domingo, 25 de dezembro de 2011

Saudades da Melinda, da blogosfera , de mim....ou jogando conversa...

A  vida tem umas janelas muito interessantes. Passam tempos fechadas, mas quando abrimos liberamos aquela energia que ficou ali esquecida e represada. Esta é uma dessas janelas, literal e virtualmente.Quando escrevo aqui no Blog é como se penetrasse um compartimento secreto de mim mesma em conexão com o mundo . É um grande veículo para o autoconhecimento ,autoentendimento e uma condução rápida para melhor compreensão de tudo a nossa volta.
Penso que sempre que nos expressamos fazemos uma releitura e revisão de ideias. É muito saudável.
Esta semana também abri uma outra janela. Minha velha cidade, um brejo cercado de águas por toda parte. Baixios e línguas de terra , águas doces e salgadas. Às vezes é preciso parar e olhar para ela. Uma força viva de história, concreto e encantamento.
Eu explico, fui fazer uma aula com minha turma de Yoga , mas desta vez ao ar livre, a beira da Lagoa, junto ao museu oceanográfico. Tivemos a companhia de um lobo Marinho e de um cenário sem par.
O sol refletindo seus raios na água que dançava impermanente como a vida, o som dos mantras entoados carregados pelo vento e a energia vibrante da egrégora. Como platéia   barquinhos distantes roncavam  motor quase imperceptível.A natureza encenando seu grande espetáculo. Abrimos ali uma janela no tempo-espaço, o mundo parou e restamos nós presentes àquele momento.

OM Saragaya namaha- Minha saudação ao oceano!

Minha saudação aos blogólotras amigos
Forte abraço
da melind@


sábado, 23 de abril de 2011

um tempo...dois tempos...três tempos...

...De repente de verdade de passagem
vez em quando nem tanto quase sempre
um bocado um tanto um quinhão
um vazio um buraco  um não sei não...


Fazendo um trocadilho infeliz eu diria que o tempo é a matéria da qual somos feitos. O meu anda no especial. Não consigo cobrir o negativo. Sabe como é?!Deixa-se de fazer uma coisa para poder fazer outra e daí só aumentam os juros porque os novos compromissos vão vencendo e aqueles outros estão pendurados  esperando serem cumpridos.Novas promessas vão cobrindo o rombo e simulam um falso fôlego. Qualquer hora perco "definitivamente" o crédito.Eu sei que o tempo é uma armadilha e que na grande maioria das vezes é uma questão de fazer as escolhas certas, entretanto, quais seriam as escolhas certas? As do senso comum? Pouco provável porque o senso comum está perdido e não pode mais ser denominado bom senso. Aqui estou brincando com a burra generalidade. Ainda bem que após o meu quadragésimo sétimo aniversário eu continuo colecionando perguntas.
Fico aqui pensando nesta coisa louca da urgência que nos domina, como se fosse preciso beber o mundo todos os dias ou , pelo menos, não esquecer que a roda viva não espera por ninguém, seja lá para onde estejamos indo.
De repente dá para descobrir que este tempo é uma pantomima que fica nos iludindo para impedir que nos atiremos do trem . Este mesmo trem que nos joga rumo a um destino que acreditamos estar conspirando para criar. Eu estava com saudades de espalhar palavras sem compromisso exceto com um tempo eterno e interno que me forja nesses segundos infinitos e densos de razão.
beijo insólito
da melind@

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A didática da boca do lixo ...

