sábado, 28 de novembro de 2009

Pensamento para sempre


Era uma vez, um pensamento. Ele nasceu em uma manhã qualquer da primavera ventosa de Bigrivertown. Era muito cedo e ele chegou junto com o Sol.
O broto tinha olhos vivos, daqueles que, antes mesmo de enxergar, já estavam penetrando em possibilidades. Era um pensamento destinado a não ser esquecido. Estava em sua gene.
O jovem pensamento logo percebeu que sua mãe, a mente, era muito ocupada, porque cuidava de seus muitos irmãos, e de outros inúmeros pensamentos hóspedes, pensamentos adotados e ainda os intrusos, que estavam clandestinos pelos cantos, conspirando alguma estratégia para ocupar a mente. Os subliminares eram os mais perigosos. Estavam bem disfarçados em belos rótulos. Os mais singulares e objetivos acabavam se perdendo.
O lugar parecia uma avenida com trânsito congestionado. As buzinas tocavam, a irritação pairava latente a anunciar o colapso.
Sim, sua mãe tinha muitos afazeres, eram muitas formas e linguagens. Como ela conseguia dominar todas aquelas percepções?
Ele, como um pensamento curioso e sagaz, logo começou a especular. Queria saber de suas influências e probabilidades. Era um pensamento de ordem. Seria imperioso que se expandisse. Olhava para si mesmo e temia crescer e tornar-se como tantos outros, inútil atravancando o espaço, entupindo o fluxo da vida . Não queria ser energia extraviada. Não suportaria cair no oco do mundo.
Logo que nasceu, todos se voltaram para ele, alguns cheios de mimos e outros apenas fazendo barulho. Os mais espertos queriam pegar carona em sua idéia ou simplesmente se renovar. Pensamentos malévolos também aparaceram e lhe cochicharam sobre os amargos desabores de sua proposta.
O pensamentinho já havia percebido que sua vida não seria tão simples. Mal chegara e já sentia-se sufocado e vampirizado pelo padrão local.
Conectou-se a pensamentos jovens, como ele, mas cheios de lógica e consciência. Eram pensamentos construtores. Articulavam-se progressivamente. Exerciam grande poder dentro da mente. Sabia que este era o caminho.
Outros pensamentos estavam muito arraigados e eram avessos à qualquer mudança. Queriam apenas mais do mesmo. Sentiam-se ameaçados pela chegada de um pensamentinho inovador.
Contrafeito, reconheceu que certos pensamentos eram pura sabedoria, fruto de muito exercício mental e controle rigoroso,mas nem sempre eram chamados a agir quando necessário. Os comandos não eram eficientes o bastante.
Havia espaços da mente que eram reservados aqueles hierarquicamente mais fortes e influentes. Eles comandavam na maior parte do tempo. Também encontrou os mecânicos e repetitivos como um eco. Eram como um refrão eternizado. Nestes lugares não conseguia se introduzir.
O tempo não existia naquele lugar, só uma referência , um observador pelo qual ele passara incessantes vezes, sob inúmeras óticas. Só pensamento existia.
Por momentos esmorecia, um pouco esquecido de si mesmo em um canto. Sentia-se sem energia.
Precisava de estímulos e novas forças para tornar-se. Era um pensamento obstinado, isto sim, e seu propósito de mundança era uma questão vital.
Em alguns momentos a mente ficava poluída com usurpadores hostis e sem nexo, que ficavam se digladiando, como em uma arena. Muito ruído e nenhum resultado. Sentia-se sugado.Nem a sabedoria conseguia controlá-los. Deixavam tudo um caos e quando silenciavam estavam todos exauridos e esgotados. Nem reconheciam mais o que haviam pensado inicialmente.
Viveu também experiências mágicas e imaginárias quando certos fragmentos coloridos e musicais o iludiam. Ao perceber o caminho de miragens, o pensamento lúcido se punha de volta em seu próprio domínio.
Por vezes a mente se ocupava dele, parecia que lhe nutria especial carinho e queria vê-lo vivo e contagiante. Muitos tentavam desacreditá-lo, por inveja ou ciúme, e faziam críticas para que a mente ficasse confusa. Ele mesmo duvidava de sua razão.
Embora cheia de experiência, em certos momentos a velha casa mental virava uma grande balbúrdia. O pensamento que perambulava por quase tudo, às vezes voltava transfigurado e cheio de aderências. Precisava se limpar e purificar para não ficar deturpado.
O pensamento que nasceu menino cresceu. Presenciou pela primeira vez a retórica que se originava de fora. Eram idéias de uma outra mente. Como poderia? As mentes estavam de certa forma conectadas. Os pensamentos circulavam pelas mentes! Era fantástico! Debates dialéticos egóicos e emocionantes.
As palavras rompiam o isolamento daquelas ilhas mentais. O oceano de informações que acorriam a ele não podia ser armazenado. Era preciso libertar seu fluxo.
Naquele momento um pensamento barreira tentava impedir que pensamentos estranhos penetrassem livremente. Eram vigiados bem de perto e questionados.
Percebeu que poderia sair e desbravar outros espaços. Sentiu um arrepio. Imaginou como seria conectar-se a outros universos. Sabia que era necessário força e direção. Impulso.
Entretanto não havia dúvidas, chegara o momento de agir. A mente articulou-o, como um arco impusiona a flecha. O pensamento corajoso lançou-se como uma descarga energética. Um sopro que liberava toda a energia que se intensificara nele.
Ao perceber-se estava nos locais mais estranhos. Sentia a desconfiança, a curiosidade e o espanto dos outros pensamentos. Muitos mostravam-se com raiva, eram resistentes. Agora ele era um pensamento " estrangeiro", mas não estava só. Uniu-se a outros argumentos . Era astuto, parecia familiar porque era formado pela verdade.
Persuasivo, sabia como multiplicar-se. Ganhou confiança. Queria estar em todas as mentes.
Logo se estabeleceu nas mentes por toda parte onde alcançou. Foi acolhido e alimentado.
O pensamento tornou-se poderoso. Agora já havia se consagrado. Estava mudando conceitos. Era ouvido. Não poderia mais ser esquecido. Ele sabia que o maior pânico de qualquer pensamento é justamente tornar-se uma memória esquecida em algum compartimento isolado da mente.
O pensamento encontrou a intolerância e a indolência, mas ambos foram enviados ao ostracismo.
O pensamento viajou por muitas mentes e constatou que nem todas elas tinham controle do seu conteúdo, muito menos consciência. Passou trabalho em alguns mundos mentais. As mentes dormiam enquanto os pensamentos enlouquecidos reinavam absolutos. Havia muita devastação e tristeza em certos pensamentos.
O tempo mostrou que um pensamento articulado pode chegar ao ápice e então o pensamento já era fato. Mudara o mundo a sua volta. Era tema de diálogos mentais. Estava nas vozes sonoras pelo espaço. Ele tinha movimento.
O pensamento meditativo que nascera frágil e inseguro tornou-se realidade, com a ajuda de muitos outros . Havia se concretizado. Agora seria imortal. Mesmo que sua casa mental desaparecesse como pó, ele permaneceria no mundo , tal qual os grandes pensamentos. Ele agora era um pensamento para sempre!

