domingo, 23 de maio de 2010

Verdade Nua e Crua

Verdade nua e crua. Nada nos move mais do que a verdade, seja para promover um impacto renovador e gerar estímulos, seja para desencadear argumentos de resistência que pretendem apenas fazer permanecer no cômodo e claustrofóbico apêgo a uma "realidade".
A questão principal está em aceitar os fatos que são. Podemos omitir de nós mesmos nossa verdadeira natureza por uma vida inteira. O engano é a diferença entre estar presente ou ausente na própria vida.
Ontem, por exemplo, precisei me ausentar de mim mesma para reconhecer a franca derrocada de meus pares , e não estou falando de corrupção, miséria ou crimes ecológicos.
Enquanto eu cumpria meus trabalhos de Hércules( aquele filho bastardo de Zeus vitimado pela possessiva Hera) na Academia de Ginástica tive a prova de que ainda residem em mim os instintos mais violentos e pré-humanos que transcendem quaisquer protocolos.
Estava eu resignada gastando algumas parcas calorias sobre o "elíptico", investindo os últimos resíduos de força animal que sobraram do meu dia ( Corra Lola Corra-ainda faltam 20 minutos) e no pleno silêncio de meus alfinetes, quando uma mulher cruzou a sala e instalou-se em uma esteira próxima a mim.
Maquinalmente e sem tomar conhecimento da minha reles presença tomou o controle e apertou no "power" , dando vida aquele retângulo luminoso e barulhento- que eu abomino no coletivo- e não satisfeita circulou por vários canais , ampliou os decibéis e sintonizou num daqueles canais sofríveis de séries enlatadas americanos que juram que são engraçados . O seriado , em especial , tinha até uma platéia falsa deprimente(claque com risadas) para avisar o momento de achar graça. Um garoto gorducho, um pai retardado e um tio mau caráter. Fórmula manjada?Bingo.
Não é uma piada e não preciso dizer que não achei nada engraçado. O "power" ativou uma força assassina que mantenho represada por tras de um sorriso terno.
Respirei fundo e lembrei de Rousseau " O homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe". O que é um "boa noite" e "com licença". Besteira. Estamos em um mundo multifacetado, multicivilizacional, multitudo. Muito bem, ela tem todo o direito de dispor da TV, afinal está ali para ser usada e abusada. Se eu não me sinto confortàvel, trarei fones e blá, blá , blá.....Voltei ao equilíbrio e pensei o quanto sou um ser evoluído.
Não se passaram cinco minutos e a mulher se retirou , deixando o rastro de barulho berrante na minha cabeça.
Não cheguei a pensar em desligar quando lembrei da Lei de Murphy "não importa o quanto esteja ruim, sempre pode ficar pior...". Entrou um rapaz com cerca de vinte e indefiníveis anos-por conta da quantidade de cabelos e pèlos- e colocou-se bem ao meu lado na esteira.
Automaticamente deduzi que também não diria olá ou boa noite. (Preciso me acostumar com o fato destas coisas estarem fora de moda). O dito cujo tomou seu controle e passou a zapear ( sem pudor) e caiu naquele canal que iria acabar com todas as minhas esperanças . Sim, Sport TV!
Iniciei uma respiração relaxante e cerrei os olhos. Tentei construir um campo de força. Um pouco mais de volume. Lá estava o garoto com se estivesse sonâmbulo andando no mesmo lugar e com os olhos fixos no ponto brilhante e retangular que se agarrava à parede " O Zumbi, episódio II".
A estas alturas eu já pensava em algum armamento pesado o bastante para pulverizá-lo. Quem sabe nêutrons?
Alguns minutos se passaram e aquela palavra nefasta, superada apenas (na atual conjuntura) pelo refrão Lulalá , ecoou pelos rincões longínquos...
-Gooooooooool!
Penetrou como uma lança contundente no meu ouvido esquerdo. Perfurou meu invólucro simulador de civilidade e achei que iria esbofeteá-lo.
Foi salvo por uma legião de zumbis que adentrou o local e mesmo sem se conhecer começou um colóquio emocionado, troca de opiniões, amabilidades , palpites, desafios e comentários que só não eram mais insuportáveis do que os do Galvão Bueno.
Não faltou algum que se voltasse para mim e trocasse uma idéia sobre o "lance". Estava impedido! O jogador e eu também, de dar um basta naquela fanfarra . Breque. Esbocei aquele sorriso de plástico que tenho guardado para momentos em que amarelo.
Meu fígado estava ficando azul quando todos retornaram para suas atividades um a um.
Minha felicidade não chegou a estar completa quando um novo:
-Goooooooool trouxe de volta o bando alvoroçado de estranhos zumbis, novamente zum zum zum da minha desgraça e finalmente abandonei a esperança.
Um cartão amarelo para o cabeça de ovo. Um bate-boca no campo . Rola no gramado a gorducinha.
O episódio repetiu-se pelos vinte minutos seguintes cada vez que um jogador fazia qualquer m...até que eu concluísse o tempo de sacrifício e , resignada, abandonasse meus pares naquela cena degradante.
Que medo! Eu tenho que partilhar o planeta com eles.
Sempre soube que era estranha , mas agora tenho o diagnóstico definitivo. Eu sou um ET, mas não tenho uma bicicleta voadora.
Depois, como sou uma otimista- pensei- tive sorte. Imagina se fosse uma novela global com núcleo macarrone...Quem sabe .. o que teria feito...
Como diz a lei de Murphy "sempre pode ficar pior"
beijo extraterrestre
da melind@

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