domingo, 27 de junho de 2010

A Incoerência e a Arte Extemporânea..

Hoje eu acordei inspirada, talvez porque tenha aparecido um pequeno indício de sol após dois dias de frio(para mim sempre intenso, porque frio é frio) e chuva que se traduz em "tudo ficará bem"( mais molhado) e , considerando que Bigrivertown já é praticamente um alagado ao nível do mar e rodeado dele, isto é praticamente o diário de um sobrevivente(normal).

Mas, apesar destas pequenas conspirações diabólicas do imprevisível dia à dia, estou disposta a ser co-criadora deste cenário , algo a ver com um tal de livre-arbítrio. Eu acho do meu dia o que eu quiser e ponto.

Tem uma frase que diz que fecha-se uma porta abre-se uma janela, pois então eu acrescento que se não abrir a gente arromba. Parece a declaração de um gângster, mas é apenas uma frase ruim.

O que eu queria falar mesmo é sobre falar, tentar entender como tudo funciona e montar o quebra-cabeças de letras de forma que tudo faça sentido. Se é que existe um, pois como dizia o genial físico Albert Einstein" eu não sei se louca sou eu ou são os outros" e por essas e outras vou despejando tudo por essas janelas arrombadas .

Já me resignei ao fato de que não sou nenhuma barda, mas também não sou uma esteta,portanto fico mais uma vez no limbo, junto com os noventa por cento da população brasileira que faz ruído na cadeira enquanto não entende o que se passa a sua frente.

Eu explico, li um texto outro dia falando sobre arte contemporânea( meu conhecimento de arte é praticamente aquele que obtive no colegial) e do quanto as pessoas comuns temem a arte contemporânea(arte pop.), talvez por falta de vivência da própria . Nunca tinha me dado conta do fato de que esta mesma arte, teoricamente falando, precisaria de uma certa dose de sinergia com sua matéria-prima( a sociedade contemporânea) e que esta (sociedade) é aquela que sai das exposições(quando vai) demonstrando evidente estranheza sobre as obras( do tipo:isso qualquer um faz!).

Não havia percebido o óbvio, o distanciamento da arte , dos curadores e críticos da sua matéria prima( a sociedade). Claramente, não existiria arte sem sociedade certo? Somos fruto de uma cultura e esta uma construção a partir de um grupo social. Sendo assim, estaria faltando alguma peça neste quebra-cabeças.
Mas o que seria esta arte contemporânea? Segundo a wikipédia um período artístico que surgiu na segunda metade do século XX e se prolonga até aos dias de hoje.Ainda é muito vago...
Ninguém tem dificuldade em perceber a beleza de artistas clássicos e ou modernos notórios porque está centrada na estética e nas referências que todos nós aprendemos a ter, nosso conceito do belo. Já o contemporâneo(não menos belo) está focado na leitura do comportamento, em outro tipo de estética, na crônica visual ( poderia ser? que medo!). Portanto fica muito mais complicado partir de um conceito novo de arte com o qual a maioria das pessoas não tem intimidade. É uma abordagem totalmente recente e portanto é necessário ilustrar esta sociedade sobre si mesma. Há um novo repertório de questões e análises críticas. ( o delírio)
Parece que há um certo temor à vulgaridade ou à "popularização" de algo que até então era tido como elitizado e distante. Como se arte fosse apenas coisa de artista.
No mesmo gancho do contemporâneo a blogosfera está revelando inúmeras e cada vez mais criativas formas de expressão, criticadas com ferocidade (é bem verdade) por alguns que ainda se sentem no topo da pirâmide. A mesma idéia que limitava a produção literária à esfera profissional, o jornalismo aos redatores, repórteres, fotógrafos e por aí vai.
As novas ferramentas da comunicação admitem do genial ao ordinário , a popularização destas novas formas de manifestação que se originam nas inúmeras tribos sociais. Autorizam o impensável.
Uma adolescente inglesa que grava vídeos para o youtube sobre maquiagem e vira marca de produtos de beleza, um garoto que envia vídeo clipes caseiros e é encontrado por um caça talentos de uma gravadora, um jovem que monta um blog como forma de terapia e acaba virando livro e referência de moda, um cartunista que publica seus trabalhos num site e ganha unanimidade. Já existem até um museus de arte digital. A amiga de uma amiga fazia trabalhos combinando fotos digitalizadas de coisas e objetos(como hobbie) e acabou se classificando para expor em um museu de arte digital.
A blogosfera oferece o diferente individualizado ou especializado , a possibilidade de perceber um novo enfoque da "arte" e da construção de uma contracultura às avessas.
De oficinas, performances e ensaios à catálogos de obras clássicas, toda sorte de construções que o engenho humano é capaz de inventar está disponível nos milhares de sites informativos divulgados democraticamente para quem quiser acessar.
Em outras palavras uma maneira de fazer tábula rasa com o que aprendemos a apreciar do ponto de vista do esteta quanto à pintura, arte gráfica, literatura, música, enfim, toda esta métrica estabelecida, este modêlo preconcebido e que está ruindo ( no bom sentido) e libertar o olhar para o original, o experimental e o desconhecido.
É possível aprender muito com as singulares e inesperadas manifestações que estão disponíveis(a um click) ao bom investigador do mundo e especialmente de si mesmo. O criador da wikipédia, Jimmi Wales afirmou recentemente em uma entrevista que o grande lance da web é a colaboração,a contribuição,partilhar conhecimento e informação.
Uma legião de cronistas de oportunidade e romancistas da hora está ao alcance dos olhos. É só degustar.Acho que a arte é , acima de tudo, libertadora e incoerente, como somos todos nós.
Pegando outra ponta solta lembrei que em comentada e recente matéria o grande poeta e escritor Ferreira Gullar ( encerrando a presente digressão sobre o entender a arte nos entendendo ) diz que ... "o poema (para ele) não tem plano, é uma grande aventura do como fazer, a página em branco que significa todas as possibilidades abertas, infinitas. O poema é cura, não doença, escreve para ser feliz.... é a alquimia da dor em alegria estética..diz que a arte inventa a realidade e que shakespeare ( adorei) inventou a complexidade da alma humana...
Gullar diz ainda que a " a poesia é uma dessas criações , no terreno da fantasia, que existe porque a vida não basta..."
Na mesma entrevista o poeta Ferreira Gullar cita um de seus antigos professores acerca das grandes revoluções políticas " A Revolução desmonta uma coisa que os séculos criaram" e isto leva muito tempo pois nenhuma mudança se opera aos saltos. Pois é, os séculos nos trouxeram até aqui e nunca deixamos de nos surpreender com os inumeráveis reveses histórico-cuturais que se operaram.A revolução tecnológica, midiática, cultural (e social) que estamos vivendo está derrubando conceitos e expandindo fronteiras , portanto reinventando a arte, o que é a marca do contemporâneo.
Estamos sempre de volta ao começo, no limiar de nosso inteiro desfazimento...
beijo extemporâneo
da melind@

Um comentário:

  1. É! Tem mesmo muita coisa boa e muito lixo, como em todos os setores. É preciso garimpar...
    abraço

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