domingo, 28 de novembro de 2010

Quem você pensa que é II...



Tirando fora a armadura social sobra a criatura que se reflete no espelho e é surpreendente. Quem você pensa que é?
Sei que meu invólucro tem prazo de validade e percebo que nunca é o mesmo do dia anterior, mas ele ajuda a definir quem eu sou. Eu acredito que dei a ele este formato e também que empresto a ele o meu olhar diariamente. Eu o vejo(meu invólucro) do jeito que estou naquele instante. Eu o enfeito e adorno para enfrentar o campo de batalha.
Gosto de lembrar os guerreiros aborígenes quando se preparavam para seus rituais. Pinturas, peles , ossos e danças. Acho que ainda reproduzimos um pouco deste ritual no dia à dia.
Ao olhar no espelho encontramos com a matéria-prima para o dia de hoje e então bolamos qual será o mote, que cores e panos vamos colocar. A energia que se reflete do espelho vai nos inspirar a construir a armadura para enfretarmo-nos mais uma vez.

Minha cobertura, postura, forma de mover e aportar nas mais diversas situações foram construídas quadro a quadro na imagem que reflito. Uma espécie de metalinguagem. Algo deve ser herdado acredito. Algumas pessoas me dizem que caminho como minha mãe(por exemplo), altiva.
Estabeleço uma comunicação pelo simples fato de possuir uma forma manifesta. Esta é a parte mais fácil acho.
Há ainda ( no quesito quem penso que sou) a questão do ego, que a meu ver é muito perturbadora. Elogios ou críticas tem o mesmo condão. São da mesma linha, servem apenas para criar uma expectativa a alimentar um caminho irreal. Por que se preocupar com a opinião alheia?
Com uma pergunta dessas posso passar muitas existências até descobrir que sou uma infinidade de outros.
Há uma grande ambivalência entre minha pretensa singularidade e as absolutas afinidades que encontro por toda parte. O que me torna parte de um todo.
Olhando a foto do rosto construída com muitos corpos nus que coloquei no blog há uns posts atrás,  me absorvi por um pensamento claro. Sou um amontoado de outros que se acumulam em mim.
No universo aqui dos blogs é impressionante como encontro nestes endereços aqui ao lado uma infinidade de alelos meus.
Como é possível ouvir suas falas no texto de alguém que jamais conheceu . São as afinidades que constroem as pontes que conduzem nossa história. São nossas sinapses culturais que vão se consolidando e revelando nossa gênese espiritual ou transcendencia.
Desta forma fica impossível tentar definir quem penso que sou sem considerar que sou( somos) um ser em permanente construção e que não posso me ver apartada de todos os outros seres com os quais me identifico e cujos pensamentos e idéias me saciam a sede e fome de entendimento. Lembrei muito do humanista Robert Happé quando nos propõe a vida como uma experiência solidária de irmanação com o todo.
Somos uma grande experiência ao mesmo tempo individual e coletiva. Por um lado vejo que o entendimento do todo auxilia a melhoria da conexão interior que precisamos ter , que se faz tão necessária como refúgio para busca de um equilíbrio lúcido contra a panacéia de artifícios mundanos que criamos. Por outro é preciso aprofundar o conhecimento de nós mesmos , seguir rumo a esta viagem transcendente que embrenhamos por nosso interno tão enigmático e confortável ( ao menos para mim).
Não gosto muito da expressão difícil , prefiro pensar em momento certo, assim as peças vão se encaixando do jeito e no momento certo, a medida que nossas compreensões vão mudando.

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...