sábado, 18 de julho de 2009

Uma estação

As segundas saltam largas para dentro dos entediantes domingos. O tempo imenso das horas se funde num lapso de segundos ,como em um sono cuja madorna de minutos proporciona intensos e longos episódios incompreensíveis, rascunhos enviados por nossas memórias e nossa vida subjacente, a ocultar um outro de nós.
As frases se repetem, os sorrisos se solidificam, as mágoas se tornam cicatrizes, carregadas e estampadas como troféus.
Os dias parecem plágios de um filme ruim, onde tudo é previsível, exceto pelos comerciais, propagandeando novos anestésicos, alucinantes e alientantes, que podem nos conduzir de volta à superfície, ao mesmo , a muito mais do mesmo.
O cinza invadiu as coisas, as pessoas e as ruas .A neblina sufocante só permite alguns focos de calor e cor, que surgem como manchas, pequenas nódoas num porta-retratos.
A sensação que fica é a mesma , uma lacuna, uma palavra que faltou para completar a frase. Aquela palavra que promete que significaria o que de fato não significa, compensada pelo esquecimento ou pela vontade de fazer sentido.

No barulho das palavras

Começei a preencher a solidão
com espaços desconhecidos de mim mesma,
Intervalos descompassados de incompreensão
foram se tornando substantivos abstratos, infinitivos,
imperativos de minha existência .
Vasculhando o máximo da experiência,
brota uma mistura da minha matériá-prima
que coloquei a se entremear,
uma mestiça de mim com a vida,
que cresce fertilizada pelo insólito,
exalado a cada vez que o dia se promete inédito.
A amplitude que se estende quando exploro minhas cavernas
me dá certezas do absoluto.
Estou enfim segura em meio aos vendavais,
estou em paz no centro da tormenta.
A letra sozinha e muda
revela o cheio das horas ao
se enfeixar a uma e outra,
As gavetas atopetadas parecem entulhos,
e com sentido só resta o barulho das palavras,
cada vez mais novas e vaidosas
de suas primeiras verdades.

domingo, 12 de julho de 2009

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Dear Melinda

É aniversário do Moksha, que já está ficando um moço, afinal já são quatro meses por aqui, experimentando este mundinho muito doido dos blogs. Mais ou menos como uma locomotiva desgovernada à velocidade da rotatividade local, vai derrubando placas e invadindo propriedades, espiando pelas janelas, apitando na campainha e fugindo. Ouvindo conversas atrás das urls ou espiando entre as tags, é uma aventura indisível penetrar nas criaturas deste imenso "second life" acidental.
O Mokshinha ainda não sabe o que quer ser! Fato! Há momentos de graça, momentos de descoberta, momentos de contemplação e até de medo...Também existem horas de abandono e desespero. Pobre bicho!
O Moksha, que no início era um blog tímido e retraído cheio de receio de soltar a voz e contar seus segredos, foi ganhando um tom mais descompromissado e disparando seus verbinhos acanhados.Continua tímido e retraído!
Mais ou menos na linha do "ame e dê vexame"( parafraseando o Roberto Freire) o Moksha vai ensaiando e se exibindo( coisa que adora), mesmo que quase sem platéia. Exibir é o verbo. É como ficar fazendo graça, dançando e cantando na frente do espelho e de repente se ver flagrado por alguém a espreita. Não existe sensação menos autêntica. Todo mundo já foi surpeendido enquanto brincava de faz de conta.É um excelente exercício de autoconhecimento.Hora do check-out.
Apesar de conhecer o teu tom ácido e debochado, percebo que tens sido complacente e usado a ênclise, o que me deixa mais tranquila.
O Moksha também fez alguns contatos e está tentando ser o que por aqui é moda, interativo. Vejo que tem sido bem explorado, dosando cada post com dedicação, pitadinhas de simbolismo , algumas incógnitas ( que ninguém é de ferro), um tanto de humor e muitas variáveis, porque nada é pra sempre e a inconstância é a única coisa definitiva. O importante é que são anticoagulantes essenciais para oxigenação e sobrevida de um blog!
Todo mundo fala que o mundo dos Blogs é Lavoisieriano , ou seja , nada se cria , nada se perde e tudo se transforma, acrescentando um tudo se copia, mas o Moksha quer ser ele, peculiar. Faz seus desenhos bizarros e tenta ser o mais honesto "possível", porque toda verdade tem dois lados, ou muitos lados e nada como os dias pra descascar o que parecia nu.Hora do check-in.
Claro, como todo jovem, sujeito às instabilidades da idade e as paixões exacerbadas é um pouco exagerado e se repete, escuta muitas vezes a mesma faixa e não consegue decorar a letra.
Por outro lado,cansa-me o excesso de conjecturas......muitos "talvez"......"será", "quem sabe"? Muitas aspas. Muitos simbolismos!Será que você entende seus simbolismos?
Que o moksha não descanse em paz e que seja!
Love
Melinda




Qual é o seu dosha?

