sábado, 19 de dezembro de 2009

Espetáculo.

É preciso ouvir os Bem-te-vis..

imagem é da web

Eu adoro bem-te-vis. Eles trazem à tona uma sabor inequívoco de prazer na minha vida. Não lembro quando exatamente começou nossa paixão, mas faz muito tempo.

Quando os escuto, de verdade, é como hipnose. Dentro dela tendo a compreender porque os silvos inquisitivos se misturam. Como se traduzem? Como me traduzem? Como tão bem me vêm! Bem-te-vi!

-Bem-te-vi! titiú. Aquele Hiiiiiiiii, redondo e emocionante. É como musicar uma sensação. Às vezes ficam rápidos, como debates . Denunciam a importância daquela coalizão universal de Bem-te-vis. Eu sou a convidada especial.

Eles se comunicam como num programa de perguntas e respostas. Lá e cá. Ali e aqui.

Os tons se misturam , os acordes se ampliam e o diálogo de cantos vibratórios me deixa estática.

Vejo, com meus ouvidos, o silencioso sentido de estar ali.

Estancam, de repente- um grito melodioso se estende, malemolente. Uma marra de bem-te-vis encerra o colóquio.

Hoje, pela manhã, atrasei-me para ouvir os Bem-te-vis.

Sua orquestra me pareceu mais importante do que tudo. Teve um alcance maior do que muitos pensamentos encadeados.

Éramos apenas nós sobre a Terra. Eu e os Bem-te-vis. No silêncio sonoro de nossos caminhos cruzados. Eles cantando para mim. Eu , estancada ouvindo seus lamentos, reclames e exaltações à vida. A nossa!

beijo sonoro e estridente

da melinda

"La belle verte"

Quando tenho um amontoado de coisas para fazer, resolvo arranjando outras que não tenho que fazer, mas na hora me parecem revolucionárias( sempre tive muita dificuldade em seguir o script).
Outros diriam que isto chama-se enrolação, mas como eu sou uma otimista incurável, sempre acredito que pode ser a chave de algum enigma ou porta ainda fechada em minha vida.
Algumas verdades e descobertas podem estar atrás de uma tecla.
Enfim, num desses polêmicos momentos achei um filme francês chamado " La belle verte". A bela verdade. A tradução para o português é " Turista espacial", dirigido por Coline Serreau. São 99 minutos de pura ficção, ou não. O fato é que ele me fez ficar pensando como seria se falássemos a verdade ou , pelo menos, se a vivêssemos.
Voltando aquela frase do John Le Carré: " A hipocrisia é o mais próximo que o homem jamais chegará da virtude", que retirei de uma crônica do Luís Fernando Veríssimo, me pus na pequena catarse.
O filme a que me referi centra-se em uma mulher extraterrestre de mais de cem anos, bem conservada, é verdade, que vem a Terra para uma missão intergalática. Sua civilização vive em um avançado estágio e a Terra é considerada um lugar atrasado e povoado de seres primitivos, um caso perdido.
A nossa ET chega à Paris contemporânea com um modelito do século XVIII e fica chocada com o que vê.
No filme, ao ser desconectados do mundo de ilusões no qual vivem , atrás de obras que os eternizem, as pessoas passariam a viver a nada suave e nem bela verdade, que a muitos vai chocar, ao descobrirem que suas vidas não passam de uma fantasia vazia e sem sentido. A vida não era nada do que pensavam até então. Estavam, enfim, fora do sistema que conheciam tão bem.
Em uma cena genial da divertida comédia francesa, o marido , após deparar-se com sua verdade, fica analisando sua vida e diz à esposa(mais ou menos assim):
- Eu sou um panaca, o que foi que eu fiz ...como pude...( e faz uma avaliação corajosa de suas escolhas).
- É verdade - diz a esposa- você é um panaca!- concorda com total franqueza resignada.
- Por que você ficou comigo?- pergunta o marido incrédulo.
- Prostituição legal- responde a consorte na maior cara dura- você tem um excelente salário e uma ótima posição social (...)
Ambos continuam placidamente absortos em suas elucubrantes revelações, sem melindres, sem pudores, nem surpresas, apenas recolhendo os pedaços.
O fime é uma divertida comédia, mas também uma crítica mordaz ao nosso modo de vida.
Imagina se fossemos sempre assim , se não pudéssemos mais viver nossas mentiras sinceras. Se dentro de nós estivessémos feios e vazios de verdades.
Onde será que começamos a viver esta grande mentira? Teríamos que começar do átomo, para tentar encontrar onde a vida começa a blefar. Onde começamos a criar este mundo fantástico de ficção com prazo de validade, que aprendemos, desde bebês , a reverenciar e perseguir, a ponto de esquecer quem somos....
beijo verdadeiro
da melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...