domingo, 19 de abril de 2009

Fortaleza e têmpera


Hoje pela manhã quando eu saí pela avenida Duque de Caxias para levar o bicho peludo ao seu passeio parei. Um momento... Onde está wally? Sempre os Domingos!

Uma cena familiar, de algum filme , hum! Pode ser " Eu sou a lenda". Ou éramos Pink e Cérebro. É! O vento forte que "varreu" a madrugada, que não era negro, trouxe além do ar gélido que anuncia um frio de outono pela manhã, a visão de uma cidade fantasma.

Canteiros cabeludos, o lixo espalhado, o tímido movimento das folhas, o cinza coloria o céu e apenas eu e o Stuart a procura de um poste adequado a pretensão de seus esguichos! Nada se movia, exceto a dupla andando pelos cubinhos de paralelepípedos nada históricos. Onde tinham se escondido os demais sobreviventes?

Estava ali a radiografia de uma sociedade civilizada que prenuncia seu ocaso! Seu lixo.

Restos de um talão de cheques do Banrisul, um enorme osso do churrasco de sábado, já banqueteado por algum cachorro descamisado e cobiçado pelo faro do Stuart. Um tênis deixado ao lado do container de lixo ( quase vazio) a espera de um pé pelado. Um pouco de papel picado , uma garrafa pet , um tubo de creme dental, um pote de margarina vazio.....e por aí vai.

Ah não , eu não estava representada naquele lixo. Sou mais esperta. Assisto C.S.I. Meu lixo limpo (reciclável) vai direto para a cooperativa de catadores. Gosto de ir até lá uma vez por semana e ver o trabalho de formigões que aquele pequeno nicho social faz no submundo do consumo.

Gosto de olhar os fardos amarrados e limpos. Me dá a ilusão de que é o bastante.

Mas o esquisito foi conhecer as pessoas fantasmas da manhã de domingo pelo lixo, pelo que deixaram, as cascas de suas vidas de ontem . Se tomaram aspirina ou diazepan, comeram pizza de onde. É! Duas versões, quem produz e quem consome o lixo.

Outro dia eu assisti um curta, já antigo, chamado " O príncipe das águas" , nome sugestivo. Narra a vida de um garoto que cresceu em um lixão e acreditava que só havia aquele mundo , que considerava o seu reino, a beira de um rio poluído. Um dia ele sai em um barquinho e alcança a parte limpa do mundo e passa a viver um conflito. Descobre enfim que havia um mundo "real " e não só o seu mundo de realeza do lixo. Se liberta enfim.

Me assusto ao olhar o avesso de nosso modelo social. O mundo do consumo onde cada um de nós é uma peça da engrenagem, nada mais que isso. Nada mais do que o que restou não consumido. O ter e o ser. Que medo V..........

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