sábado, 16 de outubro de 2010

Arte: talento é talento




Trabalho de Andreas Smetana recriando o rosto da atleta australiana Cathy Freeman a partir de corpos nus. Luz...efeitos e os corpos viram um mosaico e tomam forma.
Aqui vai a foto inteira. Gostei mais do olho(resolução )!! Mas o trabalho é formidável. O processo todo de criação está no endereço:


As impostoras...

O rosto da atleta australiana Cathy Freeman foi recriado pelo fotógrafo Andreas Smetana para um programa da SBS-TV intitulado "Who do you think you are ". Sensacional não?



Venho aqui pra dentro da palavra
me esconder quietinha.
Venho pra encontrar
comigo, com meus eus e suas
lacunas.

Me ponho em pequenas
orações entre concreto e
nuvens pra lembrar
meus vazios ..

minhas porções de texto
ilegível, respostas sem perguntas..

Meus vácuos como
verbos defectivos, não se
conjugam em certos tempos
e pessoas..

Me expresso
pra ser quem não sou um pouco..
pra me exibir, me provocar..

Monto e desmonto as peças e
como nada mais se encaixa
quando se altera substância,
fico a levitar sobre mim,



Anseando por mais do puro
e intocado bocado de mim..


Sigo encontrando muitas
in-tocadas e ao tentar traduzí-las,
sei que somos
de fato intraduzíveis
impostoras.



beijo embusteiro


da melind@

obs.: A foto lembra o estilo de Spencer Tunick sobre fotografar os pelados...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Minhas crianças..

O Totó de Giuseppe Tornatore é a minha inesquecível criança....meu sonho, minha lágrima e meu eterno rebuliço. É sublevação, alvoroço, festa e inquietação. Eu hoje assisti novamente o meu atualíssimo Cinema Paradiso. Este sorriso é minha homenagem a todas as crianças de todos os tempos que fomos e sempre seremos...




beijo efervescente

da melindinh@

Especulando sobre reminiscências

Platão acreditava que uma reminiscência é uma lembrança do que a alma contemplou em uma vida anterior, quando, ao lado dos deuses, tinha a visão direta das idéias.
Só a filosofia socrática poderia imaginar que é possível ter uma visão direta das idéias. Diretas a partir de onde?
Não precisa responder porque sei que seria uma resposta vascularizada "ad infinitum" como prega a boa filosofia.
Para Platão não era exatamente como lembrar de uma receita de pão, mas mais ou menos como o sabor daquele picadinho que só a sua mãe sabia fazer. A reminiscência traz consigo um tanto de sensação porque é geralmente associada a uma emoção que ela foi armazenada. Isto não é simplesmente apoteótico?
As lembranças ou memórias se modificam quando mexidas. Isto não sou eu que estou falando. É a neurociência. É um dos fatos mais interessantes que anexei às minhas reflexões ultimamente. Já havia falado sobre isto em Revirando as prateleiras......
Desta forma posso afirmar que muitas das minhas memórias são um embuste. São formas que maquiei com as pinturas do tempo e das emoções que fui misturando a elas. Claro já não tinha uma visão direta da idéia. Esta vai se perdendo até que a lembrança se torna outra.
Nas minhas tentativas em fazer terapia eu sempre me tornava um folhetim em vários capítulos duas vezes por semana. Eu é que deveria cobrar cachê. Colocava emoção e colorido nas memórias e reconstruía os acessórios.
Nunca movi os fatos. Sempre procurei ser fiel ao evento, mas colocava alguns detalhes quase imperceptíveis para poder aceitá-los. Nunca suportei histórias mornas. Não tolero muito a brandura ou a palidez. Mas o interessante é entender que se está lembrando de algo que se tornou parte daquela memória. Isto deve se chamar cura. Seria como transitar por algo e torná-lo aceitável. Será?
Não sei se isto é um talento, uma virtude ou um grave problema de caráter. Não chego a tanto.
Na verdade eu nunca consigo permanecer até cansar. Geralmente pulo fora das terapias quando a coisa esquenta um pouco.
Talvez eu não queira libertar todas as bruxas de uma vez.
Algumas de nossas lembranças são simplesmente eliminadas do âmbito acessível e vão habitar o nosso subconsciente, onde se tornam desconfortos ou sensações reflexas que não compreendemos. Isto eu chamo de sacanagem!
Em meus inúmeros encontros com Jung como A saga de Jung :episódio de hoje" Os sonhos morrem primeiro" e Contatos imediatos cosmopolitas ...Jung Spock que acabo narrando aqui, eu descubro muitas e muitas coisas sobre ser e parecer que tornam fascinante conhecer pessoas.
O fato é que minha visão direta das idéias é cada vez mais indireta e eivada de nuanças novas . É sobre isto que costuro neste post. Valha-me Sócrates...

