segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bigrivertown no mapa do artista.....








Tudo que vai volta, certo? Ao menos é o que parece!!

Este final de semana tive notícia de que um pequeno gesto meu contribuiu(ainda que infinitesimalmente) para que Bigrivertown, mais especificamente o Esporte Clube Rio Grande, tivesse suas cores representadas em uma instalação de arte que está no Rio de Janeiro. A camiseta emprestou suas cores à obra do artista contemporâneo Julio Leite.

Há uns bons anos um amigo que é artista plástico(paraibano) e que coleciona estas peças( camisetas de pequenos times de futebol do interior) me pediu que lhe enviasse uma camiseta do Esporte Clube Rio Grande. Meu amigo encantou-se com as cores e a estética da camisa e, apesar de discordar quanto a este quesito, enviei-lhe com todo gosto.

Avessa praticante e declarada a futebol e seus correlatos, confesso que não diferencio um ponta esquerda de uma trave, muito menos presto qualquer atenção ao que vestem os jogadores ou às cores que anunciam os clubes. Isto só denuncia minha confessa pobreza de referências sobre o assunto e óbvia alergia aos amantes da gorduchinha.

Recentemente a camisa do Rio Grande foi utilizada juntamente com outras tantas de vários clubes para compor um intrigante painel de cores montado com fotos, que faz parte de uma instalação chamada"Zona de Fronteira"!
A obra resultou em uma construção estética de cores e padrões egressas do espaço singular de identificação de cada camisa, jogadas num outro contexto e colocadas em perspectiva.
Olha a teoria do caos movendo energias!!

Reproduzo aqui um pequeno trecho do texto de Kátia Canton sobre a obra:

"PORTA COR, PORTA SINAIS"
por Kátia Canton

Tomemos como ponto de partida a idéia de que o artista Julio Leite, ao escolher para seu trabalho um cenário anônimo, não determinado, utilizou um espaço, e não um lugar. Mas, por outro lado, pelo fato de ter transformado esse espaço anônimo numa moldura para abrigar um projeto conceitual e esteticamente organizado, o artista passou a territorializá-lo.

(...)
No trabalho de Julio Leite, as camisas de times de futebol portadas pelos corpos, registradas nas fotografias, mostradas em seriação ou projetadas nas paredes, tornam-se flashes, instantes, onde se alterna o anonimato do corpo comum com a singularidade do corpo que porta uma certa cor, um certo emblema ou número.
(...)
Aqui, o artista parece nos colocar mais uma questão: na repetição e no acúmulo dessas padronagens e cores, seriadas através das fotografias, seria possível apagarmos a idéia do futebol e dos times e focarmos apenas na dimensão formal e cromática, transformando aquelas imagens num grande quadro abstrato?

(...)
É interessante pensar que no projeto contemporâneo de Julio Leite, as duas leituras se tornam possíveis. Por um lado, as camisetas de futebol, mesmo sem o reconhecimento imediato dos times e pelo simples fato de conterem números, cores, marcas e emblemas organizados formalmente, tornam-se “porta sinais”, à medida as remetem à condição de uniformes esportivos.
Por outro lado, repetidas exaustivamente com a ajuda da máquina fotográfica, elas se tornam superfícies cromáticas, livrando-se momentaneamente de sua carga simbólica. É nesse momento que se tornam apenas “porta cores”.

Essa simultaneidade parece assinalar a coexistência de aspectos formais e simbólicos, entremeados e misturados na condição da obra de arte contemporânea

*Katia Canton é PhD em Artes Interdisciplinares pela Univesidade de Nova York e livre-docente em teoria e crítica de arte pela ECA USP. É professora-associada e curadora do Museu de Arte Contemporânea da USP e autora de vários livros sobre arte e histórias

Beijo
infinitesimal
da melind@

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