sábado, 9 de outubro de 2010

E não entendendo mais uma vez: nossas verdades escondidas


Quando eu estava na facudade eu tinha um colega que jogava cartas de tarôt. Sempre foi encantador de cartas e não é à toa que seguiu a profissão de "tarólogo" e faz muito sucesso. Diria que é uma espécie de terapeuta que utiliza as cartas para lecionar sobre esta matéria tão desafiadora que é a vida.


É óbvio que tirávamos muito proveito disto e fazíamos sessões de arcanos maiores . Mas o que me trouxe ao assunto foi uma crônica que li do Contardo Caligaris falando sobre o filme " Eu matei minha mãe".



Lembrei de imediato de uma postura de cartas que colocava no centro do jogo o deus "Pã" do baralho de tarôt mitológico. Esta carta representava justamente a servidão aos instintos da natureza. A ambiguidade de sentir vergonha e prazer .





Digamos que embora possamos temer nosso instinto, estamos conectados visceralmente a ele.

O diabo, como se caracteriza o deus Pã pela cultura cristã, representava algo que nos encanta e ao mesmo tempo nos assusta . É algo guardado às sete chaves, mantido seguro por nossas ações racionais e postiças. Está lá o nosso diabinho renegado ao inconsciente. Poderia dizer que são nossas verdades e negações.


O filme , que ainda não assisti , traz o universo da relação entre filhos e pais. E o autor lembra das fases que deletamos de nosso consciente e que fazem parte do processo do desenvolvimento de nossa identidade e autonomia como seres humanos.




Mas o que achei mais importante é enfatizar que aquela família ideal que acreditamos existir na casa do vizinho não existe e que todas as histórias, apesar de serem catalogadas pela psiquiatria, são únicas. Nossas relações com nossos pais na infância e adolescência e a de nossos pais conosco (destacando os dois enfoques) são decisivas na consagração do nosso indivíduo. De perto cada família é única e guarda seus silêncios e temores.


Acho muito prazeroso poder desnudar este pano e verificar que não somos apenas personagens bizarros de nosso próprio esquete.




Talvez por negarmos nossa fragilidade frente a todas as imposturas sociais que aprendemos ao longo da vida em família tenhamos tanta dificuldade em ser plenos.

Não dá para não usar comportamentos postiços, as armaduras sociais existem , mas conhecer e aceitar nossa humanidade e despreparo para enfrentar o próximo ato já é um alívio da sobrecarga do homem perfeito à imagem e semelhança de algum deus perfeito. Felizmente a perfeição não exite além do imperfeito.


Estamos no grande teatro e precisamos representar nossas cenas. Muitas vezes seremos tão kitsch quanto uma saia balonê que tive na adolescência, mas que eu adorava. O fato é que abandonando os preconceitos que temos conosco e com o outro estaremos em estado de liberdade para construir originalmente nossa história genuína.





beijocas atentas


da melind@

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