sábado, 12 de setembro de 2009

dia 999

Números auspiciosos sempre lembram simbologias e são cheios de presságios. No mínimo glorioso viver o dia 999. Resolvi observá-lo e ver se é um dia como os outros. Começei cedo:
- 6:10h , música, trilha sonora do filme " Um Beijo Roubado"( My Blueberry nights), Norah Jones e o dia ainda não amanheceu. Despeço-me das cobertas e jogo as pernas para fora, o corpo ainda deitado. Uma música já se foi. Despertador dispara. Chega! Salto. Primeiro gole de água. Abrindo as janelas. Água no fogo para o chimarrão. Mais goles de água. Baterias indicam funcionamento. Tento lembrar de um sonho. Recolhendo fragmentos. Retirando cobertas. Dia 999. Escolhendo panos que organizam o cenário. Peça por peça do quebra-cabeças que começa o dia. O que falta e o que já está pronto. Camisa nova. Pérolas. Cachorro estirado. Tudo ainda fora do lugar. Sinto a temperatura. Frio. Ok. Primeiro Mate. Acorda Alice. Outros e mais outros.
6:40h : Dia já amanheceu. Horas começam a acelerar. Li algumas linhas. O dia ganha seu ritmo.Banho quente, perfume. Maquiagem. Suco , iogurte, frutas. Escova, fio, batom. Pronto. Levando o Stuart na rua. São 7:40. A roupa foi pouca. Agora já era. Hora de sair( atrasada). Temperatura é de 6 graus. Trabalhar.Tudo encadeado. Positivo e operante.
Dia 999, são 9:09h, uma parada e um bocejo. Pausa para um café forte. Sono persiste. Tempo acelera mais.
10:00h., um saquinho com sementes, gergelim, girassol, passas , nozes, castanha do pará. Maçã. Escova.
11:00, doze, saio à rua. Dia cinza , 13 graus e o sol ameaça. Almoço frugal, nada de exageros. Filé de peito de frango grelhado, arroz integral, rodelas de pepino, cenoura ralada e ovo poché. Suco de manga, laranja e limão. Escova, fio.
13:25h . Trabalho. Papo furado . Sol chega tímido. Tarde se arrasta. Não rende. Tempo não passa. Trava tudo. Eternidade. Mais eternidade. Enfim. Maçã, iogurte. Escova. Batom
17:30h. Rua. Hora de ir para o yoga. OM. Jetsumpadmadomá. Alonga. Torce. Respira. Estica. Respira. Equilibra.Ufa. Dia 999.
19:00h. Nada. Hora de ir a academia. Pelo menos uma esteira e uma série para os braços. Ufa!Papo furado. Mais papo furado. Risadas. Mais papo furado. Supino.Abdominais. Alongamento. Já são 20:45h. Caco humano.
Casa.ET. Minha Casa. Dedo em riste.
Dia 999. Passeio com cachorro sob os 8 graus. Vento.
- Stuart anda logo que está muito frio.
Tirar o lixo! Banho quente. Música. Madeleine Pey roux/ Always. Fernanda Takai/ Luz Negra. " Não tem o que tem dó de mim. Estou chegando ao fim...../
22:30h. Acabou a bateria. Torrada de pão integral e alface, queijo branco, tomates. Suco de laranja. Escova , fio. Morri.
Vinte e quatro horas de Le Mans. Jornada 999 . Pode não ser o dia da besta invertido ou o dia do caramba, mas tudo transcorreu conforme o script!
Minhas primeiras e últimas impressões são idênticas. Não, não aconteceu "nada". Imagina se tivesse acontecido.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Eu amo alegorias..

"Todos nós começamos como um feixe de ossos perdido em algum ponto num deserto, um esqueleto desmantelado que jaz debaixo da areia. É nossa responsabilidade recuperar suas partes. Trata-se de um processo laborioso que é mais bem executado quandoas sombras estão exatamente numa certa posição, porque exige muita atenção.(...) O deserto é um lugar onde a vida se apresenta muito condensada. As raízes das plantas se agarram à última gota d'água, e as flores armazenam umidade abrindo apenas de manhã cedo e ao final da tarde. A vida no deserto é pequena , porém brilhante,e quase tudo que acontece tem lugar no subsolo. Essa descrição é semelhante à vida de muitas mulheres. O deserto não é exuberante como uma floresta ou a selva. Ele é muito intenso e misterioso nas suas formas de vida. Muitas de nós vivem vidas desérticas: ínfimas na superfície e imensas por baixo. (...)"
Mulheres que correm com os lobos- Clarissa Pinkola Estés
Eu estou adornando as minhas patas dianteiras e traseiras para iniciar minha corrida com os lobos...e buscar minha parte proscrita em algum deserto.....ou algum rio que corre por dentro!

Em algum canto na cidade perdida...

