sábado, 22 de janeiro de 2011

Quarta e quinta cinéfilas começaram com dois filmes.
*Assisti ao filme "Mother" do diretor coreano  Joon-ho Bong. Diversão difícil. Deveria ser "Kill your mother" porque a personagem interpretada soberbamente pela atriz coreana Kim Hye-já  provoca no telespectador ( no caso eu) os sentimentos mais extremos, indo de zero a nove na escala Richter, tremores de medo, pena,  raiva e  nojo, só para começar. Logo deduz-se que o filme é muito bom pois  conduz por vielas  inesperadas e está cheio de viradas no caminho, além de ser uma comida estrangeira, tem uma digestibilidade duvidosa. Gosto de experimentar estas sensações.
Uma mãe tem conteúdos muito obscuros e a relação entre mãe e filho, que o diga toda a teoria psicanalítica, é cheia de umbrais , de portais que separam tenuemente o impensável do bom senso.

****O segundo filme que assisti  foi  o sensacional " As melhores coisas do mundo" da cineasta Laís Bodanzky e que me levou do riso ao choro. Amei o  mano(Hermano), personagem central da história, um adolescente de 15 anos e a Carol, sua melhor amiga. A história é muito bem amarrada e faz uma sacada excelente do tema ou temas( homofobia, bullyng, geração digital...)
O pai do Mano se divorcia a fim de viver um romance com outro homem , ou seja , uma saída do armário que vai dar  munição pra discutir o assunto.
O drama poderia estar acontecendo ali pertinho de qualquer um de nós. Aliás é um bom pretexto para discutir o tema central, o preconceito nosso de cada dia. Nada melhor do que a adolescência para introduzir uma boa crise. ADOREI.

beijos cinematográficos
da melind@
Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria face de dentro de um espelho. Contemplando dimensões de mim sombrias e desconhecidas.
Ali permaneci demais talvez .Me contaminei da substância escura e ilusória que chamo medo. Mas que poderia vestir com outras palavras. Assim mesmo não perderia o sentido. Caminhei por minhas veias e pesei em gramas o pouco que entendi .Assim permaneci sem certeza do próximo ato. Em busca de algum perdão. Que  insiste em se guardar . Um sonho  que sai em outro. Cheio de meus personagens movediços. Transitando às cegas os mesmos lugares. Estranhos uns aos outros. Repetindo seus textos previsíveis e mesmo assim aquela sensação. De estar sempre a um passo da verdade. Ou talvez da liberdade. Quem sabe são a mesma fugaz sensação do inexplicável. Que persigo açodada e imprudente.Aquele segundo que torna tudo um fascículo novo. Não posso continuar impunemente. Condenando a vida .Como vício que  sabota . A vida não tem culpa.É inocente porque tem todos os sabores. É a próxima página A próxima palavra ...E digo 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O livreiro de Itajaí

Acontecem episódios muito curiosos na vida, talvez para que a gente possa perceber que a regra é "crie as suas próprias regras".
Este  simpático indivíduo é o Ademar, um curioso e quase folclórico morador da cidade de Itajaí por onde passei na última semana. Exerce o papel de livreiro que, contrariamente aos livreiros que buscam raridades para seus coleionadores , recolhe justamente aquilo que ninguém mais quer. O Ademar tem um "sebo ambulante" que trafega sobre duas rodas e  normalmente estaciona no Mercado Público da cidade. Não preciso dizer que é uma figura e tanto, bom contador de "histórias", matreiro e obviamente, um sobrevivente, que arranjou um jeito de ganhar a vida. Ele pedala pelas ruas de Itajaí com   uma caixa acoplada à sua bicicleta , onde guarda seu acervo, seu ganha pão. 
O Ademar provê sua mercadoria indo de casa em casa, pedindo doações de livros que as pessoas não querem mais e assim vai engordando seu estoque. Entre as doações há muito papel velho, mas também se encontra alguma prata se tirar um  tempo para garimpar.
O livreiro ambulante também faz promoção e oferta sua mercadoria com muita lábia, se não conseguir no talento ele entoa 'compra  porque eu preciso'. Nem vou mencionar alguma finalidade etílica porque ninguém é de ferro.
Bem, o mais hilário é que o Ademar é analfabeto, ele diz que se não aprendeu a ler até hoje é porque não vai precisar, mas gosta dos livros e os trata com o carinho de quem intui  seu valor. Não aprecia sua substância, mas apenas sua forma, seu cheiro e as marcas amareladas das suas páginas. Cada livro tem sua história com o Ademar. É um outro olhar sobre as letras, que faz circular uma substância que ele próprio desconhece.
Em sua ingenuidade  não faz muita idéia do que está  oferecendo às pessoas e indica as leituras mais bizarras sem qualquer constrangimento.
Me impressiono ao perceber que ainda existem pessoas que reconhecem um mundo pelas embalagens e lógico, pelo conhecimento prático. Acordo para um Brasil que ainda luta contra o analfabetismo. São os meandros escavados pela caprichosa correnteza da vida.
Ao final da conversa eu descolei uma edição antiga de um livro da Marina Colasanti e a minha amiga comprou um romance policial do Edgar Wallace. Ele vende qualquer 'peça' por cinco reais e se comprar vários tem desconto.
Quando o parabenizei pela iniciativa criativa e nobre de vender livros ele disparou (para encerrar a conversa):
- Se cada parabéns que eu ouço valesse um real eu estaria milionário!

 beijo soletrado
da melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...