sábado, 7 de novembro de 2009

Mapeamento e integração...

Estou com saudades de mim. Acho que ando muito lá fora e preciso me recolher um pouco mais aqui dentro, me encontrar. Hoje pela manhã eu fui a um encontro para tratar sobre uma questão que anda pulverizada por todo canto do planeta. Sustentabilidade. Inclusive a minha.
O modelo ruiu, finalmente ficou claro o que já andavam sussurando pelos ouvidos aqui e ali.
Nosso modo de vida está fazendo água. Estamos afundando.
O tema inicial proposto pelo palestrante seria o uso de drogas entre jovens e adolescentes, mas houve uma grande ampliação do conceito de droga e chegou-se a dura verdade. Estamos anestesiando nossos sentidos , aprisionando nossa alma, sufocando nosso espírito com modelos comprados prontos e esquecendo de experimentar a vida, experimentar a nós mesmos. Estamos nos drogando enquanto saciamos nosso cérebro com mais do mesmo. Uns comem, outros compram, outros bebem, outros fumam , tomam antidepressivos, ansiolíticos, inibidores de apetite, alguns adotam dietas radicais , escrevem manuais sobre como conquistar fortunas num piscar de olhos, há os que partem para clínicas estéticas, e os que tornam-se maratonistas do sexo casual ou ainda os que usam drogas de maior visibilidade, mais rápidas e definitivas como o crack, a heroína, a cocaína, ecstasy e uma infinidade de outras fugas . Fugimos de nós mesmos desesperadamente. E quanto mais custamos a voltar , mais difícil se torna. Há inúmeras fórmulas mágicas em milhares de manuais de auto-ajuda e afins . Há muita gente dizendo o que é preciso fazer para ser feliz. Como se "ser feliz" fosse algo instantâneo que, uma vez conquistado, se tornasse parte de um patrimônio. Por este paradigma a felicidade está sempre lá na frente, lá fora e mais adiante. Perseguindo o próprio rabo II.
Uma amiga mencionou Merleau-Ponty e eu lembrei da " Gestalt"( forma) e do "intermundo" que ele apontava.
Segundo Merleau-Ponty, o que há de profundo na idéia de "Gestalt" não é a idéia de significação, mas a de estrutura, de junção de uma idéia e uma existência indiscernível, que confere aos materiais um sentido, a "inteligibilidade em estado nascente".
Isto mesmo, inteligibilidade em estado nascente, experienciar a vida. Qual o "sentido", o sentir, o sentimento e a direção que desejamos adotar.
O que vai dentro de nós? Quem somos nós? Nós?
Já é possível entrever que a abordagem individualista e fragmentada do mundo não cabe mais aqui.
Promotores , juízes , pedagogos, professores, médicos, psiquiatras, psicólogos, e todos aqueles que trabalham com jovens, que acredito são as maiores vítimas da desorientação ( motivo do encontro ), sabem que a drogadição é a ponta do iceberg, que este iceberg vem sedimentado no grande vazio deixado pelo que um dia chamamos de sociedade( corpo social/ conjunto de pessoas unidas pelo sentimento de grupo). A família não tem muito tempo para olhar para dentro dela mesma. Cada um precisa correr atrás de seu próprio tesouro da arca perdida. Claro que como ninguém sabe que tesouro é esse, vai procurá-lo em lugares manjados e barulhentos! Quando sobra algum tempinho, a televisão faz o resto do serviço.
Falou-se na pedagogia do oprimido, nas inúmeras formas de violência, nas experiências e seus reflexos perpetuados "ad infinitum" e até em nossa condição de "sapo do Al Gore".Mas ficou evidente que precisamos revisitar nossos conceitos. Nos falta uma missão comum. Qual a nossa missão comum? Qual é a tua, a minha e a nossa?
Só trilhando o caminho e cada passo pode-se chegar lá. Não podemos incorporar o que ainda não temos capacidade para perceber. Só a vivência nos dá possibilidade de transformar informação em conhecimento. O fio condutor é a sensibilidade.Não há caminho rápido.
É preciso aprofundar o conceito de intersubjetividade. Quando falei no início em sustentabilidade, referi-me a nossa capacidade de percepção do sentir do outro, que é emitido pela teia social como um todo. Auto-reconhecimento.É preciso que haja uma sinergia entre todas as ordens sistêmicas que constituem nossa grande rede sócio-econômico-ambiental. O planeta.
Falamos em espelhos neuronais e em como o estudo da neurociência pode nos ajudar a sair da condição de ratinho de Skinner para sermos neurônios espelhos.
Os neurônios espelhos podem explicar porque um indivíduo, ao ver algo acontecendo com outro, pode sentir como se o mesmo estivesse acontecendo consigo, numa espécie de espelhamento neuroquímico, mas também um espelhamento de emoções, de ações, tudo em seu aparelho neuronal. Aí podemos aprender a exercitar a grande palavra chave desta manhã. A compaixão!!
Dentre tantas questões nevrálgicas apontadas, conclui-se que precisamos abandonar aquele pensamento cartesiano, ou seja, precisamos construir uma nova compreensão da vida. O pensamento cartesiano levou o homem a vivenciar a si mesmo e seus pensamentos como algo separado do resto do universo, criando para si uma distorção ideológica, uma espécie de prisão que mantém o homem isolado, solitário, reduzindo o mundo à dimensão de seus desejos, padrões fragmentados , egoístas e inflexíveis.
Agora torna-se necessário fazer o caminho de volta. A proposta é então entender o mundo a partir de uma percepção sistêmica e integrada. Uma tomada de consciência e uma mudança de comportamento.
Fechamos o encontro com as palavras mapeamento, integração e gestão. Redes de cooperação . Sinergia entre órgãos e sistemas. Sobrevivência.Qualidade. Transdisciplinaridade. Estes pensamentos visitaram nossas mentes e encontraram seus pares.
Tais palavras dariam outro post. Não acho que sejam modismo, mas sim novos valores, a partir dos quais poderemos melhorar a qualidade das relações que estabelecemos com o mundo e conosco.
Transitar por tudo isto me fez sentir vontade de estar comigo, de me perguntar, me responder, me achar, me perder e observar os sentimentos e o querer . São palavras que movem energias. Palavras de reencontro. Estou mapeando, integrando ....
beijo sinérgico
da Melinda