Eu sempre tive uma forte atração pela boca do lixo, indo um pouco além do que é apenas marginal. Endenda-se boca do lixo como tudo aquilo que se encontra no submundo das aparências ou nas entranhas do ilusório. Grifadas as palavras entranhas e submundo. Se começarmos a retirar as camadas que se sobrepõe aos fatos, revestindo-os de uma infinidade de versões, vamos encontrar o que eu chamo de boca do lixo. São os vestígios da debilidade de todas as esferas. Aliás eu diria que o lixo de uma sociedade fala muito. Mas não é ao lixo literal que me refiro e sim ao descarte de conteúdos que não queremos ver no nosso cartão postal.
Acostumamos a ver e entender certas coisas de um jeito e quando nos deparamos com o lado B parece inconcebível. Gosto de passear pelas fragilidades, pela falta de modos ou ainda pelo inapropriado. Preciso ouvir a frase errada, sentir o cheiro passado do que já parece não prestar mais. Instigar cada parte do psiquismo. Desconstruir a engrenagem .Olhar de canto o desvio de caráter e a fraqueza. Ela mesma, temida e execrada pelos bons.
Acho que a sensação de intimidade com este 'domínio' se dá pela mistura de brutalidade com sinceridade que está presente em situações extremas. Estas considerações me vieram a mente através do  filme "Biutiful"-escrito assim mesmo-de Alejandro Iñarritu que percorre este caminho rumo aos locais mais recôndidos da natureza humana.
O filme trata especialmente de um momento excruciante e presente que a história está perfazendo que é a crise européia. Os efeitos indesejados  do remédio amargo da imigração e suas políticas desesperadas, dos cortes no modelo de bem estar social , da globalização com desemprego e da máfia purulenta que brota do subterrâneo da ordem prescrita.
É um ato corajoso soprar o castelo de cartas e ver pelas visceras a grande questão que vem se confrontando com os governos dos países europeus e que parece mudar o curso da ordem mundial lenta e dolorosamente.
O crescimento dos cinturões de marginalizados , os movimentos xenofóbicos, a desconstrução de valores e paradigmas , enfim a decadência de uma sociedade milenar que parecia inabalável. As rodas da história mais uma vez estão demonstrando que nada é para sempre e o apogeu das civilizações é completamente efêmero e ilusório.
A espécie humana é dotada de uma natureza indômita que se for submetida a determinadas condições de temperatura e pressão , leia-se crise, manifesta reações idênticas independente do tempo, como se fosse atávico. Isto fica patente no filme de Iñarritu.
Apesar da crítica não ter sido favorável achei o filme uma excelente oportunidade de fazer um tour pelas realidades cruas que lá , como aqui sempre achincalham os  mais frágeis e desfavorecidos. Sinto que ficou faltando concluir este raciocínio.
O contraponto foi assistir Baária-A Porta do Vento,  do adorado Giusepe Tornatori do meu inesquecível Cinema Paradiso.
Em Baária uma versão nostálgica e cheia de licença poética mostra uma sociedade com suas inaceitáveis transgressões,  mas dentro do tolerável nas lentes de Tornatori.
É preciso esquecer Cinema Paradiso para gostar de Baária (como se isso fosse possível), uma viagem pelos ventos através de gerações  conduzida por Peppino.
Estão presentes em Baária alguns ingredientes semelhantes aos de Cinema Paradiso, como o cinema e a nostalgia das escolhas que a vida nos impõe. O filme percorre as mudanças  históricas do período Segunda Guerra  até chegar a atualidade, só que coloca esses acontecimentos em um plano secundário.
São enfoques de duas grandes mentes do cinema, duas gerações e lentes, embora totalmente desalinhadas e que conseguem surpreender pela viscerotomia da vida em seus personagens.
O interessante é que minhas incursões pela boca do lixo sempre são muito aclaradoras, como se eu trouxesse de lá  um bocado de compaixão por minha ignorância e até me convertesse a uma nova concepção do velho e rançoso homem civilizado.
Meus instintos se amotinam contra a viabilidade comportada do mundo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Encontrando Melinda..

