sábado, 12 de junho de 2010

Onde vivem alguns dos meus monstros...

Assisti a três filmes muito interessantes e de categorias bem diferentes, mas cada um se deixou um pouco em mim. Sabe quando ficamos lembrando de determinadas cenas e falas repetidamente. As três histórias falam de superação . São laboratórios instantâneos.Vamos a nossa catarse!

O primeiro foi " Preciosa" do diretor Lee Daniels . Nada leve, mas muito corajoso. Por quê? A história é de enfrentamento e superação. Amo histórias de superação. A personagem era uma menina negra, que devia pesar uns cento e cinquenta quilos. Ela fora violentada pelo próprio pai desde os três anos de idade com a anuência da mãe que também a abusava . Engravidou duas vezes do pai e o primeiro bebê tinha síndrome de down. Para completar o pai lhe transmitiu o vírus da Aids. Se tudo indica que o filme é um drama de exagerado mau gosto, esqueça! A excelente Gabourey Sidibe nos conduz por dentro do limbo que criou para sobreviver. É interessante ver como alguém sem luz própria (ou que se acreditava assim) canalizava toda sua dor para fantasias bizarras que caminhavam lado a lado com sua dura realidade. Pra pensar!!!
O segundo foi o absoluto "Onde vivem os monstros" Spike Jonze . Este é o meu número! Um garoto de cerca de nove anos( aquele que todo mundo tem por dentro) vivendo uma confusão temperada por sua imensa e intransferível solidão( aquela que você também conhece). Mãe separada e cheia de trabalho e responsabilidades , namorado novo e irmã adolescente insuportavelmente indiferente( matando seu próprio leão). Enfim Max está só e ao ser magoado pela mãe mergulha em seu mundo habitado por monstros cheios de dilemas existenciais adultos e que trazem alegoricamente representada a vida de Max.
Os monstros tem em Max o seu rei e a esperança de que ele lhes traga a tão sonhada harmonia e felicidade. Cheios de fraquezas humanas os fofos monstros vivem as mesmas armadilhas que envolvem humanos. Os monstros retratam os vários papéis vividos dentro de nós, nossos medos e decepções. Muito interessante. O garoto se refugia na fantasia até elaborar-se nessa experiência que lhe impõe ironicamente a maturidade. Finalmente despede-se e volta para o colo da mãe.
O terceiro filme foi " Educação" de Lone Scherfig . Excelente. Nos faz questionar nossas escolhas. Afinal às vezes desejamos tanto fazer as escolhas certas que esquecemos de viver ou nos divertir ou ainda agregar felicidade ao caminho e não apenas depositá-la lá no final da rua.
A história se passa na Inglaterra e trata-se de uma jovem que carrega nas costas o peso de ser o grande investimento dos pais de classe média. O sonho é ingressar em Oxford. Para uma mulher, na época, um grande desafio. Entretanto cai de pára-quedas em sua vida, num dia de chuva, um homem mais velho que , apesar da condição econômica abastada, denota claramente um estilo de vida pouco ortodoxo. Apesar de ser um péssimo exemplo o homem seduz nossa heroína Jenny e sobretudo seus pais( que também ficam deslumbrados com o jeito sedutor do rapaz), esquecendo que deveriam ser guardiões da segurança de Jenny.
Jenny vai provar o amargo sabor da dúvida e aprender do jeito mais duro sobre o peso de nossas escolhas.
beijo
cinéfilo
da melind@

Impressões que entram pela janela..

