quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A história do final..


Então era o fim. Não parecia ter visto o chão se abrir ou a Terra tremer. Onde estava a hecatombe que o mundo deveria simular enquanto suas vísceras eram arrancadas e o seu peito estrangulava sem ar. Os olhares úmidos, as palavras imperativas e os toques aconchegantes. Tudo parecia para sempre. Tudo sempre parece para sempre. Todas aquelas emoções congeladas para viagem. Nada!



O Sol continuava reinando lá do alto cheio de si e o vento da primavera castigava com força e tentava contê-la. Queria que esperasse mais um pouco. Ainda não era hora de dizer adeus. Será que existe um momento para romper um elo da sua história? Para tirar uma palavra, uma conjunção aditiva e colocar um ponto final? É preciso lugar no texto para colocar o "fim"? Tem que haver introdução? Não dá para simplesmente colocar reticências...



A questão é que um elo, uma argolinha apenas, está segurando centenas de outras argolinhas e estas assim por diante. Quando retiramos uma vírgula podemos estar mudando o desfecho. E assim é quando rompemos com uma situação. Ela vai embora juntamente com todas as coisas boas e ruins de sua substância.

Poderíamos terminar as histórias com reticências. Elas forjariam a esperança ou ainda a expectativa de ter naqueles três pontinhos o benefício da dúvida. Uma indicação clara de que a história continua, de um outro jeito , em uma outra forma. A trama está lá.


As nossas histórias tinham que ter um final aberto. E claro, sempre uma nuvem de final feliz.


***

Esta é a história das coisas da nossa vida impermanente. Vivemos histórias que nos transformam definitivamente e quando de repente elas anunciam sua partida ficamos esperando um pouco de cumplicidade na fábula. Ficamos pensando que ainda é muito precoce falar em despedida e que o mundo ainda pode dar mais umas voltas. Mas o mundo é didático, ele avisa que não se deve fazer tempestade em um copo d'água. Que devemos engolir o choro, enfiar o sorriso apertado e seguir a trilha. Todo resto segue e nada vai mudar isto.



"Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta"! Assim as histórias entram e saem, deixam suas portas escancaradas e nem percebemos que elas sempre vão fazer parte do nosso enredo. Sentimos tanto ao perdê-las que nem notamos que as perdemos dentro de nós. Nem percebemos que estarão sempre lá. Mesmo que sejam agora apenas uma nova expressão no canto da testa ou um jeito novo de entortar os lábios.



As mãos que soltamos e os abraços que deixamos estão bem ali. As risadas que iluminamos e o sono que não dormimos são todos parte de nossos textos. São o inverso do avesso. Estão tingindo os panos em nosso baú ou foram vertidos em alguma lágrima de emoção ao final da tarde...


***

Nossas histórias de amor são bobas. Todas colocadas em perspectiva no tempo ficam sem graça, desbotadas, com o um olhar embaçado. Nossas histórias nos expandem e esparramam pelos outros para que possamos escrever outras novas e mais intensas. Talvez melhores, porque nossos pequenos causos de vida nos melhoram e lapidam porque nos extravasam em abundâncias.


Nossas histórias nos contam felizes, nos desenham em rabiscos e riscos . Elas segredam aos ouvidos que nos bebem. Revelam nosso jeito de cristal e cochicham...cochicham ....cochicham...
beijo extravasado
da melind@

Nenhum comentário:

Postar um comentário

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...