Esvaziar a mente é mesmo uma tarefa dura, até mesmo para uma mente adestrada( o que não é exatamente meu caso). Me sinto como Indiana Jones cada vez que começo a me preparar para meditar.Primeiro o corpo parece que cresce, o ar fica mais difícil e começo a me mover como se sofresse de espasmos. Muito bem, sossega leão. Inspira e exala. Respiração alternada. Sou insistente. Logo começo a jogar a isca para desviar aqueles pensamentos dominantes libertados pela 'mente' no momento em que tudo parece se acalmar. Precisa estar no controle, manter mais do mesmo, quer continuar lendo aquele livro ou quer falar ao telefone. Lembra do pagamento da fatura do cartão ou precisa urgentemente dar comida para o quadrúpede peludo.É preciso entregar o filme na locadora ou guardar o que ficou esparramado sobre a cama. Mais uma tentativa, resolvo me conduzir para uma caminhada na praia. Coloco o chapéu*,  enfio um tênis, não, melhor um croc e idealizo uma praia vazia. O mar está calmo e eu começo a andar. Fico sentindo a areia morna quando tiro o calçado. Olho detidamente minhas pegadas sendo desenhadas na areia. Continuo. Meu calcanhar começa a coçar. Resisto. Começa a rolar do outro lado da minha experiência na praia o remake de uma discussão inacabada. Lá estou construindo argumentos sobre a importância do aniversário da morte do primo da secretária da academia. Pronto. Voltei a estaca zero. Novamente saio pela praia e repito a operação. Dou um último aviso lobotômico antes de reiniciar. Bom desta vez parece que fui, já estou assistindo um por de Sol surreal , como uma pintura de Marc Chagall  e me sinto flutuando sobre a vida como uma parte postiça de mim. Na litografia de areia e água, em amarelo e azul eu segui pairando e deixando aquele mundo comum de cabeça para baixo, abandonado junto com aquela casca e sua mente dominante e que não consegue atravessar paredes. Esperei pela lua e ainda me vieram algumas palavras como versos alternados entre os dois mundos . Deixei-as lá no ponto tranquilo onde me encontrei por certo tempo que agora não é possível mensurar, ao menos quanto a sua equivalência. Um sonho real dentro e uma realidade ficcional do lado de fora. Quem sabe a arte não é uma forma de meditar-se e encontrar-se...

                                                         "bluelandscape" Marc Chagall

-Atravessar a parede das conveniências e tornar-se livre. Tomar posse de si! Que tal? 
-Acho bom.
-Bom? 
-Sim.
-Assim, só isso?
-Como assim...só isso? Acho bom.
-É um sofisma, uma falácia!?Não vê?
-Que seja!
-É como estar flertando com a irrealidade!
- Não passa de mais um instrumento de fuga!
-Fuga de que?
-De  conceitos superlativos e surreais! É só um desabafo, uma forma acurada de encetar um alicerce líquido.
-Pra quê?
-Acorda! Não existe um pra quê, simplesmente é! É a lenta fermentação de um pensamento recalcitrante. Sim um pensamento desses que acredita que pode-se ter uma vida fora do comum ainda que dentro de si mesmo.
Sonha Alice!
Beijo hiperbólico incompreensível
da Melind@

domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma certa Merecilda...

Outro dia após um jantar com velhos amigos fui deixar uma amiga em casa e parei em local proibido. Estava junto com outra amiga( a Sô) e nos surpreendemos quando a viatura abarrotada de PMs alinhou na minha janela e emitiu um comando através do olhar 1548 que me fez arrancar imediatamente. Risadas depois lembrei de uma passagem hilária que voltou pelo tempo sobre uma certa Merecilda que merece ser contada.Eu era criança e nunca esqueceria um nome tão estranho...

