sábado, 25 de setembro de 2010

A Crônica


Andava pelas ruas de primavera sentindo o vento nada manso de bigrivertown. Ali aconteciam todas as coisas por dentro das coisas.Os olhos mudavam o sentido e perdiam a direção diante do invisível. E tudo continuava lá , latejando na pele das árvores e descascando sob a tinta das paredes.

As paredes não estavam lá para guardar, mas sim para revelar os compartimentos submersos em camadas de cegueira colorida, afogados placidamente em todo aquele país etéreo a descoberto.

O andar leve dizia que não havia pressa e nem tempo.Em algumas esquinas observava um olhar úmido ou a tranpiração da massa viva agitando corpos intensos.

Em outros cantos sentia o frio que interrogava discretamente a crônica. Muitas vezes a crônica não sabia responder. Era para isto que estava ali a penetrar espaços insólitos.

Procurava apenas um intervalo para respirar depois da vírgula. Poderia estar por entre as poeiras dos bancos quebrados o gosto que procurava, o sabor que inundaria sua boca de palavras e agitaria suas papilas com substâncias. Era a maestrina a tanger instrumentos com sua baqueta e despertar os sons que inundariam seus ouvidos, entupindo seus dutos com o volume das paixões.

Este era o estado de gravidade que procurava . O romance a prometer hormônios novos e arrepios. O susto a secar os lábios e retirar a fala. Só queria dançar com o flagrante ali mesmo e assim guardá-lo para sempre.


Aquelas calçadas presas nos cordões traziam as formas para o pensamento novo e fresco como a liberdade. A urina que restou da embriaguez da noite estava estampada no reboco quebrado . Uma mistura de tempos na esquina histórica decadente, o tempo da feitura e o da luxúria fétida.


Uma boca passava agitando os lábios finos enquanto ouvidos educados se calavam.

Namorou freneticamente com cada uma das palavras que desfilaram nuas pelo caminho elevado e por momentos as tomou.


O Sol veio de surpresa iluminando a crônica. Ela brilhou entre as sobrancelhas criando aquela expressão do encontro e ali ficou a admirar o espaço entre os espaços. Achou o sempre do poeta que é tanto quanto tudo.
beijo tudo
da Melinda

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