A Adriana Calcanhoto canta uma música que eu acho sensacional....acho que chama "esquadros" e tem um trecho mais ou menos assim: pela tela...pela janela...quem é ela ....quem é ela ....eu vejo tudo enquadrado( olha o duplo sentido), remoto controle...eu ando pelo mundo....
Sobre ter e perder o controle, sobre os enfoques que dispensamos aos que nos cercam, sobre ficar presos em convenções e esquemas. Enfim!
No último final de semana eu ampliei meus quadros, me desenquadrei e me enquadrei, digamos que olhei por outras janelas.
Lá estava eu sentada em uma poltrona rumo a Porto, uma revista em uma das mãos- para amenizar as falsas quatro horas e meia , que são na verdade cinco e meia cumprindo os trezentos quilômetros-ai como eu amaria um Trem-Bala- Por que a copa do mundo não está sendo em Bigrivertown ao invés de Joanesburgo? (Eu até iria assistir um joguinho) -e na outra mão segurava a expectativa e a ansiedade.
O cenário era uma chuva fina, com o fundo cinza suicídio e um silêncio dominado pelo barulho constante do motor, a estrada se desenrolava como uma língua de sogra, dentro e fora de mim, como uma ponte que se abre e fecha em relação aos novos mundos.
O pensamento solto povoava cada espaço da minha mente e eu tive aquela sensação de "unicalidade" que li outro dia na crônica da Danuza Leão, a sensação de ser única e inteira naquele momento e em qualquer lugar. Percebi que , mesmo separada do meu universo particular, eu poderia estar inteira e completa, que tudo que tenho , levo comigo e só.
Eu fui a Porto para encontrar minhas irmãs que não via há tempos e , é claro que encontros são sempre memórias, gavetas abertas e remexidas. Novas janelas se abrindo e outras sendo fechadas com tijolos.
Trocar confidências, revelar segredos, compreender antigas histórias nebulosas. Fortalecer conexões e trazer o passado de volta.
Novos mundos se abrem, novos dias se prometem, o tempo se perde nas horas do relógio e lá estou de volta na estrada, retornando ao meu universo particular com o sangue oxigenado de vida e possibilidade.
Reconhecer e reconhecer-se no outro, achamos pedaços de nós em nossa família. Fiquei impregnada do novo, voltei com os bolsos cheios de energia, vigor e magnetismo.
Lembrei da tal resiliência, ampliar-se e saber voltar ao estado inicial( voltar para casinha).Das inúmeras histórias que circundam uma cidade em seus singulares e humanos indivíduos ( a unicalidade). A mulher do apartamento de cima que mora com uma jibóia de estimação, o desembargador do café que tem oitenta e mente ter cinquenta acreditando que resgata sua vitalidade, um grande amor que deixou este mundo e o mestre francês que cura. O homem que tirou seu brinquedo da Kia da concessionária para tomar uma pancada pior e as outras tantas histórias escondidas atrás das luzes .
Rodamos pela cidade e pelo tempo, bebemos vinho, lambuzamo-nos de mousse de chocolate , fizemos compras e trocamos identidades e aprendizados. Conspiramos contra o tempo e o destino, fizemos planos e sobretudo rimos , de chorar.
Lembrei de uma música do Ed Mota sobre chorar de ri. É tudo de bom!!

Um beijo
tudodebonzinho
da melid@

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Inspiração

Agora há pouco quando levei o Stuart para desbravar os canteiros da rua Duque de Caxias vivi uma experiência interessante. Enquanto esperava que o pequeno e ardiloso monstrengo quadrúpede executasse seu ritual matinal, fui abordada por um rapaz de ar simpático e longos cabelos , ao estilo souroqueiroedaí. O rapaz muito despachado com uma abordagem mansa e natural se aproximou de mim e apresentou-se :
- Oi! Meu nome é M.H.
Se eu não estivesse completamente amarrotada -havia acordado e enfiado um casaco sobre a camiseta sem passar pelo espelho-diria que pareceu uma abordagem galante, mas meu senso de realidade logo deduziu que seria alguma chateação.
Fiquei surpresa quando o rapaz começou a falar sobre seu trabalho de músico e que havia produzido um DVD independente que estava oferecendo às pessoas. Encantador. Contou-me de sua carreira de vinte e cinco anos e do estilo de música que fazia. Acostumado a tocar em todos os lugares, mas com poucas oportunidades ele lançou seu trabalho com composições próprias , design simples, sem pecado e com muita disposição para conhecer pessoas e divulgar seu trabalho. O DVD estava sendo comercializado por um valor bastante modesto e bem a título de divulgação.
Este nosso país!!!
Muito legal. Além de ser um artista de bigrivertown e ter este ímpeto , as músicas, que acabei de ouvir enquanto mudava o layout do blog da melinda e escrevia estas linhas, são no mínimo bacanas, leves.
Sabe aquele contexto de lugar comum e vida simples, sonhos que estão pelas mentes , pelas bocas, cartas, diários e livros.
Sensível e sincero em suas letras , o músico ganhou minha admiração e respeito.
Acreditar em si mesmo é algo mágico. O rapaz , que usava muletas com grande agilidade, mostra seu trabalho às pessoas comuns que encontra na rua. Disse que aproveita o momento também para conhecer pessoas e inspirar-se para o próprio trabalho de composição.
Letras como "Era "quase" uma vez" inspirado naqueles que passam a vida quase conseguindo alcançar seus sonhos( alguns ). Ele falou que coisas legais merecem uma música.
Lembrei de uma história do Tejon sobre uma senhora , dona de casa, que sonhava em viver da poesia e viajar pelo mundo. Já na maturidade após criar filhos e transpor suas próprias barreiras esta senhora começou a produzir seus próprios livros, com seus poemas e vender em aeroportos. Hoje ela viaja pelo mundo com o dinheiro que ganha vendendo seus poemas. Muito legal!!!!
Achei que esta história merecia um rápido post sobre o quanto as pessoas in( comuns) são inspiradoras.
beijo
melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...