A Merecilda apareceu na minha história nos anos setenta porque  foi trabalhar em casa de uns tios como doméstica. Merecilda  é um nome que ninguém merece e posto isso fica combinado que ela gostava de ser chamada simplesmente de Meri. A Meri também tinha uma história, poderia ser até uma personagem de Jorge Amado, mas passou escondida das páginas de um romance e  ainda muito  jovem , acreditou nas palavras macias de uma gajo que  acabou fazendo a  moça fazer a festa sem ter casamento - " prometer , prometer, até meter, depois de metido, nada prometido".Parece duro, mas é parte do repertório chauvinista vigente. Do encontro festivo nasceu uma filha, a Rosemary, motivo de  orgulho para  Meri, que após ser abandonada a  própria sorte pelo namorado conversador, teve que  ir em frente.
Não era muito bonito ser mãe solteira na década de setenta e portanto o fato era tratado com bastante discrição. A menina só aparecia em nome porque morava com a madrinha na zona mais rural da cidade ,' pra fora' como era o jeito simples da Meri falar. Todo mês a Meri as visitava e levava parte do seu salário que a  madrinha usava para pagar as despesas.
Apesar de um tanto limitada a Merecilda era muito dedicada e passava um filé divino na manteiga.Ficava levemente tostado e com aquela cor que fazia água na boca. Ela custou a aprender que plástico derrete e que "l" não é "r", mas isso foi só o começo. Acreditava que só ela sabia cuidar dos meninos, principalmente o mais velho, seu preferido.Gostava de contar histórias de horror e entendia os patrões como familiares,  tomando intimidades muitas vezes embaraçosas. Seria o que hoje chamamos "abusada".
Mas a Merecilda tinha formas de violão, ninguém ousava estimar sua idade, com aquela cor de café  e o gingado de fazer balançar os quarteirões  da vizinhança, além é claro de um sorriso enigmático de Monalisa.
A casa onde trabalhava e morava lhe reservava um bom quarto, ajeitado com banheiro e armário onde tinha retratos de artistas e as bugigangas que alisava por grau de importância.Espelho com borda dourada, bicudinhos de cabelo e a foto do namorado Jorge.
Adorava homem de farda e sonhava com o dia em que seria cortejada por um farda verde. A Meri sabia de seu potencial e quando passava o batom cor de rosa acreditava que seduzia todos os pares de calças.
Todas as tardes ao final do serviço se perfumava com água de colônia, cobria a boca de brilho rosa claro e  saía para o 'footing' pelas ruas do centro de Bigrivertown.Não chegou a ser uma lenda, mas era namoradeira. 
Certo dia parecia que seu destino havia mudado. A noite já caíra e a Merecilda telefonou atônita para a Patroa:
-Dona Dália?
-O que foi Meri?
-Eu tô num lugar e a senhora precisa vir aqui..
-Ir onde? O que está acontecendo?
Ao fundo se ouvia vozes de homens e ela falou com um deles. O homem tomou o telefone e disse:
- Boa Noite Senhora , aqui é da delegacia de polícia. .
- Delegacia de polícia?- repetiu a dona Dália.
-Sim senhora, a moça aqui  tem que dar umas explicações,  diz que trabalha para a senhora.-completou o homem.
Dona Dália chamou o Marido, seu Valdinei que foi logo perguntado:
-Mas afinal, do que é que se trata?
-Seria melhor o senhor vir até aqui...-disse o homem definitivo e  encerrando a conversa.
Era 1973, quando Bigrivertown ainda era área de segurança nacional e a cidade àquelas horas era um breu só. Seu Valdinei tirou da garagem um Ford Aeroíres bege com estofamento de couro da mesma cor e foi com a mulher a contra gosto até a delegacia que ficava relativamente próxima .
Ao chegarem à DP viram  aquela mulata  com um sorriso enviesado no rosto e cheia de orgulho. Enrolou duas vezes os dedinhos e  chamou a dona Dalia bem pertinho e dizendo:
-D. Dália  eles tavam me paquerando . Ficaram brigando pra ficar comigo!-a patroa baixou os olhos pigarreando e devolveu:
-Não diz besteira mulher! 
Ela se referia aos policiais da BM que haviam passado com aquela  farda verde em um camburão de ronda policial.
A voluptuosa Merecilda saira do bairro onde morava e atravessara uma conhecida zona de meretrício para chegar ao centro da cidade.
É lógico que ao perceber a camionete repleta de fardas ficou exultante. Esboçou um sorriso e pôs-se a foguetear. Quando o veículo diminuiu muito a velocidade teve a certeza de que seu cavaleiro de  farda havia chegado. Se aproximou dos militares, cada qual mais alinhado em sua farda e soltou algumas gracinhas com aquela voz de veludo cottele, o  que lhe valeu um passeio de viatura.
Foi detida por prostituição!
O seu Valdinei soltou uma gargalhada daquelas de segurar a barriga  e fez um trejeito com a língua.- mal entendido- Não acreditava na história que acabara de ouvir.
Dá para imaginar os adjetivos nada virtuosos usados para definir o vacilo da Meri. Ela não merecia!
A Meri já havia 'assinado' um boletim e estava sendo fichada. Seu Valdinei explicou sua ingenuidade, que era doméstica e não sabia ler ou escrever. Era moça direita, mas com certa limitação da inteligência. Desfeito o mal entendido foram-se todos ilesos.
A Merecilda embarcou na parte detrás do Aeroiris com puxadores cromados insistindo em que aqueles homens estavam interessados em cortejá-la. Jamais se convenceu do contrário. Quem vai saber?
- Me levaram porque não deixei abusar de mim..-repetia ela.
Tratando-se daqueles tempos o caso ficou lá com as suas obscuridades.
O seu Valdinei passou a contar o acontecido nas rodas de amigos. Ria com os olhos arregalados e segurava a barriga.
Um ano depois a família partiu quando seu Valdinei, que era funcionário público, foi transferido. A Merecilda  ficou esquecida. Virou só uma história  folclórica daqueles tempos que eu ressucitei no boca a boca.
Merecilda,  ninguém merece...ah não!