domingo, 1 de novembro de 2009

Dia dos mortos

Fiquei com os olhos cheios de imagens e os bolsos cheios de novidades, como quando não temos mãos para agarrar todos os pacotes. Véspera do dia dos mortos e os vivos estavam em polvorosa. Não que eu costume homenagear os mortos ou guardar qualquer forma especial de reverência a este dia, mas sendo um feriado tão marcado, fica difícil não observar.
Aqui em Big Rivertown os termômetros ultrapassaram os trinta e cinco graus e todos os lugares estavam lotados de cores, formas e pessoas. Uma democracia que variava dos horrores do mau gosto à harmonia da perfeição.
As pessoas se lançaram em busca do sol e calor de domingo e principalmente do calor da gente nas ruas.
Nos portões do cemitério e junto às capelas, o comércio e as conversas superavam qualquer lembrança dos finados que ali jaziam eternos, concreto e pó. O Sol e as flores coloridas enfeitavam canteiros e calçadas. Vendedores ambulantes ofereciam água, refri, santinhos e arranjos.Os "faxineiros volantes" aproveitavam o dia para ganhar um dinheirinho extra das distintas senhoras que visitavam a morada eterna , o jazigo literalmente perpétuo daqueles que um dia já transitaram pelas ruas coloridas do feriado e até visitaram seus " entes queridos" como manda a tradição. Guardas de trânsito conduziam o tráfego com a seriedade habitual. Tudo preparado para o dia dos mortos. Solenemente.
Na estrada, o trânsito congestionado como nos dias cálidos de verão e na praia as carnes trêmulas e rijas desfilavam ainda o descolorido do inverno , naturalmente, sem qualquer timidez.
As casas se abrindo, os gramados aparados , as novidades despontando sob os olhares curiosos e os mortos esquecidos. A meteorologia conspirou com o final de semana e eis aí um saboroso feriadão.
Acho que o feriado de finados deveria chamar-se "dia dos vivos", afinal é para os que andam sobre a terra que o dia se faz mais intenso e emocionante. Assim, talvez até aqueles que ficam catatônicos semi-mortos pela vida ou simplesmente absorvidos pela mesmice maquinal da vida moderna, se joguem a viver ou quem sabe pensar sobre ela, a vida, ou sobre a morte, ou sobre ambas e seu significado . O jogo é tão rápido e nunca se sabe se vai haver prorrogação. Sendo assim, que venha o dia dos vivos.
beijo vivíssimo da melinda...

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...