Beijo filosófico
da melind@

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Meditando ou fantasmAGORANDO

Você...


- Ei, quem é você? Não vê que eu estou aqui meditando.. Que falta de respeito! Eu hein!!!(...)
Não vai falar nada?

- ...


- Quer parar de ficar sorrindo e abanando este vestido comprido...Nem se usa mais estes modelos... E por que está em preto e branco?


- hi hi hi...


- Agora tá rindo de que? Olha eu tenho pouco tempo pra relaxar e não estou precisando de imagens fantasmagóricas dançando na minha frente. Vai indo porque a fila anda. Já tenho meus fantasmas preferenciais. Ommm !!


-...hi hi hi

- Só sabe falar isso? Não sabe conversar?


- ...


- Ok, eu já estou te conhecendo. Você não é aquela irmã do meu avô Manoel que ficava com um sorriso congelado naquela foto pré-cambriana que meu pai guardava ? Claro que sim!! Eu logo vi que já tinha te visto por aí.. Temos a mesma sobrancelha. Reparou?

-...

- Mas o que vai ser? Como estão as coisas aí pelo outro mundo em Portugal? Tudo bem, até que eu tinha uma tia avó, talvez duas . Tem um sorriso muito simpático. Tá bom!! Então adeus... foi um prazer.
(Exala)


(Inspirando, retendo , exalando, 1, 2, 3...)

- ...

- O que ? Ainda está aí? Mas será possível? Se não fosse uma morta de uma foto amarelada ! ?
Veja bem, você é um fragmento de uma memória que o meu cérebro esta completando com uns acessórios para interromper meu exercício.

- ....


- Ah, agora está dançando .. e sem música!! Por acaso era alguma espécie de perturbada alegre? Não tem noção não?
...Você morava onde mesmo? Ah! Aveiro? Aun! Parece um tanto pacato hein!! Cresceu bastante é? Deve ser por isso que veio atormentar minhas memórias aqui além do horizonte. Esquisito ser uma memória....Lamento não ter guardado nenhuma daquelas cartas que meu pai recebia!! Eu não sei o seu nome.

-...

- Olha, esse lance familiar é muito sério e eu tenho o maior respeito por estas tradições , mas será que não dá pra assombrar outra hora. Pode ser num sonho. A gente pode aproveitar e bater um papo e você até pode me contar algum segredo cabeludo ancestral!! Posso te chamar de você? Afinal está na minha lembrança particular!
Pode me contar novidades sobre Maria da Anunciação ( viu como lembro) e eu sei de outras Marias . E o seu Armênio? E os parentes do Seu Formigal?

- ...

- Já se foram todos !! Sei! Não está com calor com este vestidão? E esse coque? Não se usa mais este tipo de cabelo sabia? Em pensar que a gente nem se conheceu. Pra te falar a verdade eu não conheci o meu avô. Quando eu nasci ele já tinha morrido . Aliás vocês todos morreram cedo não? (Bate na madeira). Que venha daí!
- ... ?

- Brincadeirinha!! Ok, foi uma piada sem graça.
-...

- Sabe que eu não sei que fim levou aquela foto? Deve estar perdida nas minhas caixas. Tá certo, eu estou pensando em restaurar sim...Mas então não vai me dizer qual é a razão de estar aqui hoje? Não vai falar nada ? A bisavó não te deu educação ? O que será que ela ia pensar deste nosso "monólogo"?
O seu silêncio vale mais do que mil palavras....Sei!

- ...


- Não é uma assombração é? Olha aqui eu já desisti de relaxar . Me deixou tensa com esta dança tosca e esse sorriso congelado. Vai fazer jogo duro ? Então tá bom!!

- ...
- Quer ouvir música? Acho que vai gostar desta....Pode ficar aí dançando!! Eu não me importo!!
Ah e obrigada pela preferência!!
Quando sair não faz barulho!! E... volte sempre!!
-...?!

- Ah sim vou achar aquela foto e...


beijo fantasmagórico


da melind@

Ps.: Este post é em estima àquela parte de meus ancestrais que nunca conheci e que reverencio por alguns instantes. Por estranha coincidência eles vieram habitar minhas memórias por estes dias. Dou-lhes um pouco de vida aqui, nesta brincadeira..
São fragmentos de histórias e imagens dos quais pouco registrei. Infelizmente! Ah, as fotos !

domingo, 10 de outubro de 2010

Onde está o amor....

