domingo, 27 de dezembro de 2009

OKuribito

Foto de divulgação, da Web.

Ontem eu assisti a um belíssimo filme sobre respeito.Um daqueles filmes em que vamos nos apaixonando pela personagem segundo a segundo."O agente funerário" cujo título em português é " A Partida"( Departures) , é um desses filmes encantadores que nos arrancam lágrimas fáceis, mas vertidas de uma emoção e encantamento raros. Dirigido por Yojiro Takita, são 130 minutos de leveza e poesia.

Antes de mais nada os personagens são todos de uma profundidade desconcertante e o tema abordado, a morte, reverenciada no protocolo japonês, segue um rito que nos fala acima de tudo sobre respeito. Isto sem cair no lugar comum.

O personagem central é um violoncelista que após perder seu emprego volta para o interior com a esposa e vai trabalhar como agente funerário. Neste momento o filme também trata do preconceito sofrido ainda hoje pelos "burakumin"(uma segmento marginalizado), descendentes de famílias que abraçavam esta profissão( de coveiros).

O Japão é um dos países onde a modernidade facilmente se choca com a tradição. Há um descompasso entre passado e presente em recorrentes momentos.

Achei super interessante o rito do "Nokanshi" (tradição japonesa de lavar, vestir e maquiar os mortos), preparo do corpo para sua passagem desta existência, que é abordado com muita delicadeza e não exagera na licença poética. O procedimento é realizado na frente dos familiares e se equivaleria ao tamponamento, assepcia e vestimenta dos mortos feitos pelos ocidentais. O nokanshi independe de religiosidade.

Daigo, o violoncelista que vira agente funerário, é dotado de imensa sensibilidade e nos fala de pureza e grandeza , enquanto transita rumo ao encontro de si mesmo. Ele se resgata ao encontrar nesta nova atividade a nobreza e generosidade que até então não reconhecia em sua vida.

O ciclo vai se fechando, muitos gestos, olhares e exatos diálogos, precisamente encadeados.

A morte é sempre um prato cheio e ou vazio, depende da ótica. Daigo converte solenemente as dores e despedidas em uma enorme e profunda paz.


beijo apaziguado

da melind@

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