sábado, 11 de dezembro de 2010

Mimetizando a normalidade..

Depois de ficar uns dias aleijada porque fiquei sem conexão senti os efeitos de uma síndrome de abstinência destas letras que me expandem. Achei uma identidade ontem com esta sensação quando assisti ao filme "Medos Privados em Lugares Públicos", que é do francês  Alain Resnais.
Terminei o filme incomodada porque fiquei esperando algum momento em que espetariam uma agulha no meu fígado e eu vampirizaria dali as fortes emoções que me alimentam.
Fiquei refletindo sobre os nossos medos íntimos que, ironicamene, escapam pelas rachaduras  inclusive quando escrevemos. A esperança(ou ilusão) de obter a felicidade idealizada ali adiante, pronta e acabada como uma peça de arte ou uma paisagem não combina com nossos segredos intimos e desafiadores.
O filme se baseia nos medos íntimos que se escondem atrás das conveniências sociais, como uma barragem que precisa segurar as águas para que o objeto se concretize, no caso a sobrevivência no espaço público. Os medos não podem ser expressados no espaço público ( trabalho e ambientes sociais por exemplo) e os  personagens funcionam como cascas para carregar as angústias e dores secretas de cada vida pulsante atrás delas. As velhas máscaras. 
Somos hipócritas e mimetizamos a "normalidade" quase todo tempo porque há uma discordância orgânica entre a nossa ordem individual e a ordem social.
O medo da solidão e o desejo de encontrar ou estar com alguém são as duas forças mais presentes no filme. São seis histórias que se cruzam em matizes diferentes mas traduzem esta solidão que nos impomos e o mais incômodo ao assistir ao filme é que os protagonistas nos causam aquela sensação de frieza, como se  tivessem desistido de sua verdadeira natureza.
Eu tenho claro esta dicotomia com a qual convivemos e a dependência deste verniz que mantém a ordem social, mas fico secretamente  aliviada por saber que as verdades ainda estão ali, que nem tudo está perdido e que  por trás da  jogada ensaiada existe calor e humanidade.
Eu sou da época do Long play, mas o meu universo de referência acaba sendo ultra atual, somos mesmo criaturas estranhas. Como bem diz uma Clarice Lispector o que mais revela é o que cala.
beijo calado
da melind@

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