sábado, 4 de setembro de 2010

A saga de Jung :episódio de hoje" Os sonhos morrem primeiro"

Os olhos fechados visualizavam as ruas desertas. Calçadas largas com pequenas ilhas verdes adornadas caprichosamente por um paisagismo intuitivo. Inicialmente uma longa trilha, retirada de um cartão postal. Parecia que ao longe formaria uma alameda profunda e infinita, mas eis que surge a praia e aquele velho e íntimo calçadão de abrindo com um tapete. Ela continua flutuando sobre o ar em sua investigação alucinante. A luz é inconstante. Há momentos em que o Sol inexistente deixa a imagem turva e cinza como um final de tarde de agosto, em outros a luz é tão intensa que simula uma experiência de laboratório.

Em algum momento ela se volta para um vulto que repentinamente se insurge pela calçada. É uma mulher muito velha que usa apenas uma calçola com o elástico gasto e caminha rápido e cadenciadamente.Os seios pendentes se misturam às peles devastadoramente flácidas. A pele muito branca deixa entrever alguns vasos capilares escuros como caminhos entalhados na carne. A postura arqueada indica o peso de sua história mal interpretada. A cabeça é de um peixe, poderia ser um bagre, mas está estraçalhada. Provavelmente tenha sido devorada por outros animais enquanto estava morta à deriva pelas ondas.A mulher com cabeça de peixe a olhou com indiferença e surpresa, como se ela fosse um alienígena a invadir o mundo daquela forma. Sentiu uma quase dor que não conseguiu enfrentar. Uma tristeza estranha se apoderou dela, mas não parou, seguiu desenrolando sua serpentina de tempo naquele espaço.

Cabeça de bagre era uma expressão muito comum em sua infância. Talvez a mulher com cabeça de bagre estivesse guardada lá.

Seguiu rumo a uma nuvem amarela que parecia uma névoa, como se fosse penetrar em um pequeno deserto colorido por uma aurora artificial. Por um instante acreditou que deveria ir naquela direção. Voltou-se para olhar a mulher, único habitante daquele estranho episódio entre os tempos.Ela seguia longe, rumo a qualquer destino que a acolhesse. Parecia estar livre.
Tentou ver os próprios pés e não conseguiu. Naquele momento não havia perguntas e nem respostas. Não iria contra a correnteza.Era o suficiente.
Sentiu algo escorregando sobre seu corpo e estendeu a mão, como se estivesse caindo. Apertou a coberta macia e respirou com os olhos abertos. Estava em casa.
beijo multidimensional

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Celebração

Não por ACASO(Página 149 = 1+4+9 = 14 = 1+4 = 5 = A+C+A+S+O) no mesmo mês de agosto do ano passado eu estive aqui sentada monitorando uma daquelas gripes que parecem ter vindo para aniquilar geral.
Pois bem , aqui estou no placar 2 a 1 para o vírus, que me jogou no isolamento hoje, plena terça-feira, com o ouvido sendo espetado por uma agulha de hora em hora e com a cabeça flutuando sobre o pescoço aquecida por uma febre que circula os 37.5 graus. Sentindo na boca um sabor de cano enferrujado e com um olhar de urso panda eu resolvi refletir sobre estes momentos.
Sou partidária da idéia de que o corpo é uma resposta às nossas ações e às energias que movemos. Portanto chego a conclusão que esta minha luta (bactérias versus anticorpos) é uma corporificação de minhas incongruências .
A vida é um fluxo, um caminho contínuo , mas nem sempre este caminho é traçado de forma clara e acredito que quando ficamos perdidos, estagnados em alguma estação escura, o termômetro acusa o alerta, toca o alarme e nos traz de volta ao estado de consciência.
Temos um mecanismo de segurança a nos dizer quando estamos saindo fora do trilho, e não que não hajam muitos caminhos, mas é preciso que seguir em frente.
Estes momentos de recolhimento de forças e reorganização dos exércitos são bastante "saudáveis", como se fosse um treinamento e simulação de salvamento. É como se estivessemos testando o equipamento e azeitando o comando de operações do corpo com a mente a fim de verificar se está havendo coerência.
O corpo quer expressar o inexpressável, quer definir o indefinível e a forma como o demonstra é manifestando o desequilíbrio. Manifestando que estou colhendo as consequências do meu próprio fazer. Ou não fazer.
Há a possibilidade de que eu entenda mal. Há a possibilidade de que você me entenda mal. Mas tudo precisa fluir.
Nesses momentos pensamos que a vida não é o que parece. Não mesmo. Há muito a experienciar sobre a existência. É preciso ir além da mente e seus dados viciados. É preciso observar .Neste momento, por exemplo, minha energia está se movendo para novos espaços no meu ser. Assim, minha única responsabilidade é com o momento, não adianta querer desfazer o que foi feito ou projetar para o futuro a minha satisfação. Eu estou aqui, com gripe e o melhor que posso fazer é mergulhar no momento, desfrutá-lo, meditar sobre ele. Agradecê-lo sim, claro.
Agora parece que isto é o suficiente!
Tem um ensinamento de OSHO que eu acho sensacional e definitivo:
"Você tem um ser único e individual, incomparável. Ele nunca existiu antes , ele nunca existirá novamente , só você o tem. Celebre isso!"
Ah e tem um outro( também de OSHO) muito próprio:

“Na vida, tudo é um risco. Tudo é um risco. Não fazer nada também é um risco.

beijo iluminado

da melind@

domingo, 29 de agosto de 2010

Às vezes perfeitos estranhos se tornam os melhores amigos.