Onde deixei o amor,
aquele amor sem nome
que guardo na boca
que acalma meu peito


Ele que habitou meus sonhos
e recheou minhas
conversas suculentas,


Parece que vestiu outra
roupa, ficou formal,
pragmático, deixou de
ser ele mesmo..


Se tornou uma sombra,
um vazio refletido na
lâmina da razão
que desconheço..


Virou amor que escolhe
palavras e inventaria
custos.


Não sei o que fiz
com ele,




Um dia o reconheci
numa revista desenhado
sob medida,
estava tão bonito,
mas era só uma
imagem espelhada
sem as substâncias
que eu amava,



Não sinto mais o cheiro
daquele amor largado
que tomava posse ,
arrastado pelas falas
que invadiam a madrugada,
de bem com a vida...


Perdi aquele
amor na paz,
sem perguntas ,
o de estar junto
e ser do bem,


Outro dia vi um beijo
jogado pelo ar
e era doce, manso, terno ,
pensei que o amor estava
junto,
corri para encontrá-lo,
mas talvez eu tenha imaginado
ou lido em qualquer história
de ficção...



Desapareceu em meio aos
argumentos lúcidos do
tempo,
desgastou-se,
perdeu a confiança,


Quem sabe o amor
deixou de acreditar
em mim,



Cansou de andar enfeitado
de simulações ou mascarado
de hipocrisia,


Não sabia mais ficar
reprimido pela
minha arrogância,


Cansou de andar por aí
se esgueirando por meus
caprichos..


Numa tarde eu o ouvi
em uma música,
ele parecia ser de novo
aquele amor humano e
visceral que conheci um dia,


Reconheci ali sua força e
integridade,
ele falava em saudade
e lealdade,
se dizia cúmplice do
meu desejo e
prometia nunca partir..


Despertei da canção no
susto ao ouvir minha voz
cantar e começar a
duvidar daquele amor- paixão..


Chamei aquilo de ilusão
e voltei a procurar
nos livros ,
nas palavras
e nas telas por aquele amor-perdão..


Quero de volta sim ,
nessa nova estação,
ele que me fascina e causa
sensação...
sem ele não suporto
e não vejo solução...


Vou falar nele, lembrar
até a exaustão,
vou torná-lo vivo , presente,
cantar num verso e
estampar no quadro de
lembretes...



Quem sabe ponho um anúncio,
uma nota ou declaração ,
assim trago comigo este estado
dele em mim e me entrego
poesia assim..




Beijo intenso
Check Mate

da melind@




Qual é a sua liturgia..

"A cabeça dos seres humanos nem sempre está completamente de acordo com o mundo em que vivem, há pessoas que têm dificuldade em ajustar-se à realidade dos factos, no fundo não passam de espíritos débeis e confusos que usam as palavras, às vezes habilmente, para justificar a sua cobardia."
José Saramago

Eu tenho algumas liturgias. Acho que estes rituais que mantemos nos pertencem enquanto os percebemos como algo bom. Nos recôndidos da minha existência lá estão eles. Não gosto de ir ao cinema acompanhada. Detesto ouvir música enquanto converso. Sempre começo a andar com o pé direito. Quando vou dormir começo de costas, viro para a direita e após para esquerda.Não gosto de fazer chamadas por telefone ( ou similar), mas apenas de receber...Sempre começo a maquiagem pelo olho esquerdo e sempre começo a escrever um post a partir de uma palavra.
Quando li este trecho do Saramago me pus olhar por trás das palavras que escolho e por entre as dificuldades que elas omitem.
Sim, pode ser verdade, as palavras sintetizam idéias que nos padecem a mente. A mente como sabemos possui inúmeras faculdades e algumas são especialistas em construir cortinas de fumaça densas e capazes de encobrir nossas verdadeiras fraquezas.
Olhei meus rituais e atos solenes com as palavras que amo tanto e mais uma vez concluí que "Eu às vezes acho muito que nada faz sentido..."
Acho que a minha cabeça não está de acordo com o mundo em que vivo, sou um espírito débil e confuso em busca de minhas inquietudes. Tenho grande habilidade em justificar minha covardia.
Este é o grande mestre Saramago...que descobriu entre as palavras um jeito de nos contar para nós mesmos...

beijocas insólitas aportuguesadas
da melind@

E não entendendo mais um pouco: olhemos o recipiente vazio.




Me vejo como um recipiente que posso esvaziar e preencher a cada dia.