Eu sempre apreciei muito a postura dos orientais e a forma como estes povos lidam com os desequilíbrios do corpo, os quais classificamos como doenças.
Eu pratico Yoga faz três anos mais ou menos e já havia praticado quando era pré-adolescente, desta feita porque tinha problemas respiratórios e o médico recomendou como uma alternativa para aprender a respirar. Eu adorava, mesmo, havia uma fauna de adultos muito diferentes para a minha percepção na época.
Nossa professora era uma papisa da prática.O corpo uma borracha. Era inteiramente grisalha, baixinha e tinha a pele morena. A voz era muito grave e o tom era um sedativo. O calor de suas mãos era mágico e a risada inspirava grande confiança. Eu era muito tímida e insegura. Na verdade me sentia um ET. Acho que foi minha primeira malha e minha primeira meia daquele tipo. Achava o máximo. Lembro até do cheiro do incenso e da atmosfera do lugar. Era uma casa antiga , com tabuão já gasto. Os cômodos se comunicavam uns com os outros e as paredes tinham cores escuras, que eram usuais na época. Rosa forte, azul forte. Era um tanto nebuloso, enigmático, como se faltasse uma peça. Estimulava minha fantasia e eu sempre observava tudo com um tom investigativo.
Praticavamos Hatha Yoga e cada um de nós tinha seu próprio colchonete, que era um requisito para frequentar a escola .
A fauna era o mais estranho, havia uma senhora loira e com um corpo na forma de sorvete que frequentava junto com a cunhada e o filho. O garoto era muito gordo e não conseguia amarrar os próprios tênis. Chorava por nada e tinha uma voz aguda e cortante , do tipo que pede para levar umas porradas( perdão pelo excesso).A voz da mãe loira artificial era estridente e não cessava nunca, a cunhada era o tipo grande, a irmã solteira do marido,era magra e tinha pouca flexibilidade .Ambas ficavam paparicando aquele pobre coitado que deveria ter a mesma idade que eu. Não mental é claro.
Do outro lado estava uma moça que eu achava linda e deveria ter uns 19 anos. Queria ser como ela. Ela estudava balé clássico e usava suas malhas para a aula de Yoga. Chamava-se Angela. Tinha longos cabelos castanhos e era um cisne nas posturas.
Havia ainda um homem de seus vinte e poucos , estudante universitário e que tinha o tipo meio woodstock. A filha de nossa professora era uma jovem de longos cabelos castanhos que às vezes aparecia em nossa aula.
Era um status poder contar na escola que eu fazia Yoga. Eu me achava. Lá aprendi a fazer camêlos, peixes e invertidas. Parada de ombros e torções. Eu era muito flexível e assim, sem saber porque eu me sentia em casa em meio aquelas pessoas tão diferentes entre si. Na época não era moda fazer yoga, era uma coisa meio alternativa. Todos me chamavam pelo diminutivo.
Bom , mas o que me trouxe a este assunto foi a medicina ayurvédica. Faz um tempo conversava com uma amiga que tem um terapeuta ortomolecular e começamos a falar de tratamentos baseados na alimentação. A medicina ayurvédica entrou na pauta e como já gosto muito de pesquisar sobre alimentação porque acho que somos realmente o que digerimos, usei a internet e os conhecimentos ao alcance.
Já tenho por hábito balancear minha alimentação . Sou uma espécie de pseudo-vegetariana . Nada é radical. Eu adoro comida e quanto mais novidade melhor. Mas , em regra vivo de arroz integral, massas e biscoitos integrais, sementes, frutas frescas e sucos.
Então, pesquisando sobre alimentação ayurveda eu achei um site muito legal onde podemos pesquisar sobre nosso tipo, nosso dosha. Existem três tipos pelo que entendo, o vata ( mental-ar), o Pitta ( ação-fogo) e o Kapha ( emoção-terra e água). No site há um rol de perguntas e finalmente a classificação do seu tipo dominante. O meu é Vata e em segundo lugar Pitta. Sou Vata-Pitta.
Mas o mais interessante é que traz a dieta mais adequada a cada tipo ou dosha e tem toda uma filosofia sobre o porque de cada dosha. Enquanto analisava a dieta mais apropriada para o meu tipo, reparei que incrivelmente é muito parecido com meus gostos e hábitos. Cheguei a conclusão de que realmente é importante ouvir o próprio corpo e prestar atenção aos nossos sinais como nos ensina a Yoga. Nossa natureza é fantástica e muito inteligente. Nossa tendência é o equilíbrio. Eu , por exemplo, gosto de alimentos em temperatura natural ou quentes e mornos. Não gosto muito de gelados e isto ficou claro como uma característica de meu dosha. Algumas frutas nas quais sou fissurada estavam lá, como indicativo de minha dieta saudável. O site é http://www.ayurveda.com.br/ayurveda/home/default.asp?acao=doshas&q=kapha

Dá para responder ao questionário , ver a classificação dominante e ainda encontrar indicativos de alimentos mais importantes para cada tipo. Há também dicas de auto-massagem , a Abhyanga e óleos vegetais indicados. Algumas massagens já conhecia e há várias muito interessantes.
Considero muito importante para nosso auto-conhecimento entender toda dinâmica de nosso metabolismo e de nossa energia. Nosso corpo etéreo! Tratar o corpo com carinho é uma forma de amar-se e isso faz bem para a natureza como um todo. Acho que precisamos nos mimar bastante. Namastê..

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...