beijo merecido
da Melind@

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"Só os loucos tem razão"(será que é porque não se pautam pela lógica?).: O autor deste "axioma" reflexivo é o excêntrico Bernardo Paz, colecionador de arte que concebeu Inhotim, considerado o maior Jardim Botânico e também museu a céu aberto da América Latina. Que não conheço!
Morando em Findomundotown dificilmente tenho acesso a este mundo dos adoráveis loucos. Fico só aqui babando.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quarta e quinta cinéfilas começaram com dois filmes.
*Assisti ao filme "Mother" do diretor coreano  Joon-ho Bong. Diversão difícil. Deveria ser "Kill your mother" porque a personagem interpretada soberbamente pela atriz coreana Kim Hye-já  provoca no telespectador ( no caso eu) os sentimentos mais extremos, indo de zero a nove na escala Richter, tremores de medo, pena,  raiva e  nojo, só para começar. Logo deduz-se que o filme é muito bom pois  conduz por vielas  inesperadas e está cheio de viradas no caminho, além de ser uma comida estrangeira, tem uma digestibilidade duvidosa. Gosto de experimentar estas sensações.
Uma mãe tem conteúdos muito obscuros e a relação entre mãe e filho, que o diga toda a teoria psicanalítica, é cheia de umbrais , de portais que separam tenuemente o impensável do bom senso.

****O segundo filme que assisti  foi  o sensacional " As melhores coisas do mundo" da cineasta Laís Bodanzky e que me levou do riso ao choro. Amei o  mano(Hermano), personagem central da história, um adolescente de 15 anos e a Carol, sua melhor amiga. A história é muito bem amarrada e faz uma sacada excelente do tema ou temas( homofobia, bullyng, geração digital...)
O pai do Mano se divorcia a fim de viver um romance com outro homem , ou seja , uma saída do armário que vai dar  munição pra discutir o assunto.
O drama poderia estar acontecendo ali pertinho de qualquer um de nós. Aliás é um bom pretexto para discutir o tema central, o preconceito nosso de cada dia. Nada melhor do que a adolescência para introduzir uma boa crise. ADOREI.

