sábado, 27 de novembro de 2010

Promessas e Juras

Promessas e juras são atos irrefletidos. São resultado da nossa necessidade de criar ciclos de ilusão em nossas vidas e que se alastram pelos vínculos que criamos. Se filtrássemos estas atitudes com alguma ponderação perceberíamos que não pensamos antes de prometer algo. É imensa a energia que gastamos com o rebuliço e mal estar de não cumprir uma proposta que nos fazemos ou pior, que fazemos a outra pessoa.
 Vivemos quebrando nossas promessas conosco. Aquela dieta de segunda-feira, aquela academia, aquele livro que iríamos terminar, aquela proposta interior de controlar a língua, juramos que vamos adotar uma postura mais otimista e até prestar mais atenção nos próprios pensamentos. PRESTAR ATENÇÃO nos próprios pensamentos  é campeã de audiência! São banalidades, sei, mas se repetem "ad eternum" e soam como pequenos fracassos. Claro que vão comprometer nossa moral que já não anda tão elevada.O ego não tolera muito estas sensações.
Não pensamos antes de fazer uma promessa  e normalmente não temos a menor intenção de cumprí-la. Pode parecer cruel, mas no momento que a proferimos já sabemos que não vamos levá-la a cabo. "Prometo que vou te ajudar" , "prometo que vou estar sempre ao teu lado" ,"prometo que vou prestar mais atenção"," prometo que vou tentar"," prometo que vou te ligar"," prometo que vou te amar" , não vou te decepcionar". Ainda não defini o motivo para tanta falácia, este barulho monumental poderia ser um filme silencioso cujos textos enxutos e precisos ganham em essência e se livram da perfumaria.
Acredito que o  simples fato de pactuar o compromisso já serve como um adiantamento sucesso ( o projeto bem sucedido), já nos apazigua a alma e aí tudo resolvido(por hora). Parece mesmo mais uma obra do imediatismo que se faz presente.
Repetimos as mesmas atitudes e esperamos resultados diferentes. Não é assim? 
A única defesa em nosso favor é que não agimos mal intecionados, pelo contrário, queremos ver todos felizes , ainda que os estejamos iludindo.
Prometer é gerar expectativa, é com-álguém-prometer-se, é oferecer um quinhão de nós mesmos em garantia! Só avaliamos de fato as consequências geradas pela  palavra empenhada quando estamos do outro lado e somos os credores esperançosos.
Aprendemos este joguinho quando crianças. É uma tradição entre as gerações.
Não calculamos o quanto geramos de frustração e decepção nas pessoas.
Lembro sempre de um amigo que contou constrangido que sempre dizia a um colega que passaria mais tarde para tomar chimarrão ( o que jamais fizera) e tempos mais tarde soube que o colega preparou-se e ficou  esperando por muitas vezes.  Lamentável não é?
Aquele telefonema que nunca acontece. Hoje eu ouvi uma psicóloga dizendo que a nova definição de amor está em ter tempo disponível para alguém. O tempo que disponibilizamos ao outro afere o quão importante este é para nós.
Ao final abrimos mão do que realmente importa em favor de uma rotina de Hércules que estabelecemos para nossas vidas. "Sempre muitíssimo ocupados"  parece uma desculpa bastante convincente para justificar a quebra de juras . Hoje ouvi também algo que considero muito importante  que é ter autonomia, saber até onde posso e quero ir. Não preciso dominar todas as tecnologias e competências de meu tempo. Tenho meu próprio tempo( parafraseando a música do Legião Urbana).
Adotei nestes últimos tempos a tática de anotar na agenda minhas falsas promessas. Estou inventariando meus furos. Um rol interminável de pactos selados ao vento e de palavras fugidias.
Promessas são falsas seguranças e ilusões e diagnosticam muito do que somos. Acho que  constituem a parte de nós que participa deste grande mundo ficcional no qual estamos inseridos . Prometer é coisa do Ego . São pequenos enganos misericordiosos que adotamos de bom grado. Enfim, prometo que vou continuar rasgando os contratos de longo prazo e prestar mais atenção no caminho.
Acho que não trouxe este papo por nenhum motivo especial, apenas por ter sentido um certo gosto de dúvida na boca enquanto vasculhava meu baú.
beijo casual
da melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...