terça-feira, 12 de outubro de 2010

Especulando sobre reminiscências

Platão acreditava que uma reminiscência é uma lembrança do que a alma contemplou em uma vida anterior, quando, ao lado dos deuses, tinha a visão direta das idéias.
Só a filosofia socrática poderia imaginar que é possível ter uma visão direta das idéias. Diretas a partir de onde?
Não precisa responder porque sei que seria uma resposta vascularizada "ad infinitum" como prega a boa filosofia.
Para Platão não era exatamente como lembrar de uma receita de pão, mas mais ou menos como o sabor daquele picadinho que só a sua mãe sabia fazer. A reminiscência traz consigo um tanto de sensação porque é geralmente associada a uma emoção que ela foi armazenada. Isto não é simplesmente apoteótico?
As lembranças ou memórias se modificam quando mexidas. Isto não sou eu que estou falando. É a neurociência. É um dos fatos mais interessantes que anexei às minhas reflexões ultimamente. Já havia falado sobre isto em Revirando as prateleiras......
Desta forma posso afirmar que muitas das minhas memórias são um embuste. São formas que maquiei com as pinturas do tempo e das emoções que fui misturando a elas. Claro já não tinha uma visão direta da idéia. Esta vai se perdendo até que a lembrança se torna outra.
Nas minhas tentativas em fazer terapia eu sempre me tornava um folhetim em vários capítulos duas vezes por semana. Eu é que deveria cobrar cachê. Colocava emoção e colorido nas memórias e reconstruía os acessórios.
Nunca movi os fatos. Sempre procurei ser fiel ao evento, mas colocava alguns detalhes quase imperceptíveis para poder aceitá-los. Nunca suportei histórias mornas. Não tolero muito a brandura ou a palidez. Mas o interessante é entender que se está lembrando de algo que se tornou parte daquela memória. Isto deve se chamar cura. Seria como transitar por algo e torná-lo aceitável. Será?
Não sei se isto é um talento, uma virtude ou um grave problema de caráter. Não chego a tanto.
Na verdade eu nunca consigo permanecer até cansar. Geralmente pulo fora das terapias quando a coisa esquenta um pouco.
Talvez eu não queira libertar todas as bruxas de uma vez.
Algumas de nossas lembranças são simplesmente eliminadas do âmbito acessível e vão habitar o nosso subconsciente, onde se tornam desconfortos ou sensações reflexas que não compreendemos. Isto eu chamo de sacanagem!
Em meus inúmeros encontros com Jung como A saga de Jung :episódio de hoje" Os sonhos morrem primeiro" e Contatos imediatos cosmopolitas ...Jung Spock que acabo narrando aqui, eu descubro muitas e muitas coisas sobre ser e parecer que tornam fascinante conhecer pessoas.
O fato é que minha visão direta das idéias é cada vez mais indireta e eivada de nuanças novas . É sobre isto que costuro neste post. Valha-me Sócrates...

Beijo filosófico
da melind@

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