terça-feira, 9 de novembro de 2010

Era uma vez ...

Era uma vez e uma vez apenas era. Uma vez porque  apenas a um tempo entre dois tempos  pertencia.
Era uma vez um tempo que se estendia  entre dois tempos de relógio. O tempo daquela vez fora acordado pelo vento que soprava como música de primavera.
Era uma vez naquele tempo uma noite entre dois dias. Uma daquelas noites intensas que aparecem uma única vez inesquecível. Uma noite abraçada ao escuro quase completo e azul.
Era uma vez um escuro profundo e único que só não era completo por causa do resto de sol refletido na lua  que deixava o escuro azul.
Era uma e só uma vez uma noite  azul escura entre dois tempos despertada pelo vento que cantava sobre os objetos. Um vento jamais ouvido que provocava as coisas do instinto e silenciava os barulhos do mundo.
Era uma vez uma dor que não doía, só estava lá deitada sobre a noite azul escura entre dois tempos.
A dor que não sentia continha uma verdade inteira  daquela vez. Era uma vez e só uma naquele encontro do vento com a noite, o tempo e a dor. Ali se revelaram um para o outro, se fundiram definitivos um escuro azul, um vento musical , uma dor que não doía e um tempo que já não existia.
Era uma vez e só uma.

beijo
da melind@

domingo, 7 de novembro de 2010

Estar perto não é físico...

Claustrofóbico

Mr. Tambourine Man é o autor de um Blog e protagoniza o filme " Os famosos e os duendes da morte" do diretor Esmir Filho . O blog parece ser a parte mais real de sua vida. Tristeza, solidão e inadequação são as sensações que o jovem de dezesseis anos expressa.

Achei uma experiência muito interessante assistir ao filme com trilha de Bob Dylan ( Mr. Tambourine...) e que acontece em uma pequena cidade gaúcha de colonização alemã. Só pela atmosfera típica do interior, quase campanha já vale muito. Os chalés de madeira e o trem apitando.
Eu tive um namorado de Santana do Livramento que morava em um chalé de madeira destes meio sítio no centro da cidade. Aquele cheiro de fogão a lenha e aqueles estalos na madeira. O mato que cercava a casa.

Bom, mas voltando ao filme, algumas cenas são bárbaras como a que os amigos se encontram de madrugada para fumar sentados nos trilhos do trem . É uma viagem e tanto . O silêncio e o riso falam com sutileza.

Outra cena hilária é a do encontro com os avós( a distância abissal do avô alemão) e depois quando os avós vão para a festa junina ( ponto alto da noite na cidade) vestidos com trajes de noivos. É surreal. Nota dez também para a cantora de músicas típicas alemãs.

Mas a mais significativa é quando o garoto abraça a mãe no meio da festa e ambos dançam e choram em uma despedida sem separação.

A cidade e os personagens nos são apresentados através das memórias do garoto, que vive com sua mãe, viúva recente. Ambos atravessam momentos muito difíceis e várias vezes ele retoma a idéia de partir.

O filme centra em uma ponte (vale do Itaqui?) onde os habitantes se suicidam com certa frequência. É uma cidade que exala o peso da vida de seus moradores, isolados por um anacronismo incurável.

Através do blog o jovem revela sua dor imensa e nos faz entender o ponto em que a vida se torna insuportável.

As cenas recorrentes envolvem imagens filmadas para o blog de uma jovem suicida e um suposto namorado, que vai surgir para costurar a trama.

O filme é de grande delicadeza e vai se contando com naturalidade. São diálogos curtos e instigantes. ( Um sofrimento para uma tagarela como eu...fiquei falando mentalmente como uma doida)

Folk- Rock e fotografia  nos convidam a penetrar na mente confusa e solitária do adolescente e desvendar seus vazios . Pareceu-me que o diretor sugeriu uma sexualidade indefinida e qualquer identidade com comunidades Emo. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Eu gostei.


Veio ao encontro do que eu havia falado em outro post sobre o comportamento de jovens e adolescentes , sempre acompanhados de suas câmeras , celulares e notebooks. Sempre conectados e quase nunca disponíveis para uma conversa de mais de dez palavras. Vídeos narcisos e movimentos andróginos estão bem caracterizados na película do diretor de "Tapa na Pantera".


beijo claustrofóbico

da melind@

O caminho sob o sol..

Depois de muito remanchar decidi retornar com alguma atividade física nos finais de semana. Já tem um ano , creio, que tenho me restringido a fazer alguma atividade durante a semana e durante o final de semana sedentarismo do mais puro. O resultado é que minha coluna está dando em grito. Decidi fazer uma caminhada hoje. Voltas e voltas depois saí , já marcava 11:35 quando rompi o marasmo para fazer quarenta minutos de caminhada acelerada. Trilha sonora no ouvido, boné e muito filtro solar. Lancei-me.
Fui a pé até o lugar mais próximo para fazer caminhadas, o canalete das hortências(mortas) aqui em Bigrivertown.
Deparei-me com um deserto lancinante. O sol fustigante não estava nos meus planos iniciais, mas quando percebi o inevitável tomei o cenário como um desafio. Resolvi atravessar o deserto sob o Sol e ver como meu corpo se comportaria diante de tanta provocação. Isto é muito bom.
É muito bom sentir o sangue circulando e o corpo vivo e agitado pela atividade.
Quando se anda no deserto tudo se expressa. A folha seca tem sabor de efeito especial. A brisa rara vem dar um carinho e vez por outra transita uma alma que deixa escapar um sorriso amistoso.
Ao transitar num deserto quente de domingo enquanto as pessoas circulam para a volta das mesas e se dirigem aos restaurantes, principalmente churrascarias , ando para além do fluxo. Saio da fila e ando na contramão.
Neste interregno de tempo estava eu no limbo, no tempo parado da minha música e do meu corpo que luta contra a inércia. "Fly me to the moon" canta Sinatra . E eu apartada do mundo em meu deserto particular.
Dois cachorros sedentos cruzam meu caminho em busca de uma sombra e água. Um velhinho traga sofregamente o cigarro. Parece impaciente sentado na porta de entrada do Edifício Teatro ( eu nunca havia visto que ali existia um edifício teatro- deve ser porque fica em frente ao próprio). Será que está a espera de alguém , será que tem alguém para esperar em um domingo deserto e tórrido.
E Jamie Cullum canta "What a difference a day made, twenty four little hours ..." e sigo minha trilha sob o Sol . Um funcionário da companhia riograndense de saneamento acompanha de dentro de uma camionete a aventura da água que se acumula entre os paralelepípedos .
Men at work arrisca "Beautiful World" e eu assino embaixo.
Eu gosto de nadar neste mar de novidades . Senti minhas bochechas vermelhas e o sol meu companheiro. Passei em frente a uma Igreja evangélica onde se arrebanhavam alguns fiéis , provavelmente para as atividades de domingo. Ao chegar ao final da trilha nada mais se movia além de mim.
O estranho é que tudo me pareceu novo e diferente apesar de já ter realizado este caminho inúmeras vezes antes. (Prefiro um mundo real a uma esteira de academia).
Éramos apenas nós naquela trilha de hortências ressecadas. A medida que a hora avançava o calor vertia dos meus poros . Cumpri minha meta e rompi com o estado de "ponto morto". O gasto energético foi significativo, mas valeu o preço.
Cheguei ao trecho de Pavarotti que estava acompanhado de Bono Vox. Its there a time.
Is there a time to run for cover

A time for kiss and tell

Is there a time for different colours

Different names you find it hard to spell ...



Está na hora, já é tempo de movimento...
beijo desértico da Melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...