Ontem eu fiquei "involuntariamente" em uma "palestra" enquanto esperava uma amiga e o tema era planejar o futuro. A estratégia do palestrante visava apontar para uma espécie de futuro espiritual ou transcendência.


Planejar o futuro.Uma das coisas mais difíceis que avalio, posto que primeiro é necessário definir a que futuro estou me dirigindo. Daqui a dez minutos? Dez anos? Dez vidas?(brincadeirinha) Um futuro que sequer existe! Existe apenas a eternidade.



Como sempre tenho muitas perguntas e quase nenhuma resposta fiquei deixando as perguntas tomarem conta do meu recipiente mental. Elas são boas companheiras.




Lembrei daquele bordão " O amanhã a deus pertence" ...Será?


Tentei observar o curso das palavras como quem observa o sol brilhando, sem julgamentos egóicos.

Seria possível falar de futuro espiritual apartado de futuro material , considerando as variáveis sociedade, cultura e momento histórico?!Tudo muito complexo não ?


Eu já entrei em uma frequência que me leva sempre a achar que estou no lucro.

O fato é que não temos muito isto que chamamos de futuro. Acho que tudo acaba se restringindo a escolhas. Algumas coisas podemos escolher e mudar e outras vem no pacote e não dá para alterar.

Seguimos rumo às descobertas e experiências , o que acabei entendendo (embora não exercendo inteiramente) que é a única coisa que existe. Sim o presente. Claro que parece clichê e é, mas a verdade é tão simples que parece clichê.


Busca-se certezas, solidez e segurança. Mas, não existe garantia alguma nunca! Meu mantra da impermanêcia.

Eu já desejei preencher meu recipiente com tantas substâncias. Já quis ser a menina mais bonita da turma no colégio, houve momento em que queria ser a mais inteligente. Já desejei ter tornozelos finos e torneados e não ter pèlos nas pernas. Já quis ser uma escultura perfeita. Sem chances.
Quis ser uma idealista(nunca consegui me aferrar a idéias) e também desejei ser uma grande líder política . Sonhei em mover multidões com meus sonhos e claro, me imaginava subindo a escada da fama com um nariz menor.


Queria ser uma pessoa generosa e estar acima da mesquinhez e sobretudo queria ser feliz. Descobri que sou, apesar de nunca ter ido viver em uma comunidade hippie como sonhava há tempos atrás . Ah eu queria ter passado sete anos no Tibet e também me imaginava descobrindo o elo perdido como Indiana Jones.



Sonhei ser uma bailarina em um grande musical. Quis ser cantora de rock e ainda reger uma grande orquestra. Queria ser professora aos dez anos e morria de vontade de ser filha dos pais da minha melhor amiga na adolescência (eles eram tão perfeitos).



Ainda houve aquele momento de ser uma grande escritora e também atriz dramática(apesar de ter uma certa repulsa ao melodrama). Queria ainda a leveza da Meryl Streep, a elegância da Constanza Pascolato e a graça de Danuza Leão para lidar com as intempéries da vida.


Bom, eu poderia dar voltas ao mundo costurando letras e contando todos os personagens que habitei.Alguns cheios de boas intenções e outros puro ego. Simulei milhões de existências para minha vida "concreta", mas a realidade estava sempre lá e eu sempre era alguém além dos meus sonhos. Eu era e sou sempre alguém além do fluxo que corre na minha história. Sou o recipiente.


A partir do momento em que toma-se consciência desta condição falar em planejar torna-se algo menos grave, mais pontual e passível de ser alterado continuamente.


As opções(felizmente não precisam ser definitivas) são acessórios e o que constrói o recipiente e lhe dá solidez é o conhecer-se( e aceitar-se).


Deste ponto de vista planejar um futuro que não seja um conjunto de objetivos materialmente práticos matematicamente equacionados é pura ficção.


Falar em destino? Acredito mesmo que escolhemos o destino que queremos e construímos o personagem que vai entrar em cena na próxima chamada, mas ninguém pode nos ensinar como fazer. Esta descoberta é genuninamente solitária, diária e permanente. É como aquela imagem da fruta que (se niguém arranca) vai cair do pé quando estiver madura( preparada) ou passada.

Então vamos ao clichê, momento Deepak Chopra: " Se você quiser saber como vai estar amanhã, veja o que vai dentro de você hoje"....(+-).Adoro frases de efeito.

Portanto, o lance é planejar o presente...
Momento blogoterápico...



São só alguns pensamentinhos altos do chão que a melinda ficou matutando...

beijos

predestinados
da melind@

.. E bem ali
além dos meus sonhos
eu estava,
por romance,
por deleite,
pra me saciar..
de mim
me fartar..

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...