sábado, 1 de agosto de 2009

O perigoso domínio da inércia.....

Nada mais broxante do que um sábado em tom de cinza suicídio. Um sol que ameaça, uma chuva que ameaça e um frio que ameaça. Fico sem saber se saio para me exercitar, se encho a cara de chá ou se loco filmes que me pluguem no automático, para que possa me trancafiar em mim mesma. Restam ainda as opções normais, tais como , cafeteria e cinema. Enfim, não dá para confiar, melhor assinalar todas as opções estão corretas. Afinal nem são tão incompatíveis assim. Quem sabe um pouco de Yoga? Meditar? Um livro?
Acho que o problema afinal é ter opção! Tão difícil escolher quando se tem tantas opções, parece que o problema ,na verdade, é que não se quer nenhuma. Aí já se tornou preocupante ! A estação se torna uma desculpa para vestir as pantufas e não ter que encarar a dureza de se divertir e desbravar novos continentes. Imagina que sorte diferente teríamos se o Pedro Álvares Cabral pensasse como eu.
No fundo ainda penso que invernos são próprios para hibernar e ponto.É um preconceito. Confesso! Imagina que luxo se fosse possível simplesmente apertar no off e programar para ativar o on em 22 de Setembro? Nenhuma opção pode ser sinceramente agradável quando o termômetro insiste em marcar dois ou três graus. Um acinte, pura provocação. Olhar as pessoas na rua com a pele avermelhada do frio , os olhos lacrimejantes e o nariz vermelho!
Atividades passivas e sedentárias fazem mal para o coração lato sensu e também fazem mal para o equilíbrio químico do cérebro!Isto chama-se consciência pesada. Culpa, como está na moda. Passa a ser um dilema.
Daí você sai, vencido no final do dia, e vê aquele camarada corredo de shortinho e touca de lã sob o frio , todo satisfeito em dia com as calorias que ingeriu e com a produção de "inas" cerebrais. Como ele conseguiu vencer a inércia?
O nome do filme é ......" O perigoso domínio da inércia".Um debate dialético entre as facções mafiosas da mente e as forças do exército da salvação da sua pele. A mente procura todas as formas para resistir aos apelos da lógica e do bom senso e depois poder fazer você se sentir culpado por não ter "feito nada".Qualquer coisa para não ter que sair dos pelegos.
A Inércia é o resultado de duas forças equivalentes e opostas entre si. Resultado. Ponto morto.
De argumento em argumento o relógio se move, o tempo se esvai e já está na hora de pensar o que fazer na noite de Sábado, que chega com chuva fina, vento forte, sensação térmica em torno de um grau e o prenúncio de um Domingo regado a tornados e avalanchas de nuvens. A temperatura agradável fica por conta dos seus artifícios tecnológicos e sua criatividade. Bom fim de semana!
beijo da Melinda





quinta-feira, 30 de julho de 2009

Reminiscências...