Eu estava há semanas tentando assistir um filme que esbarrou comigo dia desses. A palavra improvável foi o tanto de magnetismo que me atraiu. Na verdade o trabalho do diretor é sobre a improbabilidade de algo acontecer , o que não é impossibilidade. Enfim, como não encontrei em locadoras foi uma mão de obra para conseguir assistir .
Eu gosto muito das esquisitices da vida. Acho que elas tornam tudo mais interessante ou mais real. A normose*(lembrando o grande mestre Hermógenes) é uma aberração.
O tema? Novamente a teoria do caos. Ela mesma que coloca o universo de possibilidades ou improbabilidades a conduzir o rumo das coisas.
Os ingredientes? A diferença extrema e brutal entre as pessoas de um lado e a condição de humanidade e solidão que as torna tão iguais de outro. O outro ingrediente é a amizade. Como o axioma ilustra" Deus nos deu a família, mas felizmente podemos escolher nossos amigos"!
Max e Mary, uma amizade diferente( ou improvável) serve aqui de pano de fundo para que eu possa delirar um pouco porque envolve dois personagens muito ricos.
Imagina uma menina australiana de oito anos com uma mãe que vivia mergulhada em uma garrafa de Sherry e um pai que quando não estava trabalhando se dedicava a taxidermia. Ela tinha uma mancha cor de cocô na testa e era humilhada na escola, onde não tinha amigos.Mary sofria do tipo de solidão mais implacável. Sua descrição do mundo é de uma simplicidade desconcertante. Entre o chocolate , o leite condensado e a série de desenhos animados" the noblets" que adorava (sutilmente com personagens que representavam virtudes humanas) ela criou um mundo de aparente felicidade junto com seu galo de estimação, Ethel. A menina acreditava que os bebês ( como lhe ensinara o avô) eram encontrados em copos de cerveja na Austrália.
Um dia quando sua mãe, que também era cleptomaníaca, deixa mostrar o produto de um furto na agência dos correios graças ao seu estado de embriaguez, é obrigada a empreender uma fuga inesperada. Mary está determinada a copiar um endereço do código postal dos Estados Unidos( a fim de investigar como os bebês nascem lá) e no momento de total improbabilidade a mãe a toma pela mão e faz com que rasgue a página no endereço de Max, o escolhido entre mihares de moradores novaiorquinos que se tornará seu único e melhor amigo. A borboleta bateu as asas.Aí fica claro que o filme dá enorme atenção aos fatos ordinários em nossas vidas e que geralmente passam desapercebidos.
Bem este foi o meu ponto de vista!!!
No outro lado do Pacífico e em outro hemisfério, na cosmopolita cidade de Nova York está Max, um judeu de quarenta e quatro anos que sofre de Síndrome de Asperger ( uma espécie de altismo de alta habilidade) e tem compulsão por cachorros quentes com chocolate. Sofre de obesidade mórbida( é um comedor compulsivo) e vive no isolamento mais completo por conta de sua inabilidade para entender o mundo e as pessoas. Estranhamente a pequena Mary também não consegue compreender o mundo e isso os une definitivamente.
Mary vai iniciar uma amizade se correspondendo com Max. Este pacto vai durar mais de vinte anos e transformar a autoestima e o destino de Mary. Ambos revelam seus mundos um ao outro e se tornam a referência mais importane ao longo de suas vidas.
É uma experiência e tanto se colocar dentro da mente de alguém e ter a sensação de que ela nos imerge em nossas próprias reflexões.
A história é fascinante e também baseada em fatos reais porque o diretor inspirou-se em uma amizade que manteve de forma semelhante. Se passa em 1976, antes do advento da internet. Não é uma obra comercial.Na verdade é uma animação com bonecos de massa em longa-metragem do diretor australiano Adam Elliot. Tem cores sombrias e o cenário é um tanto devastador. Sem rumores também o mendigo que mora na rua de Max vai dando seu recado no transcurso do filme .Sutil.
Amei quando Max declara que tentar "curá-lo seria como mudar a cor de seus olhos e que os seres humanos são imperfeitos como ele.
Há também o amor de ambos pelas palavras e o sonho de Mary em casar com alguém com nome de Earl Grey e comprar um castelo.
Apesar dos ingredientes e do final não tão feliz o filme não fica pesado e consegue deixar saudades dos envolventes amigos.
beijo estranho
da melind@

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...