segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Em algum canto na cidade perdida...

O canto esquerdo do lábio dela se contraiu e a expressão transpirou uma leve contrariedade. Pensou novamente nas mesmas coisas. As idéias que pipocavam dentro de sua caverna. Por que razão vivia procurando um trevo em seu jardim. Ela nunca tinha visto um. Nem sabia se existiam e nem sequer acreditava em amuletos. Mas metaforicamente falando, estava sempre procurando Zenon(aquele mesmo, personagem da Marguerite Yourcenar). Sempre procurando aquela substância alquímica que desponta assim a qualquer hora, em qualquer esquina e se chama "o inesperado". O toque de midas que transformaria uma vida banal em algo sensacional. Uma passagem sem graça em um grande acontecimento.

Onde estaria a outra metade do anel de Shazan, o mapa do tesouro perdido no seu quintal. Como rasparia o sentido esmigalhado embaixo de seu pé. Ela estava esmigalhando o sentido das coisas, enquanto andava a procura de buracos abissais no meio do seu campo de força.

Lenine cantava sua música discretamente, quase imperceptível no silêncio em torno dela, " a vida é tão rara" . Tragou através dos sentidos como um postulado. Rara. Uma piada pensar na raridade da vida. Estava ali simplesmente, e , de repente, poderia não estar mais. Hoje queria isso e amanhã poderia ser aquilo. Um vento inesperado cantava junto com Lenine.

Seus olhos já estavam atritando contra as pálpebras. Seus dedos insistiam em achar a alguma lógica para celebrar a liberação da energia colorida do final do verão. Pelo "sentimento e pelo envolvimento", continuava a rasgar Lenine" Pela "emboscada"..Logo ali!
Apenas havia preenchido o vazio com alguma substância e um nada mais tarde terminou...entrelaçando as palavras...confundindo as letras..

Laço, ponto fraco que me atrela no oco do teu abraço,

Que me rende o corpo no espaço quente,

Num aconchego, um regaço vazio,

Num embuste , de aço frio ,

Num logro completo, desvario.


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