domingo, 22 de novembro de 2009

Matrix live..

Estou aqui olhando esta tela cheia de janelas e pensando o que é que elas dizem. As tecnologias da informação nos colocam frente à inúmeras opções . Podemos realizar tudo virtualmente.
Movem-se as idéias e os dedos no teclado. Pode-se visualizar, editar , configurar, formatar, postar, marcar, pesquisar, desenhar,trabalhar. Envia-se cartão de aniversário , fotos. Isto sem falar dos sites de relacionamento. Tem-se ao alcance dos dedos as revistas de preferência, jornais, filmes, músicas, conta bancária, cartão de crédito.Pode-se comprar e pagar.
Os olhos ficam hipnotizados, como se ficássemos ausentes. Já reparou alguém de frente para uma tela. Parece que não tem ninguém em casa. E na verdade eu não sei se tem. Pelo menos alguém que interesse. Como se fosse uma parte implantada dentro de nós, o PC passa a dar as cartas. É o crupiê que vai nos atraindo para novas jogadas e mostrando outras possibilidades. Vai blefando e nos viciando com a possibilidade de obter a vantagem no jogo. A relatividade do tempo mostra-se . Horas se foram em uma url e outras tantas. Vamos seguindo as pistas e esquecemos de deixar vestígios para encontrar o caminho de volta. Quando terminamos , nem sequer sabemos onde mesmo estávamos indo.
Abduzidos, isto sim, como se nossas mentes estivessem conectadas, linkadas, e só ao desplugarmos acordamos para o tempo que correu lá fora, no mundo "real" ou para o episódio que não rolou enquanto a catatonia virtual esteve no comando.
Matrix live.......

Do começo ao fim...




Promete..... Bigrivertown ainda vai esperar...

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...