quinta-feira, 17 de junho de 2010

Palavra!

O grande desvario de escrever alguma coisa é que não se pode usar uma fórmula certa, ou jeito certo, principalmente num texto como este, por exemplo. Não há receitas e não existe manual, imagino que a vontade de verter um pensamento em forma é um dos elementos chave. Toda fonte de informação torna-se uma idéia em potencial que poderá encaixar-se a qualquer momento pela trilha das palavras. Há naturalmente a questão de conseguir manter um objetivo, um foco e não apenas perder-se na vaidosa dança das palavras(erro comum).
Combinar palavras é algo apoteótico, quando se começa a brincar com elas não dá mais vontade de parar e o mais incrível é que já não importa o porquê de se estar escrevendo mas a necessidade ávida de revelar-se nas letras entrelaçadas ou , eu ousaria dizer , conhecer-se e encontrar-se no meio e no resultado.
Ao especular é normal perder-se nas armadilhas que aparecem pelos caminhos, entre os períodos que vão se desencadeando em novas idéias e parecem ganhar mais ênfase que o pensamento gerador do texto. Ao plasmar-se nas palavras o autor coloca seu sentir, veste seus títeres com diversos modêlos e cores e passa a manifestar-se ( ele mesmo), pulverizado entre as realidades representadas por suas metáforas e alegorias.É um perigo!!!
São descobertas deliciosas, é verdade e, podem levá-lo a esquecer o leitor do texto( se é que se tem um) e diga-se de passagem, todos querem ter leitores e críticos. Aqueles velhos espelhos que fazem parte do processo entre criador e criatura.
É um processo ambivalente este de bulir com as palavras, porque ao mesmo tempo que o escritor se compartilha generosamente, se busca, se colhe, se elabora e nunca sai incólume.
Mas a matéria-prima, é bom que se diga, é conteúdo do instinto e não da razão e técnica.
Penso que o processo de escrever, redigir, contar histórias a partir do ângulo que muitos nem perceberam é próprio e individual , movido pela paixão e pelo envolvimento que o autor tem com a vida e a fantasia. É seu compromisso em transcender a aparente coerência dos fatos.
Já houve momentos em que tive a certeza de que alguns autores tem o dom de promover um encantamento com seus textos, capaz de hipnotizar e deter seu leitor, cativo até que se esgote a última palavra.
A análise de um texto também é reveladora como uma radiografia da mente. É possível captar sinais indeléveis da personalidade, do grau de organização da mente e da relação do autor com o mundo.
Eu não tenho a pretensão de intitular-me "escritora", sou uma "especuladora de letras", talvez uma "exploradora de verbetes" e sou muito desorganizada, me derramo aos borbotões de palavras, quero a apoteose num gole só.
Alguma vez já ouvi ou li que, um leitor-escritor não precisa de analista, os autores e personagens são seus investigadores pessoais e nutrem sua mente com os elementos vitais ao amadurecimento. Escrever é experimentar-se.
Prosa, poesia, conto , crônica, romance, não importa, o ingrediente é audácia. Valentia de arriscar-se na escalada verborrágica e correr o risco de descobrir-se ali, em carne viva, exposto e humano, inteiro e , ironicamente, sem maquiagem ou armadura social.
Acima de tudo, escrever é uma descoberta pessoal e um caminho que podemos traçar sozinhos, se assim o desejarmos.
Todos temos imensas e infindáveis trilhas interiores que vão desembocar sempre no original.
Elementos essenciais como a verdade e sinceridade denotam a lealdade do escritor-autor para com seu trabalho e são imprescindíveis.É possível a um leitor mais perspicaz perceber quando há verdade e sinceridade em um texto, mesmo se trata-se de uma obra de ficção. São as verdades que nos levam ao delírio e nos conquistam , nos arrebatam.
Portanto, se há vaidade, hipocrisia e descaso com a palavra, estas vão tranbordar pelas entrelinhas e o crédito do autor está maculado. Permitir-se ser simplório e ingênuo às vezes é uma forma de manter os pés no chão.
O que eu sei é que em algum momento desses últimos milênios, mais especificamente quando o homem aprendeu a comunicar-se através da palavra escrita, algo mágico aconteceu.
Escrever é magia, transmutação, alquimia e não há como traduzir tudo isso de uma vez, tem que ser aos bocados. Esta substância bruta que é a palavra alimenta-se de alma, mistério, razão, paixão e os tantos atributos que ela nos empresta generosamente.
beijo enternecido
da melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...