domingo, 23 de agosto de 2009

"prenez soin de vous" ou "cuide-se"

Era uma vez um romance entre um escritor e uma artista, Grégoire Bouillier e Sophie Calle...

Bem, a história abaixo é uma das coisas mais originais que eu já li. Isso é que eu chamo de dar a volta por cima em grande estilo. A criatividade das mulheres nunca para de surpreender. O e-mail abaixo extraído da Revista Bravo é o bilhete azul que a nossa heroína teve que engolir de seu amado ( e digerir).
O interessante é que ao invés de reagir como qualquer mulher frustrada com o rompimento de seu relacionamento amoroso, Sophie usou a carta para criar uma instalação de arte na forma de vídeo , fotos e textos. A partir daí nasce uma investigação sobre o amor e suas razões, o que nos leva ao desfecho desta história.
Ela entregou a carta a inúmeras mulheres ( mais de cem) e uma cacatua para que estas mulheres interpretassem ( e também a ave) e fizessem uma releitura, uma performance, dança , música , poesia enfim a partir de suas compreensões( para ser simplista). Resultado, uma instalação que está acontecendo em São Paulo ( no Sesc). Entre as convidadas há uma fauna interessante, começando pela cacatua( olha que louca). Há uma estudante de 9 anos, uma criminologista, a mãe da artista, artistas de cinema, rapper, bailarina, vidente, locutora de rádio e inúmeras outras versões.
O Don Juan também escreveu um livro sobre o tema e em Paraty haverá um encontro dos pombinhos. Achei a história muito original. Por isso que eu acho que a humanidade deu certo, porque há pessoas que conseguem golpear os clichês no fígado.
Ela fez como a música do Nando Reis " tornar um amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém"...

"Cuide-se"
O e-mail em que Grégoire Bouillier(o amado ) rompe com Sophie Calle ( nossa heroína):

"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer de viva voz. No entanto, vou fazê-lo por escrito.

Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a 'quarta'. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as 'outras', não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.

Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as 'outras'. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.

Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.

Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.

Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.

Cuide-se."

(revista Bravo!)
Snif ela não vem aqui em Findomundópolis!

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