beijos cinematográficos
da melind@
Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria face de dentro de um espelho. Contemplando dimensões de mim sombrias e desconhecidas.
Ali permaneci demais talvez .Me contaminei da substância escura e ilusória que chamo medo. Mas que poderia vestir com outras palavras. Assim mesmo não perderia o sentido. Caminhei por minhas veias e pesei em gramas o pouco que entendi .Assim permaneci sem certeza do próximo ato. Em busca de algum perdão. Que  insiste em se guardar . Um sonho  que sai em outro. Cheio de meus personagens movediços. Transitando às cegas os mesmos lugares. Estranhos uns aos outros. Repetindo seus textos previsíveis e mesmo assim aquela sensação. De estar sempre a um passo da verdade. Ou talvez da liberdade. Quem sabe são a mesma fugaz sensação do inexplicável. Que persigo açodada e imprudente.Aquele segundo que torna tudo um fascículo novo. Não posso continuar impunemente. Condenando a vida .Como vício que  sabota . A vida não tem culpa.É inocente porque tem todos os sabores. É a próxima página A próxima palavra ...E digo 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O livreiro de Itajaí

Acontecem episódios muito curiosos na vida, talvez para que a gente possa perceber que a regra é "crie as suas próprias regras".
Este  simpático indivíduo é o Ademar, um curioso e quase folclórico morador da cidade de Itajaí por onde passei na última semana. Exerce o papel de livreiro que, contrariamente aos livreiros que buscam raridades para seus coleionadores , recolhe justamente aquilo que ninguém mais quer. O Ademar tem um "sebo ambulante" que trafega sobre duas rodas e  normalmente estaciona no Mercado Público da cidade. Não preciso dizer que é uma figura e tanto, bom contador de "histórias", matreiro e obviamente, um sobrevivente, que arranjou um jeito de ganhar a vida. Ele pedala pelas ruas de Itajaí com   uma caixa acoplada à sua bicicleta , onde guarda seu acervo, seu ganha pão. 
O Ademar provê sua mercadoria indo de casa em casa, pedindo doações de livros que as pessoas não querem mais e assim vai engordando seu estoque. Entre as doações há muito papel velho, mas também se encontra alguma prata se tirar um  tempo para garimpar.
O livreiro ambulante também faz promoção e oferta sua mercadoria com muita lábia, se não conseguir no talento ele entoa 'compra  porque eu preciso'. Nem vou mencionar alguma finalidade etílica porque ninguém é de ferro.
Bem, o mais hilário é que o Ademar é analfabeto, ele diz que se não aprendeu a ler até hoje é porque não vai precisar, mas gosta dos livros e os trata com o carinho de quem intui  seu valor. Não aprecia sua substância, mas apenas sua forma, seu cheiro e as marcas amareladas das suas páginas. Cada livro tem sua história com o Ademar. É um outro olhar sobre as letras, que faz circular uma substância que ele próprio desconhece.
Em sua ingenuidade  não faz muita idéia do que está  oferecendo às pessoas e indica as leituras mais bizarras sem qualquer constrangimento.
Me impressiono ao perceber que ainda existem pessoas que reconhecem um mundo pelas embalagens e lógico, pelo conhecimento prático. Acordo para um Brasil que ainda luta contra o analfabetismo. São os meandros escavados pela caprichosa correnteza da vida.
Ao final da conversa eu descolei uma edição antiga de um livro da Marina Colasanti e a minha amiga comprou um romance policial do Edgar Wallace. Ele vende qualquer 'peça' por cinco reais e se comprar vários tem desconto.
Quando o parabenizei pela iniciativa criativa e nobre de vender livros ele disparou (para encerrar a conversa):
- Se cada parabéns que eu ouço valesse um real eu estaria milionário!

