quarta-feira, 28 de julho de 2010

Descoberta

Ela ainda não entendia o porquê de toda aquela adrenalina. Simplesmente começou a anotar num Blog. Assim, depois de romper com uma situação. Decidiu fazer um novo pacto. Um pacto com a Palavra! Achou que aquilo fosse uma atitude inconsequente, que iria cansar logo e acharia tudo uma bobagem. Afinal nunca tinha persistido em outros projetos loucos. Seria mais um capricho . Um lance de descoberta que logo ia virar um endereço vazio. Tipo "ops o internet explorer não conseguiu localizar ..." Os dias foram passando e os verbos eram imperativos demais. Cada vez sentia-se mais atraída por aquele instante . Aquele de abrir uma nova janela e cuspir seus pensamentos no teclado sem pudor. Passou a cultuá-lo. Aquele Ato. Como na sequência de uma peça teatral. Era quase uma liturgia. Era uma conversa com sua fantasia . Queria eliminar os gerúndios. Era um monólogo se desenrolando de dentro dela, para além de seus ouvidos obstinados. Reencontrava personagens de livros e crônicas. Todos eram experimentados. Revisitava histórias. Assim sem promessas.Tinha licença para revelar os segredos que não conhecia. Credenciava-se agora para interpretar as evidências. Aos poucos foi abandonando a trava de principiante e apaixonando-se pelo estado de coisas que brotava daquela condição. Queria contar seus truques . Flertar com o vexame. Escrever era libertador. Acordava com as palavras andando sozinhas dentro dela. A febre não passava e ia ficando inquieta, ia sufocando de tantas palavras ruidosas . Quando não apareciam ela ficava agitada do mesmo jeito , carecia pensar em algo para satisfazer aquela inquietação barulhenta que podia ser auscultada latejando nas pregas vocais e vibrando na sua faringe. Estava viciada nas palavras. Necessitava delas assim mesmo, sem ser meticulosa, sem cautela . A desordem das palavras a ordenava . Precisava delas. A evasiva das idéias a preenchia e alegrava. Tinha que se entregar ao faz de conta. Tinha que se repetir. Deixar que suas personagens tomassem conta da caricatura que ela sustentava. Escrever decifrava a trama e desmascarava a farsa. Pensava desde criança em como o mundo podia continuar tão vivo e acontecer enquanto ela estava em casa . Como tudo poderia acontecer sem que ela contasse ? Mesmo que fosse para ela mesma. Seria como se estivesse morta. Como se não se importasse. Enfim, respondia às perguntas que observavam as pessoas silenciosas passavando pela rua. Estava autorizada a explicar aquele olhar que ontem à noite parou no seu ou mesmo a representar a tristeza que percebeu nos lábios calados da dor. As respostas estavam ali. Não importava o que escrevia . Não importava se o texto fosse ruim. Idéias não se repetem.Como a vida. Como Palavras enfarpeladas... São infinitas. Escrevia porque não sabia pescar e nem colecionava nada. Não conhecia um jeito melhor de fotografar a vida. Descobriu que aquele vício era ela. Ela era o vício e a cura.

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...