sábado, 14 de agosto de 2010

Estômago

Estou me repetindo comentando filmes , mas é uma das coisas que mais amo. Ultimamente tenho assistido produções muito legais e diferentes. Ontem foi a vez de "Estômago"(2007), mais um bom momento do cinema nacional, de Marcos Jorge. Se não fosse muito bom, valeria pela atuação do ator João Miguel, que está no ponto.
Ele começa nos introduzindo pelo mundo da culinária e acaba nos carregando para o submundo das armadilhas sociais , das paixões, da sobrevivência e dos limites. Duas cozinhas dividem o roteiro, uma fica em um restaurante requintado conhecido pela credencial de gastronomia internacional e a outra está na cela de uma penitenciária partilhada por sete homens brutalizados. O que os une é a comida, presente o tempo inteiro. Personagens lambuzam-se e buscam saciar-se interminavelmente.
O filme nos mostra um mundo sofisticado pelas lentes simples do simpático retirante que vai despejando escárnio sobre seus "algozes".
Quem patrocina o deleite é um retirante nordestino cuja vocação e arma é o talento em combinar sabores e aprender sobrevivência na cidade grande. Com o nome de Raimundo Nonato e alcunha de Nonato canivete ele transita entre os dois universos , dois momentos, cidade grande e sociedade carcerária, sempre tangenciando os limites com uma aparente pureza que vai sendo perdida com muito humor. A mescla de ingenuidade e esperteza com privação e humor torna o resultado saboroso apesar das realidades chocantes. Tragédia anestesiada.
O único problema é que dá fome.
beijo aromatizado
da melind@

domingo, 8 de agosto de 2010

A Fita Branca

O nome é de um filme. Refere-se a uma fita branca que deveria ser usada pelos filhos do reverendo como uma recordação da sua pureza e bons princípios. Uma espécie de reprimenda continuada.
O que interessa? A sinopse fala de mistério, mas o filme é um drama. É em preto e branco! E certamente um trabalho de sutilezas.
A história se passa em uma aldeia, distante dos cenários da Belle Époque, mas às vésperas da Primeira Guerra. O filme é austríaco e o diretor é Michael Haneke.
Falei em sutilezas porque apesar de velada pelo comportamento cordial dos habitantes da aldeia, a violência é brutal e chocante.
Outro aspecto pelo qual vale a pena assistir é que , por não pretender resolver-se e sim questionar-se em uma larga reflexão sobre a natureza humana, do mal e dos grandes equívocos que cometemos em nome do senso comum, é permitido a nós espectadores caminhar sem previsão pelo filme. Somos levados a pensar o tempo todo onde ele quer chegar( o diretor) e o que deseja significar( sinalizar aos espectadores). O filme não tem clichês e não é fácil. Sinta-se livre para não entender e depois achar que era aquilo mesmo que pensou.
As personagens aparecem em "nu frontal" com todas as suas fragilidades humanas e flacidez moral ( de quebra mostram seus instintos rasos) ,tudo em nome da decência . São elas, o Barão(dono da propriedade), as famílias de trabalhadores (empregados pelo barão), o médico , a parteira (melhor interpretação a meu ver),o pastor protestante e sua família baluarte de rigores morais , as assustadoras crianças e o professor narrador.
A cena da parteira-secretária sendo dispensada de forma humilhante pelo médico depois de fazer sexo oral é irrecuperável.Tudo é mostrado com solene dignidade beirando ao fanatismo doutrinário. Um faccioso e discreto agente da intolerância( esta mesmo que você está pensando).
Os ingredientes do filme são altamente combustíveis. O ser mais próximo da amabilidade é o narrador. O professor da escola que empresta sua visão insegura. Eu confiaria nele.

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...