segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O livreiro de Itajaí

Acontecem episódios muito curiosos na vida, talvez para que a gente possa perceber que a regra é "crie as suas próprias regras".
Este  simpático indivíduo é o Ademar, um curioso e quase folclórico morador da cidade de Itajaí por onde passei na última semana. Exerce o papel de livreiro que, contrariamente aos livreiros que buscam raridades para seus coleionadores , recolhe justamente aquilo que ninguém mais quer. O Ademar tem um "sebo ambulante" que trafega sobre duas rodas e  normalmente estaciona no Mercado Público da cidade. Não preciso dizer que é uma figura e tanto, bom contador de "histórias", matreiro e obviamente, um sobrevivente, que arranjou um jeito de ganhar a vida. Ele pedala pelas ruas de Itajaí com   uma caixa acoplada à sua bicicleta , onde guarda seu acervo, seu ganha pão. 
O Ademar provê sua mercadoria indo de casa em casa, pedindo doações de livros que as pessoas não querem mais e assim vai engordando seu estoque. Entre as doações há muito papel velho, mas também se encontra alguma prata se tirar um  tempo para garimpar.
O livreiro ambulante também faz promoção e oferta sua mercadoria com muita lábia, se não conseguir no talento ele entoa 'compra  porque eu preciso'. Nem vou mencionar alguma finalidade etílica porque ninguém é de ferro.
Bem, o mais hilário é que o Ademar é analfabeto, ele diz que se não aprendeu a ler até hoje é porque não vai precisar, mas gosta dos livros e os trata com o carinho de quem intui  seu valor. Não aprecia sua substância, mas apenas sua forma, seu cheiro e as marcas amareladas das suas páginas. Cada livro tem sua história com o Ademar. É um outro olhar sobre as letras, que faz circular uma substância que ele próprio desconhece.
Em sua ingenuidade  não faz muita idéia do que está  oferecendo às pessoas e indica as leituras mais bizarras sem qualquer constrangimento.
Me impressiono ao perceber que ainda existem pessoas que reconhecem um mundo pelas embalagens e lógico, pelo conhecimento prático. Acordo para um Brasil que ainda luta contra o analfabetismo. São os meandros escavados pela caprichosa correnteza da vida.
Ao final da conversa eu descolei uma edição antiga de um livro da Marina Colasanti e a minha amiga comprou um romance policial do Edgar Wallace. Ele vende qualquer 'peça' por cinco reais e se comprar vários tem desconto.
Quando o parabenizei pela iniciativa criativa e nobre de vender livros ele disparou (para encerrar a conversa):
- Se cada parabéns que eu ouço valesse um real eu estaria milionário!

 beijo soletrado
da melind@

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