Eu me reportei a várias memórias soltas, aparentemente, após assistir dois filmes, já lançados há tempos , mas que só agora encontrei em DVD. Um deles foi "O ano em que meus pais saíram de férias" dirigido por Cao Hamburger, um filme nacional , aliás, espetacular e o outro tem o título em português " Um certo olhar", com direção de Marc Evans, que não é nenhuma obra prima, mas um bom entretenimento . Afora o fato de ambos serem bons filmes, tinham em comum personagens que usavam brilhantemente a capacidade de abstrair realidades duras. A diferença está claramente no olhar que lançamos sobre uma realidade. No primeiro, um garoto que se vê sozinho em meio a um universo estranho e até um pouco hostil, cria um mundo próprio e lúdico a fim de alienar-se da dura condição na qual se encontrava . No segundo , a morte brusca de uma jovem que, também por ter crescido em uma condição extremamente complicada( sendo filha de uma autista de alta habilidade) lança-se a conhecer pessoas e criar personagens para suas pretensas histórias de ficção. Queria ser escritora.
Fui de imediato remetida à minha infância, que foi marcada por momentos um tanto incomuns durante um certo período. Lembrei de um trecho de um romance de Tolstói " Todas as famílias felizes são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira".
Eu venho de uma família matriarcal pelo lado materno e minha mãe deu continuidade a estirpe de minha avó.
Dona Martina, como era chamada, viveu uma destas histórias ricas e perturbadoras. Foi mãe de treze filhos e trouxe-os como um reflexo de sua imagem dominante, marcada por um padrão de força e valor difícil de ser atingido por qualquer mortal. Talvez porque as condições adversas a que foi submetida pela vida tenham permitido que desenvolvesse tais habilidades. Um ser vigoroso e incansável. Nascida em 1908, casada aos quatorze anos e mãe de sucessivas treze crianças. Marido ausente, guerras , recessão, privação e repressão eram marcas indeléveis desta geração de mulheres, a quem só restava muitas vezes a resignação. Minha avó, uruguaia, nascida em Melo, cujos pais morreram cedo, acabou acolhida por uma "madrinha" e separada dos irmãos.Tão logo pode livrou-se da penosa condição através do casamento. Ledo engano.
Lembro de sua voz grave com sotaque espanhol, corpo troncudo, olhar doce e marcado pela história difícil que trilhou. Era a imagem do aconchego. Imensa capacidade de labor e renovação de tudo aquilo que tocava. Panos muito brancos, rendas muito engomadas, tudo muito limpo , alimentos bem preparados. São lembranças que guardei até quase poder tocá-las, embora minha avó tenha falecido aos 64 anos , por inúmeras complicações que a levaram muito rápido. Dos treze filhos, dois morreram ainda bebês, fato comum nos dias que viveu, os demais foram talhados por sua verve indômita, disciplina espartana e por seu imenso talento para forjar novas e melhores realidades para os seus.
Dentro de sua solidão, povoada pela imensa família que criou espraiou nas mulheres a semente de sua força, já nos filhos homens a sombra foi capaz de ofuscar suas vitórias e exaltar seus fracassos. As seis mulheres sobressairam-se. Sempre muito difícil e truncado , o futuro aconteceu e as adversidades foram superadas. O país se modernizou e vieram as novas gerações, poupadas das condições difíceis que elas conheceram intimamente.
Criaram famílias, trabalharam e transformaram a dura realidade da qual foram protagonistas em sua infância e juventude. Deram continuidade ao espírito da grande mãe que reside nas mulheres, reproduziram este instinto renovador que estava claramente estampado em minha mãe.
Minha mãe herdou o cetro , como filha mulher e mais velha das mulheres, substituiu minha avó perante a família e tornou-se a sucessora. Minha avó ao partir deixou aos cuidados de minha mãe toda a sua prole.
Não é preciso dizer o impacto que a morte de minha avó gerou sobre todos e dos tempos difíceis que seriam até transitar aquela perda.
Minha mãe fechou-se em copas, tornou-se sombria e circunspecta. Não entendiamos.
A herança de minha mãe não foi simples. Um de meus tios, dos mais jovens, entregue ao alcolismo e sujeito a sucessivas internações passou a ser monitorado por ela, embora pouco tempo depois acabasse morrendo, aos 32 anos.
O que sei é que durante este período inicial a vida em minha casa tornou-se muito triste e silenciosa e deixou dores provavelmente ainda encobertas pelo ritmo no qual a vida se move. Televisores e rádios ficaram silenciosos em respeito a memória de minha avó morta. Risadas soavam como desacato.
Os domingos passaram a ser vividos em duas partes, pela manhã, eu e meu irmão brincavamos em casa e nos preparavamos para a tarde, na qual a programação era invariavelmente visitar o cemitério para limpar e adornar o túmulo de minha avó e posteriormente dar uma passada no sanatório local onde meu tio ficara internado.
Apesar de mórbido demais , aparentemente, lembro deste período com compaixão e até uma certa nostalgia. Tudo filtrado pelo meu olhar de criança e a minha capacidade de imaginar histórias e me encantar com aqueles detalhes.
No cemitério meu pai e meu irmão não desciam do carro , meu irmão lia vorazmente tudo o que via, sua técnica de superação, instintiva, enquanto meu pai pacientemente esperava e conspirava para o alívio das dores de minha mãe.
Eu adorava brincar perto de uma fonte de água junto a um tanque de cimento, que eu pensava como uma piscina de cemitério em minha fantasia infantil, mas o melhor era olhar as fotos das lápides em preto e branco e os nomes incrívelmente engraçados. Ficava encantada olhando as fotos e imagens muito pálidas e pensando sobre suas histórias, suas expressões orgulhosas e imponentes diante daquela cena de morte. Alguns tinham o olhar triste e sorumbático, outros pareciam mesmo mortos em suas fotos. Algumas lápides eram lindas, verdadeiros palacetes e tinham anjos , demônios e santos, degraus como se elevassem o túmulo ao céu.Capelas pequeninas. Então se eu achasse algum mausoléu com a porta aberta era o êxtase. Aquilo era o máximo, eu quase podia vê-los , meus personagens, aliás, sentia como se os conhecesse, me apropriava de suas histórias e acabavam sendo minhas companhias naquele brinquedo aparentemente lúgubre. São histórias deliciosas que residem em minhas memórias. Calculava suas idades e imaginava como poderiam ser tão jovens e havia ainda crianças morbidamente retratadas naquelas lápides empoeiradas, estáticas, prisioneiras daquelas gavetas.
Saindo daquele universo fantasmagórico era hora de visitar o sanatório, no qual eu não podia entrar e era uma tortura esperar até que minha mãe retornasse contando aquelas passagens hilariantes protagonizadas pelos moradores daquele estranho e incompreensível lugar aos meus olhos. Meu grande sonho era transpor aqueles portões enormes que davam asas a minha imaginação. Minha mãe que saía do carro munida de maços de cigarros, biscoitos e balas retornava cheia de histórias suculentas que eu ouvia hipnotizada e quase podia sentir e ver aquelas pessoas esquisitas que ela descrevia em atitudes impróprias , mas que para mim eram parte da brincadeira. Quando os moradores estavam muito agitados as visitas eram curtas e percebia-se a agitação. Eram todos personagens de minhas histórias infantis. Afinal para uma criança cantar e dançar pelado ou fingir que é uma galinha são fatos absolutamente comuns. Aqueles eram momentos muito alegres porque eu podia ver minha mãe sorrindo e se surpreendendo com coisas que eu entendia muito bem.
É o olhar que emprestamos aos fatos que acaba tornando-os magníficos , ricos e inesquecíveis. Agradeço a esses tempos pelo treinamento intensivo que vivi em minha criatividade. Guardo muito desta criança que se encantou até com a tristeza e conseguiu extrair dela uma tela colorida e que vive em minhas memórias . É a leveza que precisamos aprender com as crianças ou pelo menos não podemos desaprender ao tornarmo-nos crescidos e que pode fazer da vida uma lição prazerosa sobre amar, compreender , respeitar e aceitar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Qual o lugar mais seguro para quem perdeu os instintos?

