sábado, 25 de dezembro de 2010



A sabedoria de Hermógenes pelas palavras flamejantes do ator Carlos Vereza:
"Deus me livre ser normal".
No balanço que me entorna pelo gargalo deste tempo me acalmo no equilíbrio do mestre e de seu mantra de paz e humildade diante do imponderável.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quero ser Melinda Veiga..


God Bless the Child - Billie Holiday
Enviado por boberwig. - Clipes, entrevista dos artistas, shows e muito mais.

 Caio Fernando  Abreu escreveu   "Onde Andará Dulce Veiga"?
Todo final de ano eu lembro deste livro e por um motivo muito simples, tenho a fantasia de desaparecer atrás de uma esquina como Dulce e surgir em outro cenário como uma personagem misteriosa, envolta em uma atmosfera intrigante e farta de cores obscuras e insólitas. É claro que a Dulce de Caio desaparece por motivos menos banais, eu diria, pois está fugindo para salvar a pele e seu lastro é a conspiração que descolore o Brasil nos tempos de dominação militar.
Bem mas o assunto é fuga e fantasia, meu texto favorito. Eu sempre penso nesta "fantasia" fluida quando chega este período de virada porque é um momento em que começo uma espécie de falso recesso, quando parece que preciso parar para   mais um pit stop. Tudo mentira! O barco segue no mesmo rumo, mas o calendário juliano indica que se aproxima a mudança do último dígito em minha conta com o além de mim e aí  lembro que ainda não conquistei o topo do sonho que nunca acaba, embora eu saiba que isto é uma grande besteira, mas não importa , porque todos a minha volta estão correndo para adornar o grande momento da virada e criar novas e falsas expectativas acerca do futuro.
E chega o momento da "pequena morte" ,como diriam os gregos,  porque quando vivemos uma "conclusão" caímos no pequeno vazio de morte, quando se dissipa a ilusão do objeto alcançado,  dando lugar ao limbo que precede um novo querer. Mais um pequeno corte indolor no qual fica burilada a linha que se insinua sobre nós. 
Por isso minha heroína Dulce Veiga desaparece avulsa e abandona tudo, forjando uma nova trama muito mais original, denunciada apenas pela voz enigmática que habita aquela canção(meio Billie Holliday)  rasgando o silêncio e entregando o passado.
Quero ser Dulce Veiga um pouquinho e acho que isto não é nenhum crime grave! Ninguém melhor do que Caio Fernando Abreu para falar da verdade e sobre extremos que se justapõe.
Não quero mais ter que escutar aquela tradução miserável  de Merry Christmas que a cantora Simone fez o desfavor de gravar   , não quero ter que decidir qual dos convites para ceia é pior e me imagino desaparecendo através de uma rua escura  e surgindo Melinda Bauer em meio a  fumaça azulada pela luz escassa cantando Chico Buarque" oh, pedaço de mim,oh, metade afastada de mim,leva o teu olhar,que a saudade é o pior tormento,é pior do que o esquecimento,é pior do que se entrevar....."
Talvez servisse desaparecer numa praia deserta mesmo( eu sei elas não existem mais) ou numa cabaninha destas cinematográficas no meio do nada( ah, mas é muito perigoso hoje em dia ficar sem alarme, travas e o escambau). Então acho que o jeito é criar um paraíso dentro da  própria mente mesmo, um ponto de equilíbrio que ponha minha Dulce a salvo de toda esta felicidade sintética à venda no balcão ao lado.
Preciso desmascarar esta impostora que anda borrifando brumas sobre meu olhar, mas, vou continuar pensando: Quero ser Dulce Veiga....
"oh, pedaço de mim,oh, metade exilada de mim, leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco,
que aos poucos descreve um arco, e evita atracar no cais.."

(...)"No meio da névoa um filme é projetado numa tela muito grande. O filme mostra Dulce Veiga( loura , provocante, espirituosa uma idade indefinida entre trinta e sessenta ). Cantando a mesma canção. No filme Dulce está num grande salão de festas cheio de espelhos, ao lado de um piano verde de cauda... .(...) ( trecho do roteiro do filme "onde andará Dulce Veiga")
Beijo metade de mim
Melind@ Veiga

E ao te encontrar / Solto o grito que está
na garganta / Abro a boca / E meu coração
canta

domingo, 19 de dezembro de 2010

Exposição da intimidade.

Depois de assistir um trecho do Saia Justa cujo tema era a exposição da intimidade nas redes sociais e os perfis que são criados para definir objetivamente uma impostora subjetividade, posto que nossa subjetividade é conferida ao que é íntimo e o que é íntimo não é público, fico a me perguntar o tamanho da bronca que estamos comprando com esta inominável gama de artificialismos que construímos, como personagens que editamos para apresentar a um determinado público. Isto determina que a marca desta geração é o selo da aprovação pelo externo.
Há uma estética publicitária do que é bonito e isto da o norte do que a edi-tadura social preconiza.
Eu, particularmente, não sou mais do que um rótulo nas redes sociais. Não uso messenger, embora tenha conta e perfil, assim como no Facebook, orkut e twitter. Não tenho o hábito de linkar nestes sites e costumo responder com alguns meses de atraso. Embora tenha me interessado  e até investido algum tempo, não me sinto atraída. Muito raramente dou uma espiada e mantenho a conta ativa. Já houve tempo em que olhava mais frequentemente, mas perdeu um pouco a graça. Não significa que é para sempre.
Lembro que em épocas remotas da internet eu frequentava o mirc, Icq  e cheguei até a fazer boas amizades em salas de bate-papo, mas isto foi no pleistoceno quando as salas tinham poucas pessoas e se usava nick name.  Veja o contra-senso, usar um nick name para (não) idenficar-se ...
Atualmente as pessoas colocam toda a sua vida exposta para aprovação pública. Interessante isto porque na construção que conheci e não faz tanto tempo guardávamos nosso eu , resguardávamos , salvaguardávamos o que havia de mais singular  e isto nos colocava sob nossa própria aprovação. Agora as pessoas se apresentam sob diferentes recortes e num máximo de exposição para apreciação pública.
Não creio que seja ruim ou bom, é apenas diferente, um novo universo a ser digerido por esta geração a qual pertenço que é um pouco divisor de águas de dois tempos.
Nunca vai haver uma absoluta justaposição entre o que pertence a esfera pública e a nossa ordem privada  e por isso vamos sempre criar perfis, ou escudos de sobrevivência. Lembrei do filme francês "Medos privados em lugares públicos".
Será que somos todos grandes hipócritas?
O psicanalista Jorge Forbes diz que o homem precisa estar destituído do peso das identificações verticais , gostei da forma como colocou que precisamos ouvir nossos silêncios e ser flexíveis aos tempos, embora sempre tendo um eixo para se amarrar.
O fato é que seres virtuais não deformam, não soltam as tiras e não tem cheiro....
beijo Lacaniano

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...