 beijo soletrado
da melind@

domingo, 2 de janeiro de 2011

Conjugando novos verbos

São muitos os verbos que  almejo conjugar  neste ano, aliás são novos encaixes de letras que eu já venho procurando avidamente há tempos, não sei quanto.
Um deles é aceitar e acredito que conjugar internamente este verbo é um processo lento e permantente.Aceitar os passos que dei até aqui e o tanto que usufrui das minhas escolhas. Aceitar quem me tornei e a iminente possibilidade de deixar de ser. Tenho um velho amigo argentino que costuma dizer que " para chegar a ser o que não é , é preciso deixar de ser o que é". Abandonar o fardo da permanência e da constância é permitir-se.
Almejar vem de dar a alma e esta não poderia ser uma abordagem mais fidedigna para algo que se define no interno. Colocar a alma em uma nova proposta.
Um livro de Luís Tejon chamado "O beijo na realidade" ensina que só podemos mudar qualquer conceito a partir do reconhecimento e aceitação da própria realidade e conhecer a realidade dissociada da cosmética da ficção é um exercício permantente de lucidez e disciplina.
É fácil observar nas pessoas próximas que nos querem bem a ânsia contínua para ver-nos enquadrados em algum padrão. Parece que somos sempre submetidos a um quadro comparativo no qual temos que nos encaixar, ainda que seja apenas por aproximação.
Estamos sempre sendo subjulgados aos anseios de nossos espelhos, que criam expectativas de que sejamos capazes de forjar um alguém equiparado ao senso comum que eles mesmos não alcançaram. Talvez por isso, ainda que inconscientemente, persigamos um ideal sem nos dar conta de que tal quimera não existe. Criamos uma imagem que acaba sendo uma prisão pois temos que sustentá-la haja o que houver.  Por isso quero conjugar também o verbo reinventar porque o antídoto para sair do ciclo é a própria reinvençao ou ainda a aceitação da individualidade. Nada se repete.
Quero colocar as expectativas em alguma gaveta que nunca abro, deixar que permaneçam lá  esquecidas até tornarem-se apenas fugazes lembranças.
Ontem eu assisti um filme chamado " Almas a venda"  que achei, no mínimo, curioso. Trata-se de uma empresa especializada em extrair e armazenar as almas das pessoas a fim de que estas sentissem mais leveza, ou seja, removeriam o peso da alma. A empresa também oferecia a oportunidade de transplantar a alma de outro ser, um doador, a fim de que o cliente podesse experimentar outras energias. Só que ao final vamos descobrir que sem o 'peso' da alma perdemos nossa substância mais preciosa.
A certa feita o vendedor da idéia argumetou usando uma associação muito pertinente. "Um elefante ( de circo) é amarrado pela pata  desde pequeno a um toco e acostuma-se a estar preso. Quando cresce , embora aquele toco não seja mais capaz de detê-lo, permanece ali preso".
Isto chama-se condicionamento. Então é preciso remover os condicionamentos que acumulamos de nossas experiências passadas e dos ensinamentos que recebemos aceitando-os e a partir disto buscar forjar uma nova percepção de nós mesmos.
Muitas vezes o meio no qual vivemos nos torna escravos desta falsa percepção.É como se fóssemos dados viciados. Embusteiros que obstruem a expansão da nossa consciência. Ficamos vibrando na velha frequência e emitindo os mesmos impulsos e consequentemente recebendo de volta . Forma-se assim um ciclo interminável, como cães correndo atrás do próprio rabo. Um telefonema e assumimos logo nosso condicionamento, uma palavra e automaticamente lançamos mão daquele persona conhecido.
Por isso quero conjugar também o experimentar, a fim de abrir totalmente a guarda às novas receitas e combinações de cores e sabores.
Quero uma overdose do verbo mudar, do transformar , do abraçar , do acreditar. Isto, acreditar, dar crédito a mim e enfim confiar. Faço novo contrato comigo, com novas cláusulas e com muitas cláusulas abertas a resultados imprevisíveis.
Quero a imprevisibilidade por princípio e os perigos da liberdade como meta.
Quero adentrar os espaços vazios da minha mente e ficar mirando nas bolhas de pensamentos alheios condicionantes de  dentro da minha falibilidade humanóide.
bom recomeço..
beijo
da Melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...