O potencial jovem e criativo que chamamos de inspiração pode ser apenas um delírio. A percepção divina contida no impulso criativo é algo muito interessante, mas muitas vezes pode ser uma armadilha. Outro dia eu lia em um post que contar apenas com a inspiração é algo muito arriscado. Suicida até eu diria. Às vezes somos tomados por um surto criativo, imaginamos que estamos redescobrindo a pólvora, que tivemos nossa grande idéia ou que demos início a super obra de nossas vidas.
Tenho certeza que quase todas as pessoas já pararam para se perguntar a que vieram a esta vida e sempre se tem a expectativa de fazer algo que faça a diferença, nossa grande revelação. Entretanto, este momento pode passar e nunca percebermos ou podemos ousar pensar que ele está acontecendo e descobrir que nossa grande idéia não passou de um delírio infantil.Como seguí-lo? Como torná-lo um caminho construtivo?
Apesar dos riscos , acredito que este instinto criador, esta inspiração é um construtor de pontes. Estabelece um elo entre o mundo concreto e o abstrato, entre o mundo espiritual e material, entre o mundo corrente e o mundo interno.
Destilado na forma de uma lei individual, que será encontrada na relação com nosso mestre interior, só pode ser conhecido se seguirmos os conselhos de Sócrates, conhecer-se e observar-se.
Esta nossa natureza criadora, esta inspiração talvez necessite que haja a conflagração das polaridades, que são os opostos da vida. Uma aparente derrota para que se faça o sacrifício voluntário de uma postura de fantasia. O sacrifício do sonho ou da fantasia intangível e só assim surja uma força consciente que dissipe a escuridão e restaure a fé em nós mesmos. Enfrentar nossa serpente Píton pode significar trazer a luz e a clareza, desde que esta luz, de forma ambivalente, não petrifique um campo fecundo. Nessa passagem na qual transpomos o umbral para uma nova jornada será possível cotejar o fluxo que parte de nós para que viceje, neutralizando o impulso irracional e cego e dando sustentação ao princípio criador de nossa natureza.

Sete dias no tripé

O tempo é algo muito fugaz. Talvez num desses flagrantes da vida real nosso amigo Einstein tenha chegado à relatividade. Quando não temos tempo, ele aparece destilado na forma de nossa visível produção. Quando percebemos tudo que realizamos durante vinte e quatro horas, como uma maratona de tarefas a serem cumpridas, parece inacreditável. Ufa! Conseguimos. Aquela rotina espartana vira lugar comum em nossa vida. Dia após dia vão se cumprindo inúmeras determinações da rotina e delineando nossos projetos.
Daí o indivíduo resolve planejar aquela semaninha de férias para colocar em dia as leituras, uns filmes, dispender aquele tempo para resolver os imbróglios familiares que precisam ser solucionados e "tóin"! Vê-se em um caldeirão de metas frustradas. Os dias ficaram curtos, bem curtinhos. É como se não fosse possível sair dos trilhos da agenda.
O drama-resorte começou com o a tríade Stuart-Previdência Social-Administração Pública.
No início foi o Stuart, meu quadrúpede sensível que foi acometido por uma infecção intestinal emocional por conta de ter que dividir seu espaço com nossa hóspede Betina. O fato me colocou imersa em suas escatologias sanguinolentas, visitas ao veterinário, antibióticos, dieta especial , sim "veterinary nurse" é o nome da primeira parte do episódio " sete dias no tripé".
Sucessivamente vem " o caso da tia idosa I e II". Questões jurídicas e previdenciárias que se traduzem em longas tardes de entraves burocráticos, de espera e sem resultados objetivos.
Perdidos cinco dias de suas preciosas férias nesses dias de inverno rigoroso, resta então mudar os cabelos. Nós mulheres resolvemos os entraves mudando os cabelos. É preciso mostrar um ar descontraído e relaxado "pós vacation". Seria uma heresia falar em stress. Férias(se em casa) combinam com desligar o despertador, espalhar as almofadas e pilotar controle remoto. Compromisso só com a preguiça!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Não é mito não...

" O espectro da mulher selvagem ainda nos espreita dia e noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas"
Clarissa Pinkola Estés

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...