sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O encontro..

Estavam todos lá , no mesmo espaço, concomitante, paralelo , simultâneo, virtual. Real? Vamos permitir a interrogação neste momento. Afinal quando se estabelece contato entre um autor e seu leitor acontece a alteração dos agentes. Qual é o produto quando as tramas se equacionam elevadas a potência da imaginação? Seria a simples transposição da vida para as partituras do compositor? Uma questão para a investigadora melinda.

Vamos transformar o seu rascunho em arte final, vide Paula Toller.Mas, não vamos ser cansativos, aos fatos.

O texto se desenrolava com vida própria, como se os personagens conversassem entre si e trocassem confidências com sua interlocutora num outro momento paralelo à história. Era como se houvesse um pacto silencioso no qual todos trocavam missivas cifradas a respeito um do outro.

O autor estava ali, manejando as palavras, conduzindo para onde queria chegar, mas por vezes era necessário deter-se em algum ponto obscuro acerca da singularidade de seus personagens. Eram únicos , eram uma parte dele misturada com a parte do mundo que lhe foi conferida. Não eram precisos e nem acabados. Eram passíveis da mesma humanidade concedida a qualquer mortal. Alguns eram habitantes frágeis , a espera de uma identidade em alguém ou algo lá fora.

E assim a leitora ia se envolvendo com cada um deles, criando suas alegorias e construindo pontes. Por vezes se achava plagiada por aquelas criaturas em seus secretos e íntimos vacilos. A medida que às encontrava dentro dela, aquelas personagens iam se fundindo em uma nova trama, com a densidade dos sentimentos que ela lhes emprestava. Sua história misturada com a história daquelas pessoas.
Um escritor, uma leitora, os habitantes da ficção, os sentires do autor, as pessoas que o inspiraram a construir cada personagem , os sentires das pessoas que despertaram aquela aventura entre as palavras e a mente, em algum ponto entre a realidade e ficção. Os sentimentos da leitora, suas fantasias e sonhos significados ali naquelas letras encadeadas em frases que vão buscar sentido e formar um todo sempre inacabado.

Naquela particularidade, naquela superfície plana bordada de letras, nascia um conjunto de imagens e formas dentro dela. Linhas tênues costuravam títeres imaginários na mimese acertada daquele ensaio onde tudo surpreendia.

Vamos pensar o porquê do " surpreendia". Nenhum dos personagens de qualquer narrativa tem a certeza da dimensão que sua vida pode tomar até conhecer os demais sujeitos implicados naquela aventura. Ninguém sai imune.

Em cada variação do espírito eles se entreolhavam admirados, vendo surgir uma história novinha em folha. Todos se alteravam na medida das escolhas de uma estranha que agora também estava presente entre eles, invisível entre as palavras . Só era possível sentí-la. Estava ali, respirando sobre eles. Olhando-os no recôndito de sua identidade. Violando seus códigos.
Os trajes , as expressões e os timbres da voz. O brilho dos olhos e os matizes das cores de seus mundos. Os movimentos , a dimensão concebida ao silêncio e toda intensidade colocada pelo movimento moral da leitora. Tudo cotejado pela delicadeza e estética que fornecia aos atores ali disfarçados em semântica. A sensação de que seus vínculos seriam para sempre se tornava mais presente. Eram todos partes de um mesmo todo. Autor, leitora, personagens, fantasias. Os medos revisitados, as tensões exploradas até a última página e a expectativa de que o caso não acabasse ali, com um simples fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...