sábado, 21 de março de 2009

O ser pelo ser em qualquer tempo...


Para começo de conversa penso que a auto-definição de Adriano , personagem de Marguerite Yourcenar no livro " Memórias de Adriano ", compreende a síntese de tudo que cada um de nós já pensou ou sentiu sobre si em algum momento.........Ontológico.....
" A paisagem dos meus dias parece compor-se , como as regiões montanhosas, de material heterogêneo desordenadamente acumulado. Aí encontro minha natureza, já realizada, formada por partes iguais de instintos e de cultura. Aqui e ali surgem os granitos do inevitável e, por toda parte , os desmoronamentos do acaso. Esforço-me por voltar sobre meus passos para tentar encontrar um plano inicial e seguir um veio qualquer , de chumbo ou de ouro, ou mesmo o curso de um rio subterrâneo, mas esse plano inteiramente fictício não é mais que uma aparência enganosa da lembrança. De quando em quando, julgo reconhecer uma fatalidade num encontro, num pressentimento, numa série definida de acontecimentos,mas muitos caminhos não conduzem a parte alguma e muitas somas não se adicionam jamais. Distingo perfeitamente, nessa multiplicidade e nessa desordem, a presença de uma pessoa, mas seus contornos parecem traçados quase sempre pela pressão das circunstâncias e seus traços baralham-se tal como acontece com uma imagem refletida na água. Não sou daqueles que dizem que suas ações não se lhes assemelham. Pelo contrário. É imprescindível que elas se pareçam comigo, porque são minha única medida e o único meio de me delinear na memória dos homens, ou na minha própria, pois que a impossibilidade de continuar a exprimir-se e a modificar-se pela ação é talvez a única diferença entre os mortos e os vivos. Mas entre mim e esses atos de que sou feito, existe um hiato indefinível. A prova disso é que experimento continuamente a necessidade de pesá-los, explicá-los e deles prestar contas a mim mesmo........." Marguerite Youcenar

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