O canto esquerdo do lábio dela se contraiu e a expressão transpirou uma leve contrariedade. Pensou novamente nas mesmas coisas. As idéias que pipocavam dentro de sua caverna. Por que razão vivia procurando um trevo em seu jardim. Ela nunca tinha visto um. Nem sabia se existiam e nem sequer acreditava em amuletos. Mas metaforicamente falando, estava sempre procurando Zenon(aquele mesmo, personagem da Marguerite Yourcenar). Sempre procurando aquela substância alquímica que desponta assim a qualquer hora, em qualquer esquina e se chama "o inesperado". O toque de midas que transformaria uma vida banal em algo sensacional. Uma passagem sem graça em um grande acontecimento.

Onde estaria a outra metade do anel de Shazan, o mapa do tesouro perdido no seu quintal. Como rasparia o sentido esmigalhado embaixo de seu pé. Ela estava esmigalhando o sentido das coisas, enquanto andava a procura de buracos abissais no meio do seu campo de força.

Lenine cantava sua música discretamente, quase imperceptível no silêncio em torno dela, " a vida é tão rara" . Tragou através dos sentidos como um postulado. Rara. Uma piada pensar na raridade da vida. Estava ali simplesmente, e , de repente, poderia não estar mais. Hoje queria isso e amanhã poderia ser aquilo. Um vento inesperado cantava junto com Lenine.

Seus olhos já estavam atritando contra as pálpebras. Seus dedos insistiam em achar a alguma lógica para celebrar a liberação da energia colorida do final do verão. Pelo "sentimento e pelo envolvimento", continuava a rasgar Lenine" Pela "emboscada"..Logo ali!
Apenas havia preenchido o vazio com alguma substância e um nada mais tarde terminou...entrelaçando as palavras...confundindo as letras..

Laço, ponto fraco que me atrela no oco do teu abraço,

Que me rende o corpo no espaço quente,

Num aconchego, um regaço vazio,

Num embuste , de aço frio ,

Num logro completo, desvario.


domingo, 6 de setembro de 2009

Mod@ ou modo de ser?

A moda é apenas um fenômeno social ou cultural? É uma feição, um modo? É uma imposição cultural, "coercitiva"? É a ditadura da moda?
Dei-me conta de quantas escolhas fazemos ao iniciar o dia. É como se nos preparássemos para um grande acontecimento, que pode se tornar nosso dia(opção A), ou simplesmente deixar que venham as horas em um gole só, sem sabor(opção B).
Outro dia eu estava lendo um texto sobre moda, numa referência ao quesito arte e me supreendi ao perceber que somos uma espécie de artesãos da nossa obra individual.
A cada dia compomos nosso layout com aquilo que vestimos e não com aquilo que nos veste.
Uma vez escutei o Clô( dovil) dizer que somos nós que vestimos as roupas e não as roupas que nos vestem. É uma verdade irretocável. Emprestamos um pouco de nós a algo idealizado por uma pessoa e confeccionado por outra. Este mesmo artigo será exposto sob uma forma e comercializado de outra. Talvez aí esteja a divisa entre moda ou modo de ser. Se um estilo é um complemento ou conteúdo.
Muitos toques perpassam a composição de nosso visual, passando por nossa própria visibilidade em termos de mundo. Acho isto simplesmente estupendo. A estética que construimos é para mim a elaboração de uma obra , nossa obra, nosso dia.
Nos compomos com cheiros, cores, panos e antes ( acima de tudo) com energias. Estas energias tem cores, nuanças, matizes e vibrações que exteriorizamos com olhares , sorrisos, expressões, posturas e movimentos. Nossa moda é nosso movimento. Resultamos de nossas interinfluências.
Pensando sob este aspecto , falar de moda é algo genuíno. Reconstruímos nossa identidade a partir de algumas peças que escolhemos e acolhemos como parte de nós naquele momento.
Ganhamos forma então e traduzimos para o mundo nosso sentir a cada novo dia. Se estamos alegres, tristes, reativos, apaixonados, decepcionados, musicais ou qualquer roupagem que compõe nosso campo emocional.
É na verdade um ritual composto por sensações, tons, sabores e desejos que apresentamos a cada novo momento e a cada novo dia que esboçamos. Todas as tribos e culturas exercitam tais manifestações, que estão conectadas com nossa sensibilidade. Como insights que revelam novas tintas. São estações com seus estados , são intervalos, pausas , extensões que se ampliam nas nossas construções.
Nos comercializamos, traçamos um roteiro no imaginário de todos com quem interagimos , geramos efeitos e mudamos o espaço a nossa volta com simples escolhas. E ainda tem gente que consegue usar expressões como " mais um dia".
Podemos estar " feijão com arroz" e ainda assim saborosos, depende do que colocamos no tempero. Vestimos nosso pedido ao universo e dimensionamos nosso mergulho no desconhecido com nossa performance e de lá podemos brotar renovados, menos ocultos e mais inteiros.
beijo caprichoso
da Melinda

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...