Por que será que temos esta sensação de que cada vez que um ano se encerra fazemos tábula rasa de tudo , rasgamos o rascunho e cremos que é preciso começar o ano reescrevendo o roteiro? Esta impressão está tão entranhada que repetimos sempre os rituais de final de ano, como se o ano fosse um ciclo, um reiniciar salvando as alterações. Lembra-me aquela clássica cena devastadora de " E o vento levou", quando ao final da guerra civil a nossa grande Scarllet afirma -"Nunca mais passarei fome, eu tenho Tara".
Não é preciso estar aferrado aos velhos condicionamentos, mas parece que este ranço é como uma tatuagem no corpo energético, somos engolidos pelo sistema e pulsamos pela contagem do calendário que embasa nossa cultura ocidental.
Arrumamos as gavetas, visitamos velhas memórias, fazemos pequenas reformas na casa e apostamos todas as fichas no por vir, ainda que ele seja aquela certeza que não temos.
Mesmo com todo o exorcismo chega o dia seguinte, a festa acabou, baixamos a ansiedade, pagamos as contas que contraímos por habitarmos o planeta e as apostas que fizemos em nossos pequenos projetos. Lá vamos nós de volta para nossa montanha russa emocional em busca de grandes experiências .
Pois bem, declaro-me rebelada. Já que temos que viver atados ao calendário vamos estabelecer que o ciclo de causa e efeito se desenvolve a cada dia., cada minuto, segundo , éon ou fração desta dimensão.
Estou vestindo a pele de um desses personagens do Woody Allen. Portanto , seja lá qual for o vacilo ou a face funesta que se revele em mim, estará tudo bem. Apenas somos assim , imperfeitos e vacilões.Uma certa dose de misantropia e voilá.
É justamente esse desarranho imprevisível que denuncia aquela especial singularidade.
- "Oh Deus....esse é o sentido da vida....! "
Apesar de manter meu olhar bovino para o mundo, o que tem sido muito saudável, declaro-me saindo do rebanho, vou "pastar" a hora que desejar e sempre que achar necessário.
Pode até parecer que estou escrevendo um texto meio maluco e desorganizado, até um tanto repetitivo, mas é assim mesmo que estou deixando meus pensamentos estarem. Daqui a pouco eles voltam para os seus quartos.
Não , não se trata de um surto antropófobo ou o resumo de uma sessão de análise, apenas algumas observações que transpiro para o espelho.
Desejo muita canela, cravo, alecrim, gengibre, açafrão, páprica, hortelã, manjericão, vento gelado, quadrúpedes espalhados no Sol, pele nua, chá, risadas, desenhos nas nuvens, pés descalços, incenso massala, sol, água, e palavras deliciosamente distribuídos fora de ordem.
Ah.. e tem ainda a leitura "Para abrir o coração"- Treinamento para a paz , de Chagdud Tulku Rinpoche-Imprescindível.
Beijo lindo da melinda
sujeito a alterações