domingo, 18 de novembro de 2012

A fonte-24 horas

A fonte -parte I
Sempre achei de uma breguice sem precedentes esta história de ter uma fonte em casa. Cafona.Contudo, seguindo a linha de que tudo que não mata maltrata e como uma boa e meditativa aluna iogue, esta última semana me vi obcecada pela idéia de ter uma fonte.
Claro que eu não queria uma dessas fontes de pedra que lembram mini grutas como a grande maioria das que se encontram no mercado. Não, definitivamente não! Eu desejava comprar uma fonte que não parecesse com uma fonte e sim com um objeto  que disfarçadamente fizesse as vezes de uma fonte.
Uma ocasião fui fazer um retiro com meu grupo de Yoga em uma pousada que ficava junto a uma cachoeira. Lógico que durante o dia aquela água escorrendo era uma delícia, mas durante a madrugada eu fiquei sonhando em aterrar e ladrilhar aquela cachoeira, desligar aquele barulho enlouquecedor. Conheci o significado da expressão "tortura chinesa".
Enfim, decidi ir em busca da minha cachoeira particular. Andei como uma retirante pelas lojinhas de inutilidades e adornos. Encontrei descansos para colher em forma de bicho, suporte anatômico para cervical com música e vibro , luvas musicais, enfim, toda sorte de badulacos. Já estava quase conformada em ter que viver sem uma fonte até que lá estava ela , deslumbrante e imponente no mostruário de uma galeria de lojinhas. Shazan.  Era a última , preta, estilizada, design anti-fontes, vítrea, futurista. Uma sutileza. Uma passagem para o nirvana.
Não haveria o problema do barulho insano  com a minha fonte posmodernosaestroboscópica porque era  plugada à energia e poderia simplesmente ser desconectada.
A fonte - parte II
Muito bem, lá estava ela me fazendo feliz -  relaxante, transcendente e até reveladora de minhas singularidades - até o momento em que começei a captar um zumbido eletrônico nada transcendental que vinha junto com a minúscula corredeira. Pouco a pouco o pequeno ruído se tornou uma insuportável vibração..."estática"(lembra) e o meu refúgio do sansara acabou virando apenas um punhado de luzinhas e água parada.
A fonte - parte III- o final
Esta semana eu assisti a minha fonte ir passear no caminhão do lixo reciclável. Fiquei olhando enquanto a sacola ia em direção ao seu  destino de produto consumível obsolescente(24 horas), ou seja , virava mais um ítem no entulho absurdo de coisas inúteis que são adquiridas sem a mínima parcimônia a fim de preencher aquela enorme lacuna que vem não sei bem de onde...
 
beijo obsolescente
da melind@
 
 
 

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...