Quando tenho um amontoado de coisas para fazer, resolvo arranjando outras que não tenho que fazer, mas na hora me parecem revolucionárias( sempre tive muita dificuldade em seguir o script).
Outros diriam que isto chama-se enrolação, mas como eu sou uma otimista incurável, sempre acredito que pode ser a chave de algum enigma ou porta ainda fechada em minha vida.
Algumas verdades e descobertas podem estar atrás de uma tecla.
Enfim, num desses polêmicos momentos achei um filme francês chamado " La belle verte". A bela verdade. A tradução para o português é " Turista espacial", dirigido por Coline Serreau. São 99 minutos de pura ficção, ou não. O fato é que ele me fez ficar pensando como seria se falássemos a verdade ou , pelo menos, se a vivêssemos.
Voltando aquela frase do John Le Carré: " A hipocrisia é o mais próximo que o homem jamais chegará da virtude", que retirei de uma crônica do Luís Fernando Veríssimo, me pus na pequena catarse.
O filme a que me referi centra-se em uma mulher extraterrestre de mais de cem anos, bem conservada, é verdade, que vem a Terra para uma missão intergalática. Sua civilização vive em um avançado estágio e a Terra é considerada um lugar atrasado e povoado de seres primitivos, um caso perdido.
A nossa ET chega à Paris contemporânea com um modelito do século XVIII e fica chocada com o que vê.
No filme, ao ser desconectados do mundo de ilusões no qual vivem , atrás de obras que os eternizem, as pessoas passariam a viver a nada suave e nem bela verdade, que a muitos vai chocar, ao descobrirem que suas vidas não passam de uma fantasia vazia e sem sentido. A vida não era nada do que pensavam até então. Estavam, enfim, fora do sistema que conheciam tão bem.
Em uma cena genial da divertida comédia francesa, o marido , após deparar-se com sua verdade, fica analisando sua vida e diz à esposa(mais ou menos assim):
- Eu sou um panaca, o que foi que eu fiz ...como pude...( e faz uma avaliação corajosa de suas escolhas).
- É verdade - diz a esposa- você é um panaca!- concorda com total franqueza resignada.
- Por que você ficou comigo?- pergunta o marido incrédulo.
- Prostituição legal- responde a consorte na maior cara dura- você tem um excelente salário e uma ótima posição social (...)
Ambos continuam placidamente absortos em suas elucubrantes revelações, sem melindres, sem pudores, nem surpresas, apenas recolhendo os pedaços.
O fime é uma divertida comédia, mas também uma crítica mordaz ao nosso modo de vida.
Imagina se fossemos sempre assim , se não pudéssemos mais viver nossas mentiras sinceras. Se dentro de nós estivessémos feios e vazios de verdades.
Onde será que começamos a viver esta grande mentira? Teríamos que começar do átomo, para tentar encontrar onde a vida começa a blefar. Onde começamos a criar este mundo fantástico de ficção com prazo de validade, que aprendemos, desde bebês , a reverenciar e perseguir, a ponto de esquecer quem somos....
beijo verdadeiro
da melind@
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