quinta-feira, 29 de julho de 2010

AmEaÇa

A sequência de assaltos às residências aqui na minha redondeza está me tirando o sono. Literalmente. Penso que durmo enquanto escuto os barulhos da casa. O farfalhar da coberta. A respiração. A folha que cai da Pata de Vaca sobre o muro ao lado. Sobressaltos enquanto o vento sacode uma janela . Atenção aos passos que se arrastam longe na calçada. Tudo pode ser o início de um pesadelo. De algum lugar a razão pensa em qualquer atitude de defesa. Para onde correr?
Como podemos viver assim? Não há limites para o banditismo.São destemidos os indivíduos que perpetram crimes desta e todas as ordens. São intrépidos e desvestidos de alma. Não podem mais acreditar em suas vidas. Estão dispostos a qualquer enfrentamento. Uma câmera, um cachorro. Não existem fechaduras indecifráveis. Estão armados de ódio. Estão autorizados pela total falta de limites.
Uma janela quebrada, um alarme soando, dois. Sensores, trancas, grades. Não importa se todos acordam. São alguns minutos o bastante. Recolhem qualquer coisa que possa ser parte do escambo pela droga. Qualquer coisa que possa ser negociada com a corrupção do submundo. Fazem disso seu "ofício".
Do outro lado restam pessoas esvaziadas. Tomadas nuas no meio da noite . Arrancadas de seu sono pelo medo. Corações acelerados. Adrenalina e calafrios. Por seus filhos chorando. Cães latindo furiosos. Nada obstaculariza o intento . As pessoas estão sós. Estão abandonadas com suas grades, seguros, cães e todos os pontos de alarme da casa. Estão por sua própria conta, assim como os garotos perdidos que estão do outro lado da janela.
É um momento de atitudes extremas. Estamos todos em uma guerra velada. Uma peleja pela sobrevida que ainda nos resta diante da ameaça que ronda pelas ruas . Pode-se ouvir um tiro. Pode ser que amanhã no jornal esteja estampada a foto de alguém com uma cara boa. Podem estar as iniciais de um moleque que também jogava bola num campinho aos Domingos. Ficamos entrincheirados até que o tempo nos diga que ainda não foi desta vez. Até que se rompa a expectativa.
Não sei o que sentir. Não há lado para escolher. Fico aqui disfarçando meu medo e vasculhando uma forma de fugir.

    Fio  Entrei no absoluto e simples vagar do tempo. Invadi os espaços aparentes que reservei para um dia. Olhei minha própria fa...