejas presente, fico neutralizada. Paraliso. Me magoas e ponto.
Desde cedo eu te conheço. Sempre fizeste parte de tudo. Acho até que tens importância no final das contas. Mas machucas . Bordão repetido em cada verso salteado.Penso que nosso primeiro encontro foi por minha conta. Eu te proclamei contra mim. Ali inesperadamente. Mas a verdade é que não sou sincera. Não te engulo! Não sossego! Queria te arrancar da minha linguagem corrompida.
Uma afazia, é o que és para mim. Suspensão. Ausência.
Minha aparente resignação não é senão a sinalização da minha ira.
Te repetes, sem criatividade, nem razão. Não te sustentas Não!
Enfim, o Arnaldo Antunes te cantou muito bem:
"Não é o que não pode.
Ser que não é!
Não é o que não pode ser
que não é o que não pode ser
que não é o que não pode ser
que não é!"

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Jose Mayer,Balões hot-dog e a CIA

Enquanto eu retirava um cílio do olho direito do José Mayer e observava que ele tinha cabelos grisalhos precisando ser retocados e que era mais interessante do que o José Mayer, até porque não era o José Mayer, a minha melhor amiga me comunicava que a minha casa estaria, a partir dali, sob vigilância da CIA (Central Intelligence Agency), via satélite, obviamente. Isto por conta das células fotovoltaicas de energia que eu havia instalado em minha casa.
Eu refutava, explicando que não havia como um satélite captar o que acontecia dentro da minha casa nem com todo sensoriamento remoto do escambau e ela rebatia dizendo que haveriam vários pontos de raios catódicos infravermelhos inseridos em meu jardim que enviariam sinais ao satélite.
Observe-se que para um rompante psicopata jamesbondeano, minha casa não tem jardim. Eu também não uso energia solar.
Então Jung, me explique agora, por que usar de subterfúgios tão amadores, postiços e inconsistentes para enviar mensagens subliminares nada subliminares. Eu também não sou fã do José Mayer.
Em outro compartimento paralelo , diga-se um salão amplo, uma ex-colega de trabalho comprava para me presentear, vários balões em forma de hot dogs na cor roxa.
O estranho é que ela experimentava os balões hot dog, todos enfeixados como uma echarpe em torno do pescoço e do corpo, como se fossem adornos. No sonho, experimentar balões hot dog era uma transgressão grave. Abaixo a repressão!
Observe-se que a loja era um salão de festas com carpete igual, tanto no piso como nas paredes ( deve ser isolamento acústico porque tínhamos que conversar com a música alta), mas com imensas janelas que (primorosamente) davam , de um lado para o mar e de outro para o vigésimo andar . Poderia me atirar no mar ou pela janela do vigésimo andar caso houvesse um ataque do tipo Armagedon.
Eu lamentava que não poderia usar os balões por causa da vigilância da CIA. Matahare ficaria roxa de inveja! É possível que a Melinda esteja fazendo esta incursão para encontrar o Jack antes que comece a nova temporada de 24 horas.
Acho que vou começar a traficar a química do meu cérebro por aí. Dá um barato viajar até as profundezas deste meu escandaloso subconsciente psicopata. Só lá é possível encontrar tantas contradições óbvias.
Uma versão moderna do AKira Kurosawa!
E ainda tem gente que acha que a gente dorme pra descansar!
Carl Jung valei-me!!
beijo terrorista
da melind@

domingo, 27 de dezembro de 2009

" O amor é lindo"




Hoje à tarde haviam dois jovens estranhos agarrados no galho de uma "Pata-de-vaca" alienígena que apareceu na área de ventilação do meu quarto.Sim eles estavam ali, as taturanas, confundindo-se com as folhas. Ficaram por horas juntinhos.
Tão peçonhentas e venenosas, estavam ali, indefesas, esquecidas.
Após longas horas de contemplação entre os espinhos dos galhos, se alimentaram, descansaram e deixaram-se sob o Sol.
Eu não pude deixar de registrar aquele momento tão romântico que não sei nem como, chamou minha atenção.
Elas estavam tão bem camufladas pelo verde que dificilmente poderiam ser percebidas. Deve ter sido sua energia vital, a hecatombe do momento que fez com que eu erguesse os olhos e me deparasse com algo incomum.Confesso que a muito custo meu cérebro começou a delinear a vida suspensa naquele galho.
Coincidentemente elas tinham cerdas que se asselhavam a um galho de pinheiro de natal. Muito interessante mesmo.Imensas e despretensiosamente lindas.
beijo selvagem
da melind@

MatrizTeaser



Tereza Salgueiro.

OKuribito

Foto de divulgação, da Web.

Ontem eu assisti a um belíssimo filme sobre respeito.Um daqueles filmes em que vamos nos apaixonando pela personagem segundo a segundo."O agente funerário" cujo título em português é " A Partida"( Departures) , é um desses filmes encantadores que nos arrancam lágrimas fáceis, mas vertidas de uma emoção e encantamento raros. Dirigido por Yojiro Takita, são 130 minutos de leveza e poesia.

Antes de mais nada os personagens são todos de uma profundidade desconcertante e o tema abordado, a morte, reverenciada no protocolo japonês, segue um rito que nos fala acima de tudo sobre respeito. Isto sem cair no lugar comum.

O personagem central é um violoncelista que após perder seu emprego volta para o interior com a esposa e vai trabalhar como agente funerário. Neste momento o filme também trata do preconceito sofrido ainda hoje pelos "burakumin"(uma segmento marginalizado), descendentes de famílias que abraçavam esta profissão( de coveiros).

O Japão é um dos países onde a modernidade facilmente se choca com a tradição. Há um descompasso entre passado e presente em recorrentes momentos.

Achei super interessante o rito do "Nokanshi" (tradição japonesa de lavar, vestir e maquiar os mortos), preparo do corpo para sua passagem desta existência, que é abordado com muita delicadeza e não exagera na licença poética. O procedimento é realizado na frente dos familiares e se equivaleria ao tamponamento, assepcia e vestimenta dos mortos feitos pelos ocidentais. O nokanshi independe de religiosidade.

Daigo, o violoncelista que vira agente funerário, é dotado de imensa sensibilidade e nos fala de pureza e grandeza , enquanto transita rumo ao encontro de si mesmo. Ele se resgata ao encontrar nesta nova atividade a nobreza e generosidade que até então não reconhecia em sua vida.

O ciclo vai se fechando, muitos gestos, olhares e exatos diálogos, precisamente encadeados.

A morte é sempre um prato cheio e ou vazio, depende da ótica. Daigo converte solenemente as dores e despedidas em uma enorme e profunda paz.


beijo apaziguado

da melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...